FEMTECH | Márcia Cunha Shimizu  

 

EA – O empoderamento feminino chegou à menopausa?
Márcia Temos acompanhado cada vez mais mulheres sendo protagonistas e abordando temas que, anos atrás, ainda não eram discutidos, principalmente quando são temas envoltos a tabus. Se olharmos desta forma, acredito que sim, o empoderamento feminino chegou à menopausa. Se temos uma fase na qual a mulher é impactada diretamente na sua rotina, na sua saúde e pensando em igualdade de gênero, é justo olharmos e darmos informação e suporte para que ela consiga vivê-la, amenizando os impactos que isso gera em sua vida e consequentemente nas suas relações sociais e de trabalho.  

EA –   A proposta da sua femtech, propõe que níveis de bem-estar neste ciclo de vida da mulher?
Márcia Realizamos uma pesquisa no início do projeto da Plenapausa, com mulheres que estavam no período do climatério e descobrimos, por exemplo, que 41% não sabiam identificar os sintomas iniciais da menopausa, 67% não sabiam diferenciar pré e pós menopausa e 68% tinham grande dificuldade de conviver com os sintomas e não sabiam como amenizá-los. Ressalto que essa pesquisa foi realizada com mulheres de todas as classes sociais e escolaridade, um grupo misto. E isso nos fez perceber que a desinformação era grande, em todos os níveis. Ficou claro para nós que não adiantaria uma proposta de solução sem antes trabalharmos a informação. 

EA – Qual metodologia que utilizam?
Márcia Desenvolvemos um protocolo, com ajuda de profissionais da saúde, e disponibilizamos ele em nosso site, através de uma avaliação que indica em qual fase da menopausa e o nível de sintomas que esta mulher se encontra.  A partir daí, ela passa a olhar de forma mais clara e objetiva pelo que está passando, e tem condições de optar por tratamentos e fazer escolhas. Nossos próximos passos são: continuar gerando informação e acompanhar essa mulher, provendo serviços e soluções ao longo de pelo menos 15 a 20 anos, pois hoje os sintomas começam normalmente a partir dos 42 anos e vão, em média, até os 60 anos.   

 “Olhamos para o bem-estar na menopausa e falamos de prevenção. Essa mulher hoje está com 50 anos, então ela terá, no mínimo, mais 30 anos pela frente, olhando para sua expectativa de vida e que ainda tende a crescer, passaremos 1/3 de nossas vidas em menopausa.”  

EA – Como surgiu a idealização de sua femtech?
Márcia Em fevereiro deste ano, entrei em um processo de aceleração de startup com um projeto inicial olhando para medicina integrativa. Mas, em uma das apresentações iniciais, fui desafiada a olhar para um nicho que tratasse da saúde da mulher, pois minha fala era latente neste lugar. Eu dizia que o projeto havia nascido para levar “melhoria e qualidade de vida para mais mulheres”, mas naquele momento se tratava de um projeto mais generalista. A partir desse feedback, fiz um exercício de falar com mulheres sobre temas diferentes, tendo como base a roda da vida, e tentando identificar para onde eu poderia olhar.

Logo numa primeira conversa, ouvi de uma amiga do mundo corporativo que ela se encontrava em um momento muito difícil, pois estava na menopausa, com praticamente zero de hormônios, e tendo que lidar com filhos adolescentes em casa exalando hormônio. Escutei e quis saber mais sobre o que ela estava me contando. Isso me chamou muita atenção e, a partir daí, todas as demais conversas que tive foram em torno do tema menopausa.  

 “Fiz pessoalmente 20 entrevistas com mulheres que estavam nesta fase e depois com mais de 100 de forma digital. Assim surgiu a Plenapausa. A pesquisa validou uma dor muito forte que identifiquei já naquele primeiro relato. A partir daí, foram meses de aprofundamento e estudo, até lançarmos nosso site e avaliação.”     

EA – Como funciona o seu ecossistema de parceiros na Plenapausa?
Márcia Neste momento, ainda estamos desenvolvendo e estudando como as parcerias irão acontecer, visto que todos os nossos passos são validados com base em pesquisa e no retorno das mulheres que já fazem parte da nossa comunidade pelas redes sociais e contatos através do site. Então, tudo está sendo desenvolvido com base na identificação dessa demanda. Hoje estamos conversando com empresas de soluções de saúde, desenvolvimento de produtos e profissionais da área médica. Estamos olhando todas as possibilidades.  

