Por Claudio Moreira

 

Vivemos relações de trabalho desde que o mundo é mundo e desde sempre o tão almejado equilíbrio entre quem “gera o trabalho” e quem “executa o trabalho” é um desejo quase sempre distante.

A geração Boomer (nascidos entre 1941 e 1959) conviveu com um acordo tácito baseado em lealdade em troca de previsibilidade. “Trabalhe duro, siga as regras, não questione e permaneça conosco até a aposentadoria”. Um acordo que parece ser bom num ambiente de poucas mudanças reais (apesar das nossas costumeiras crises econômicas) e de tecnologias ainda não avançadas.

A geração X (nascidos entre 1960 e 1979) conviveu com um acordo bem parecido, mas viu suas opções de carreira diversificarem num ambiente onde as soft skills começavam a dar o ar da graça e o trabalho intelectual mostrava que iria se sobrepor às tarefas repetitivas e enfadonhas. Continuamos com medo de questionar as estruturas, mas começamos a plantar a semente do que viria a ser um desejo muito presente na…

Geração Y (nascidos entre 1980 e 1995). Essa geração vivenciou o início de uma explosão de opções de carreiras, turbinada por novas tecnologias, notadamente a Internet. Essa geração começou a quebrar o acordo tácito vigente desde antes dos Boomers e começou a exigir mais equilíbrio e liberdade, protagonismo e justificativas num relacionamento menos desigual no mercado de trabalho. Não cabia mais as frustrações que seus avós e pais traziam para dentro de casa após jornadas extenuantes no trabalho, regadas à convivência com chefias tóxicas e tiranas.

“Devemos questionar, não aceitamos mais esse desequilíbrio entre o que entregamos e o que nos oferecem”.

Parecia que a caminhada era linear e sempre em frente, e que a geração Z (nascidos entre 1996 e 2010) iria consolidar o tão sonhado equilíbrio entre “força de trabalho e donos dos meios de produção”.

Sim, o equilíbrio veio, empresas buscando relações mais humanas, saúde mental sendo discutida seriamente no ambiente corporativo, segurança psicológica sendo seriamente trabalhada.

E então, um relatório da empresa americana Handshake, site de empregos focado na geração Z, nos mostra que os jovens entrevistados disseram preferir bons salários e estabilidade na hora de procurar emprego, deixando de lado a ideia de um “emprego dos sonhos” para guiar suas escolhas de carreira.

A segurança financeira tem sido progressivamente considerada pelo jovem da geração Z ao escolher posições iniciais no mercado de trabalho.

As grandes empresas, como bancos e empresas estatais, que oferecem maior estabilidade, têm atraído mais e mais candidatos recém-formados. As escolhas de carreira entre jovens da geração Z têm sido mais conservadoras observando três alicerces principais: o momento econômico, a estabilidade na carreira e a melhor conciliação entre as atividades profissionais e pessoais.

Confesso que o relatório me chamou a atenção, visto que parte desta caminhada parece ter sido interrompida pela volta de um acordo tácito que os Boomers viveram. “Te oferecemos plano de carreira, salários e benefícios em troca de…”

O título do meu artigo contém a provocativa pergunta: “E nós com isso?”

Voltaremos à uma época de exigência de lealdade inquestionável em troca de “estabilidade”, usando como mote: “O mercado não está fácil para ninguém”?

Ou aproveitaremos essa tendência para continuar na construção de relações profissionais mais equilibradas e justas?

Fica a pergunta.

 

 

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Claudio Moreira é consultor de Educação Corporativa e trainer de equipes de alta performance, tem mais de 50.000 profissionais capacitados em sua trajetória profissional. É especialista em treinamentos de times de Serviços, Food Service e Varejo. É professor de cursos in company na Conquer, é professor em cursos MBA em no IPOG ena Escola Conquer. É mestre em Tecnologia Educacional, tem MBA Service Management (IBMEC) e MBA em Marketing (Fundação Getúlio Vargas). Colunista EA “Trilhos” de Aprendizagem.

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