Por Claudio Moreira

 

Eu gosto de debates sobre conceitos que abordo nas salas de treinamento (virtuais ou presenciais) pois acredito que devo ir além da apresentação destes conceitos, gerando nas pessoas uma reflexão genuína que as ajude a lidar com a realidade nas empresas.

Me recordei de um questionamento que recebi quando abordava o tema experiência do colaborador. A participante achava curioso o fato de hoje em dia usarmos o termo “desligamento” e não “demissão”. Confesso que me chamou a atenção e entendi que talvez a questão fosse muito além da simples semântica.

Perguntei a ela o porquê da curiosidade e ela trouxe este ótimo ponto de vista:

“Desligamento é mais “limpinho”, mais indolor. Parece que só apertamos um botão e pronto. Demissão carrega uma carga de responsabilidade, de gravidade maior”.

Questionamento feito, coceirinha gostosa no cérebro instalada. Adoro esses questionamentos!

A partir daí seguimos por um excelente caminho que foi o da responsabilidade da liderança em evitar a banalização das demissões, entendendo que este expediente – ao contrário do que a palavra desligamento pode parecer – deve ser adotado com muito critério e seriedade.

Desligar uma pessoa na empresa

Excetuando casos como, reestruturações, fusões, extinção de áreas, ocasiões onde a demissão é inevitável, o ato de desligar uma pessoa da empresa deveria ser sempre uma sequência de feedbacks conhecidos e debatidos. Não cabe a surpresa de uma demissão por performance para alguém que no período anterior bateu todas as metas ou que sempre demonstrou fit cultural com a empresa.

Desligar alguém não é algo tão asséptico como a provocação que recebi pode fazer parecer, e dentro do nosso debate, trocamos experiências das vezes em que tivemos que demitir pessoas e o quanto isso tem um peso para nós, mesmo que aquela seja a milésima vez que demitimos alguém.

Estudo da Deloitte Global Human Capital Trends mostra que 80% dos executivos de RH acreditam que a experiência do colaborador é importante, mas estudo da Gallup detectou que, no mundo, somente 13% dos colaboradores se sentem realmente engajados com a empresa.

Experiência do colaborador

Neste contexto que abordo aqui, a experiência do colaborador é assunto importante e ainda no report da pesquisa, apenas 52% afirmam que conseguem colocar a estratégia em prática, oferecendo uma experiência positiva de trabalho. Enquanto 89% acham que a experiência do colaborador ainda tem muito espaço de crescimento, mesmo depois da crise, apenas 50% têm orçamento destinado para investir neste tema.

Podemos por esse “desengajamento” exclusivamente na conta de demissões malfeitas ou irrefletidas? Claro que não, mas esse componente ganha um peso extra em épocas de sites como Glassdoor, onde as entranhas das empresas se tornam menos misteriosas. O rei está nu.

Fechamos o treinamento abordando todos os cuidados que uma demissão deveria ter e creio que o tema ganhou uma atenção extra após a provocação da semântica que veio à tona. 

E muito bom poder contar com mentes pensantes e senso crítico para ir além da espuma em conceitos  que carregam em si um impacto imenso na vida das pessoas.

 

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Claudio Moreira é consultor de Educação Corporativa e trainer de equipes de alta performance, tem mais de 50.000 profissionais capacitados em sua trajetória profissional. É especialista em treinamentos de times de Serviços, Food Service e Varejo. É professor de cursos In Company na Conquer, é professor em cursos MBA no IPOG e na Escola Conquer. É mestre em Tecnologia Educacional, tem MBA Service Management (IBMEC) e MBA em Marketing (Fundação Getúlio Vargas). Colunista EA “Trilhos de Aprendizagem”.

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