Velocidade de cruzeiro, mas cuidado para não derrapar nas curvas | Mariana Piana & Gabriel Teixeira

 

Olá, leitor da EA! 

Voltamos para contar para vocês mais uma etapa de nosso sabático! 

Somos Gabriel e Mariana e fizemos uma pausa em nossas carreiras corporativas para viajar por um ano. Nos nossos dois primeiros textos, abordamos o planejamento e o início da nossa jornada. As decisões estratégicas de onde estabelecemos nossa base e qual foi a lógica para o nosso roteiro, buscando sempre evitar as estações chuvosas e frias.

No começo de novembro, chegamos de avião a Bangkok, no que seria o último voo de mais de três horas pelos próximos seis meses, animados para desbravar o Sudeste Asiático, região que sonhávamos conhecer há anos. Essa região é também muito procurada por viajantes mochileiros, devido aos seus preços mais baixos em relação à Europa e América do Norte. A capital tailandesa nos mostrou a influência do budismo na região. 

Essa influência perdurou conosco por uma grande parte das nossas próximas semanas, e é difícil não correlacionar essa influência com a gentileza e o pacifismo da população de toda a região. 

Outra característica de Bangkok, suas altas temperaturas e umidade, tornava os dias difíceis e cansativos, e nos policiamos para sempre manter a hidratação em dia e priorizar os passeios noturnos.

Roteiro Caracol

Roteiro Caracol

Assim, iniciou-se o roteiro caracol, uma maneira que encontramos de visitar tudo que queríamos de uma maneira mais ou menos linear, minimizando aviões e priorizando transportes terrestres ou marítimos e fluviais. Seguimos de ônibus até a cidade de Siem Reap, no Camboja, o calor da região não deu trégua. 

Como a visita no maior templo religioso do mundo não podia ficar para a noite, iniciamos às 4h da manhã para fugir do calor. A capital cambojana veio em seguida, e conhecemos os horrores do genocídio do regime Khmer Vermelho. Logo percebemos o ritmo que se estabelecia, de mudança de hotéis a cada três dias, e na primeira cidade do Vietnã, Ho Chi Minh, uma crise de cansaço bateu forte.

É difícil falar sobre os aspectos psicológicos de viver uma vida de nômades digitais e turistas ao mesmo tempo. Nossa renda extra trabalhando com geração de conteúdo e marketing digital possuía uma rotina que nos obrigava a dividir parte do nosso dia com conhecer os lugares que queríamos e planejar os próximos passos da nossa rotina. 

Era preciso pensar em roteiro, editar e narrar vídeos, escrever textos e legendas, selecionar fotos, planejar os passeios do dia seguinte e os próximos hotéis e transportes, que eram sempre reservados com pouca antecedência para nos permitir flexibilidade. 

Todas essas atividades tomavam parte da rotina, que aliada a uma autocobrança em conhecer o máximo possível daqueles lugares maravilhosos, ao mesmo tempo em que sentíamos um cansaço tão grande, quanto a complexidade dos túneis Cu Chi dos vietcongues da Guerra Americana, foi o estopim de uma paralização para reavaliação do nosso ritmo.

Pausa

Controlar seu ritmo é uma parte muito importante de uma viagem tão longa como um ano sabático.

Ficou claro a partir de Ho Chi Minh que precisaríamos nos dar dias de descanso, mas ainda assim, completamos o longo percurso no Vietnã e todas as suas inúmeras atrações em ritmo intenso devido ao visto para apenas 30 dias. 

O frio que fazia no norte do Vietnã em meados de dezembro e a deliciosa gastronomia com destaque para o Bún Chả (Hanoi) e Cao Lao (Hoi An) ajudaram um bocado, e a partir do Laos reduzimos um pouco o ritmo. 

A experiência de viver como os primatas gibões em cipós e copas de árvores na floresta do Laos e as incríveis cidades budistas de Luang Prabang, no Laos e, Chiang Rai e Chiang Mai ,de volta à Tailândia, tomaram nosso princípio de janeiro e prepararam o terreno para as praias tailandesas que viriam a seguir.

Comunicação

Na Ásia, é fácil de se comunicar de maneira básica, mas difícil estabelecer conexões profundas.

A comunicação com o povo asiático tem uma grande barreira linguística. É difícil ultrapassar a superficialidade nas conversas e se conectar realmente com eles, entretanto, seu inglês básico é mais do que suficiente para as necessidades turísticas. 

Por muitas vezes durante a viagem refletimos sobre os porquês de não termos no Brasil o mesmo nível, mesmo que superficial, de comunicação em língua inglesa e o quanto isso atrapalha nossa indústria turística. 

A Tailândia, de longe, é o mais preparado e completo dos países da região em infraestrutura turística. Krabi e Koh Phi Phi têm paisagens que deveriam ser priorizadas para quem vai pela primeira vez para a região.

