Por Claudio Moreira
Eu não sei se sou só eu, mas se você também está sentindo o tempo passar cada vez mais rápido.
Bom, segundo eu li, realmente o tempo está passando mais rápido mesmo. 29 de junho de 2020, por exemplo, foi o dia mais curto da história! Ele durou 1,59 milissegundos a menos que a média. De acordo com o jornal britânico The Guardian, essa “pressa” do planeta em completar sua volta vem ficando cada vez mais frequente.
Ainda bem que não sou só que eu tenho essa impressão!
Mas não vim aqui falar de descobertas da ciência acerca desse nosso planetinha frenético e sim, dividir contigo uma outra impressão que remete ao título deste artigo.
Creio que você já tenha ouvido falar (ou até mesmo use com frequência) o termo Mundo BANI, que se refere ao acrônimo com as letras Brittle, Anxious, Non-linear, Incomprehensible (em português, frágil, ansioso, não linear e incompreensível). Longe de ser mais um jargão da moda no mundo corporativo, o BANI representa muito bem estes novos tempos em que a Terra gira mais rápido, principalmente quando penso no “não linear” do BANI.
A linearidade foi pro espaço faz tempo e hoje quando acessamos a internet vemos a profusão de novas tecnologias surgidas nas duas últimas décadas: inteligência artificial (IA), robótica, a internet das coisas (IoT na sigla em inglês), veículos autônomos, impressão em 3D, nanotecnologia, biotecnologia, ciência dos materiais, armazenamento de energia e computação quântica…
Ufa!
Me conforta saber que tarefas que meus avós tiveram que realizar de forma penosa, hoje são realizadas com o toque de um botão, ou até mesmo pedindo para a Alexa fazer. Que beleza!
Mas se estamos na época da não linearidade, porque algumas empresas ainda enxergam as carreiras como uma linha reta, sem desvios, nuances ou mudanças bruscas de direção?
Evoluímos muito na concepção de carreira ao longo dos tempos. Saímos da primeira versão da carreira – estática, sem nenhuma evolução ao longo do tempo e, também, sem nenhuma perspectiva de crescimento no longo prazo, exceto o aprendizado de um ofício para ambiente de trabalho, onde as pessoas podiam avançar à novas posições, desde que satisfizessem determinadas exigências de seus patrões, tais como: pontualidade, disciplina, respeito a autoridade, disciplina, lealdade, confiança, desempenho, entre outras qualidades.
Talvez você esteja pensando que na sua empresa essa concepção de carreira ainda esteja firme e atuante.
Sim, você tem razão, em muitos lugares a fidelidade e a obediência são o alicerce do crescimento ou da manutenção do emprego.
E não tem nada (tão) errado assim nisso, ok? Cada empreendedor(a) entende o que é melhor para a prosperidade dos seus negócios e vai determinar como a banda toca. Fica na empresa quem quer (ou precisa).
A grande questão é que duas dúzias de empresas viraram 10 dúzias.
Se voltarmos no tempo, não tão longe, lembraremos que as opções de carreira eram muito mais restritas do que hoje. Restringindo-me ao time que queria fazer uma carreira corporativa (o que exclui militares, médicos, etc…). Tínhamos, basicamente, os caminhos do concurso público, do empreendedorismo (que não era tão vibrante como hoje) e das grandes corporações.
Destas, tomo a liberdade de pensar em duas dúzias de empresas dos sonhos de todo mundo (normalmente grandes multinacionais).
Avancemos no tempo e podemos constatar que hoje quem deseja seguir a carreira corporativa tem ao menos 10 dúzias de grandes empresas para escolher onde trabalhar, fora as possibilidades do Terceiro Setor, setor educacional, agronegócio, tecnologia, biotecnologia e por aí vai.
Já está datado o termo Era do Conhecimento. A General Eletric lançou sua universidade corporativa em 1956 e pouco tempo depois as organizações começaram também a criar seus centros de desenvolvimento humano.
O poder baseado apenas na posição ocupada já foi questionado faz tempo; os sistemas de avaliação de desempenho hoje sofrem duras críticas; os critérios de avaliação para promoção sofreram profundas mudanças – elas passaram a ser feitas com foco em desempenho e mérito, entre inúmeras outras.
E tudo isso (não só) porque saímos de duas dúzias de empresas dos sonhos para umas 10 dúzias.
Menos escassez = mais equilíbrio de forças.
Talvez estejamos passando pela revolução mais poderosa do que todas as já vivenciadas pela humanidade ao longo de sua história, caracterizada por uma internet mais rápida, poderosa e acessível, por dispositivos menores e mais poderosos que se tornaram mais baratos e pela inteligência artificial e aprendizagem mais simples e disponível.
Essas novas tecnologias terão um impacto tremendo sobre todos nós. Nossas carreiras passarão por transformações substanciais e radicais. A diversidade no ambiente de trabalho se acentuará cada vez mais.
O sociólogo Ulrich Bech declarou que, na “modernidade avançada, a produção social de riqueza é sistematicamente acompanhada pelas produções sociais de riscos”.
Menos empresas = menos possibilidades = mais riscos.
Mais empresas = mais possibilidades = menos riscos.
Empresas que pensarem as carreiras de suas equipes como carreiras 2.0 e não como 4.0, terão muito mais dificuldade em aproveitar a exuberância da inteligência coletiva que ronda o ambiente corporativo.
A Quarta Revolução Industrial está aí, transformando a forma como vivemos, trabalhamos e principalmente como nos relacionamos. Somos seres desta transição, somos os profissionais do agora.
Que possamos ter inúmeras empresas com mentalidade 4.0.
Claudio Moreira é consultor de Educação Corporativa e trainer de equipes de alta performance, tem mais de 50.000 profissionais capacitados em sua trajetória profissional. É especialista em treinamentos de times de Serviços, Food Service e Varejo. É professor de cursos in company na Conquer, é professor em cursos MBA em no IPOG ena Escola Conquer. É mestre em Tecnologia Educacional, tem MBA Service Management (IBMEC) e MBA em Marketing (Fundação Getúlio Vargas). Colunista EA “Trilhos” de Aprendizagem.
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