Quem precisa de heróis? | Felipe Gruetzmacher

 

A megacorporação Chikara (“força” em japonês) obtém lucros fabulosos com a venda de cosméticos e um marketing muito agressivo. O problema é que os cosméticos afetam a saúde dos clientes a longo prazo e com impactos ambientais severos para o meio ambiente.

Apesar de todo o dinheiro ganho, o fundador de Chikara precisa lidar com a pressão governamental, grupos ambientalistas e consumidores descontentes. Um dia, Diego, o fundador, é exposto a uma dose maciça de resíduos químicos resultantes da fabricação de seus próprios cosméticos.

Milagrosamente, ele ganha força sobre-humana. Capacidade de voar, alcançar velocidade da luz, invulnerabilidade, juventude eterna e imortalidade. Agora, ele passa a agir como um herói, um vigilante urbano e tenta até ajudar a polícia a prender alguns assaltantes, bandidos e criminosos.

Inicialmente, Diego acredita que a marca corporativa dele pode ganhar maior credibilidade se ele agir como um verdadeiro herói.

Ele percebe que só prendendo alguns poucos assaltantes fará pouca diferença para o mundo. É um heroísmo superficial que não toca os reais problemas da sociedade. Ele é proibido de agir como um vigilante urbano, pois só a polícia tem permissão legal de usar a força contra criminosos. Para piorar, se Diego entrar em contato físico com cosméticos criados pela Chikara, ele perderá seus poderes recém-adquiridos.

Assim, argumentos dos grupos ambientalistas e do governo contra a megacorporação de Diego ganham cada vez mais espaço na mídia.

Será que os problemas do mundo serão resolvidos através de força bruta? Não! Os desafios mundiais mais urgentes requerem inteligência, estratégia, coordenação e uma economia humana.

Vamos examinar os insights do livro “Como funcionam os mercados”, de Alvin Roth, ganhador do prêmio Nobel de Economia:

Insights:

O mercado precisa ter regras:
1. Muitos participantes que queiram fazer transações e negócios. É a chamada densidade de mercado.
2. Regras específicas para que os negociantes saibam a hora de negociar e o tempo em que o mercado fica aberto.
Por exemplo: A Bolsa de Nova York é um mercado de ações. Abre e fecha num horário que traz segurança e regularidade para os investidores.

• O ‘congestionamento’ é um termo técnico que designa mercado com opções demais.

Por exemplo: muitos candidatos para uma única vaga de emprego podem ser sinal de problema, pois existem opções demais para serem avaliadas. Tudo isso consome recursos, tempo e dinheiro da empresa contratante.

Por isso, não adianta só o candidato ao emprego ser bom: ele precisa estar interessado na vaga e vice-versa.
• A combinação envolve interpretar os próprios desejos e os desejos dos outros. É interação humana pura! Na linguagem da economia, essa interação requer estratégia.
• O mercado bem desenhado torna a participação segura e simples.
• Outra estratégia importante é o uso de commodity:

A commodity é um produto padronizado. O trigo é um exemplo, pois o comprador consegue adquirir porções de trigo de igual espécie, tipo e variedade. Um mercado que negocia commodity é mais denso porque a padronização facilita a compra, o que acaba tornando-o denso.

Assim, o comprador só precisa se preocupar com o preço, diferente do que acontece na combinação entre empresa contratante e candidato, pois há mais variáveis para analisar.

Logo, existe uma tensão entre padronização e diferenciação.

Mesmo que o produto commodity seja mais fácil de ser vendido, o vendedor quer que sua oferta seja diferente e inesquecível para o consumidor.

Os vendedores gostam de comercializar em mercados densos de compradores, mas não gostam de serem trocados por outros vendedores (concorrência).

A distinção entre commodity e diferenciação não é tão nítida assim. Existem diversas variações.
Posso, por exemplo, comprar um pão (commodity) só porque a padaria vende a minha marca preferida (diferencial competitivo).
• A internet ajuda a combinar diversos vendedores com as necessidades específicas dos consumidores.

Mercados interagem e evoluem: um marketplace não poderia existir sem a internet.
Sem computadores e smartphones, a internet não existiria. Logo, o market design precisa ser denso, evitar congestionamentos, ser seguro e simples de usar.

O bom funcionamento do mercado depende da proposta atual e da proposta futura.

Por exemplo: na juventude, uma pessoa tem inúmeros contato com pessoas do sexo aposto, pois está em processo de socialização na escola. Quando amadurece, precisa procurar novos espaços de socialização para encontrar um par e casar.
• Cuidado com mercados onde participantes fazem negócios cedo demais ou depressa demais!
• A velocidade e a urgência de se fazer combinações podem prejudicar escolhas.

Ofertas precisam ser feitas dentro de um prazo disponível (velocidade e densidade suficientes).
• Bons mercados requerem confiabilidade e credibilidade.
Se eu confio no comprador, o comprador confia em mim (reciprocidade de interesses).
• O mercado só funciona com sinais e informações para compradores e vendedores avaliarem ofertas. Com as mídias sociais, houve um aumento substancial de mensagens. É difícil diferenciar um e-mail importante do e-mail que precisa ser respondido só com um “ok”.
É o fenômeno do congestionamento de informações no mercado: são palavras baratas.
• Propostas boas apresentam sinais de atratividade.

Por exemplo: no mundo animal, a cauda longa do pavão atrai fêmeas.
A lógica é simples: ambos os lados precisam demonstrar interesse através de bons sinais.
Isso significa confiabilidade e credibilidade. É interesse mútuo.

Aplicações e estudos de casos
Mercados bem desenhados podem:
a) Simplificar a conexão entre talentos e empresas contratantes. Será que isso significa o fim do desemprego e dos vieses inconscientes que prejudicam minorias de alcançar oportunidades profissionais?

b) Reduzir a mortalidade de empresas já que o contexto requer confiabilidade e segurança.

c) Regras justas para todos os perfis empresariais e modelos de negócios.

d) Densidade, velocidade certa e horários adequados para o funcionamento garantem oportunidades para todos os empreendimentos se conectarem com consumidores.

e) Inteligência artificial e algoritmos a simplificar e agilizar combinações, o que pode:
• Trazer benefícios e agregar qualidade de vida do consumidor que pode contar com propostas comerciais bem ajustadas ao contexto dele.
• Evolução da tecnologia e modelos de negócios.
• Socialização de pessoas e combinação entre pares, o que facilita casamentos e encontros românticos.
• Regulamentação governamental inteligente para agregar eficiência, simplicidade e inteligência nos desenhos de mercado. Será o fim da corrupção?
• Profissionais da área ESG “combinados” com demandas ambientais. A resolução das dores de um planeta castigado pela poluição depende de alinhar talentos.

 

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Felipe Emilio Gruetzmacher  é formado em gestão ambiental, educação ambiental e se especializou em copywriter através de muitos cursos online, muita prática e dedicação. Autor na Comunidade EA é um dos mais lidos na plataforma. Tenta decifrar os enigmas do trabalho humano, até porque essas questões podem mudar os rumos da sociedade humana e acelerar a marcha da história rumo à Utopia.

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