Das praias tailandesas, fomos para a Malásia e a religião muçulmana apareceu pela primeira vez na região, numa mistura com a influência chinesa que gera coisas bem interessantes. A arte de rua, a gastronomia e a modernidade de George Town (e Penang), Kuala Lumpur e Singapura nos ajudaram a reconectar um bocado com uma atmosfera mais cosmopolita que não sentíamos desde Paris e que fazia muita falta. 

Um cinema em Kuala Lumpur e, um restaurante estrela Michelin, custando 4 dólares são, às vezes, sopro de ar fresco para ex-moradores de selvas de pedra.

Grandes cidades

Na Ásia, as grandes cidades, às vezes, são um sopro de ar fresco.

A ilha de Bali e o soberbo arquipélago das Filipinas trouxeram inúmeras primeiras experiências. Mergulho com tubarão-baleia e sardinhas, surfe, saltos em corredeiras, sempre equipados com uma motinha alugada e trocando de hotel de três em três dias, exercitando a capacidade de carregar malas, negociar preços com tuk-tuks e manter o autocontrole com as compras, especialmente em Bali com as belas e baratas peças de artesanato, roupas e jóias devido ao escasso espaço em malas. 

Passamos bastante tempo nas Filipinas, pois esta garante 60 dias de visto contra os 30 dias da Indonésia, o que foi uma faca de dois gumes, visto que as praias filipinas são tão espetaculares quanto é modesta sua gastronomia. Este trecho final no Sudeste Asiático envolveu mais aviões e de Cebu – a segunda cidade das Filipinas – voamos para Seul, capital sul-coreana.

Em Seul, testemunhamos a vibrante cultura sul-coreana, com uma metrópole que tem mais cara de ocidental do que oriental e que cultua seus ídolos pop de uma maneira tão intensa que não causa estranheza as afirmações de que K-Pop é política de estado. 

A desigualdade social que Parasita nos mostrou em 2020 não é fácil perceber em uma semana visitando pontos turísticos, mas a sensação que ficou após uma semana é que ela está lá. 

A relação dos jovens com o trabalho, uma sociedade um tanto quanto individualista e a hierarquia da Samsung como principal empregador do país causam uma dinâmica em que a depressão entre jovens aumenta muito e até um auxílio para que os jovens saiam de casa é pago pelo governo.

Nossa última etapa asiática se deu em Hong Kong e uma derrapada no planejamento gerou despesas inesperadas e uma certa antipatia com a região administrativa da China. Não pudemos ir à China continental porque o visto tem que ser tirado no Brasil, por isso resolvemos nos contentar com Hong Kong, que inclusive foi uma escolha econômica para saída da Ásia e retorno à Europa. 

Chegamos na cidade poucos dias antes do feriado do Dia Internacional do Trabalho e que o conceito de internacionalidade inclui China e Hong Kong. O levantamento das últimas restrições de turismo da China continental alguns dias antes fez desse feriado muito visado pela população chinesa, e a lei da oferta e demanda teve como efeito nossas reservas de hotel caírem visando preços mais elevados. Outros hotéis, piores e mais caros, estadia em Macau (a outra região administrativa chinesa na região) acabaram sendo soluções para termos um teto na cidade que estava abarrotada de turistas chineses.

Nossa jornada pela Ásia nos fez refletir profundamente sobre a importância da pausa não apenas na carreira, mas também na nossa rotina diária. À medida que viajávamos, enfrentando desafios, explorando culturas diversas e vivendo experiências únicas, percebemos que as pausas semanais, o descanso e o tempo de ócio eram ferramentas cruciais para recarregar nossas energias. Essas pausas nos permitiram assimilar os aprendizados e as emoções de nossas aventuras, reavaliar nosso ritmo e continuar nossa jornada com renovado entusiasmo.

No nosso próximo e último texto, contaremos como foi nosso período final na Europa, onde inovamos para passear por cidades incríveis sem gastar muito e como voltamos ao mercado de trabalho.

 

Relato 1. Clique aqui.

Relato 2. Clique aqui.

 

para cap

Mariana Fauth Piana é de Florianópolis onde viveu até os seus 26 anos. Morou em Londres, Porto Alegre, Campinas e Barueri. Administradora por formação, profissional de RH por profissão e viajante por paixão. Trabalhou como executiva de RH em players de varejo como C&A Brasil e Makro, Adora fotografia, história, pessoas e compartilhar suas experiências.

Gabriel Teixeira é de São José dos Campos, viveu lá até os seus 18 anos, quando se mudou para Campinas e lá cursou Engenharia Química (Unicamp). Trabalhou por quase 13 anos, na Mars Brasil Petcare, em posições de vendas. Adora saber um pouco de tudo. Morou em Porto Alegre e Barueri e tem o Palmeiras o acompanhando desde sempre.

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