EA – A chegada da menopausa ainda é um tabu no contexto da fertilidade feminina?
Márcia Identificamos que a chegada da menopausa ainda é tabu em alguns contextos, principalmente por se tratar de algo que ainda é muito relacionado com o “envelhecer”. Ouvi durante a pesquisa que “falar de menopausa é dar atestado de idade”, veja como isso é forte! Realmente, deixaremos de ser férteis e o fim da nossa reserva ovariana é marcada por esse período. Sempre digo que o processo da menopausa começa no primeiro dia da nossa menstruação, lá com 11, 12 anos, e termina no dia seguinte após ficarmos 12 meses consecutivos sem menstruar. Durante esse período, temos a menarca, os ciclos menstruais, a gestação e, enfim, a menopausa propriamente dita. Note que essas fases também estão sendo trazidas para a pauta agora. É recente falarmos desses temas, que também ainda são vistos como tabu.  

 “Acredito que estamos construindo um caminho diferente para as próximas mulheres, e espero que cada fase seja vista como algo natural e motivo para festejar, pois quer dizer que estamos tendo mais tempo de vida, e não ao contrário.” 

EA –  Tem também a questão relacionada à perda da sexualidade feminina nessa etapa da vida da mulher. Como lidar com tabus ancestrais?
Márcia O tema sexualidade é muito amplo, e não consigo relacionar menopausa com a perda da sexualidade feminina. Nosso slogan inclusive é: a menopausa é uma vírgula e não um ponto final. É fato que, com a queda hormonal proveniente desta fase, algumas mulheres podem ter uma queda da libido, mas temos alternativas para isso. Hoje em dia, temos tratamentos com hormônios, temos também opções naturais muito boas, isso aliado com atividade física, uma boa alimentação, é um conjunto, ganhamos, não perdemos.  

 Sexualidade feminina independe de fase, é um tema que ainda hoje nos colocam como objeto de desejo e não como ser desejante, como se não fosse permitido, algo proibido, com muitos nãos. Eu costumo dizer que percorremos, ao longo da nossa vida, uma corrida de obstáculos, e depois de passarmos por tanto, chegar nessa fase ainda não nos permitir, é muito cruel. Proponho uma ressignificação. Se passamos uma vida sem conhecer direito nosso corpo, se não falamos de sexualidade, façamos isso agora.  

 “A menopausa pode ser uma grande oportunidade para as mulheres irem de encontro ao autoconhecimento, saúde preventiva, saúde intima e a sexualidade está nisso tudo, de novo, é um conjunto e pode ter qualidade de vida e bem-estar.” 

EA – Temos a questão de inclusão da geração 50+, um faixa etária que se associa à menopausa…
Márcia Nossa pirâmide etária está se invertendo e, consequentemente, cada vez mais teremos mulheres e homens 50+ ativos inseridos no mercado de trabalho. E, coincidentemente, é neste período que a mulher passa pela menopausa. Com base em pesquisas que realizamos pela Plenapausa, 54% das mulheres avaliadas se sentem menos produtivas no trabalho devido o impacto dos sintomas da menopausa. Esses dados nos mostram o quão importante é investirmos em informação, soluções e entendermos que estamos falando de algo que impacta diretamente na receita das empresas.  

EA – Um cenário, um novo ciclo virtuoso de libertação para as mulheres?
Márcia Hoje, no Brasil, temos cerca de 14 milhões de mulheres entre 45 e 54 anos, grande parte ativa, trabalhando e “tendo que lidar” com sintomas da menopausa, de maneira quase que solitária. A Plenapausa tem como missão trazer informação, visibilidade e solução para as mulheres. Somos a única femtech no Brasil a dar foco nesta fase. Estamos abertos para conversar também com empresas, pois, em se tratando de equidade de gênero, elas devem prover um ambiente que dê suporte para as fases e especificidades da mulher. Contem com a gente!  

 
marcia shimizu - Femtech
Marcia Cunha Shimizu é fundadora da Plenapausa, primeira Femtech no Brasil com foco na saúde da mulher no período da menopausa. Graduada em Economia, MBA em Gestão Estratégica de Negócios pela FGV e formação em Psicanálise pelo CEP SP, é Business and Executive Coach formada pelo ICI. Mais de 18 anos de experiência profissional, atuando em organizações nacionais e multinacionais de grande porte, como Alcoa, Delphi, Vivo e Epay Worldwide. 

https://www.linkedin.com/in/marcia-cunha-shimizu-4538a922/ 

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