Por Claudio Moreira

 

Certa vez eu estava num projeto onde o cliente desejava que as áreas contribuíssem mais umas com as outras. Ele tinha visitado escritórios de projetos e se encantou com um formato muito comum que é a alternância entre os papéis de “autoridade” e “recurso”.

Formato bastante comum em algumas empresas com matrizes de poder mais descentralizadas, esta alternância acontece de forma simples: quando fulano possui forte expertise na área onde o projeto ocorrerá (por exemplo, indústria farmacêutica), ele assume o papel de Dono do Projeto e a sicrana assume o papel de Recurso. Quando a sicrana domina o conhecimento da área do projeto (por exemplo, varejo) os papéis se invertem.

Particularmente sou fã deste formato, mas tenho consciência de que não cabe em todas as estruturas empresariais, por isso me cabe refletir e fazer a pergunta de 1 milhão de dólares:

– Como é feita a distribuição de poder e status na empresa?

Sim a pergunta é de 1 milhão de dólares porque vai justamente num ponto sensível das empresas e que Peter Drucker abordou em sua célebre frase “a cultura devora a estratégia no café da manhã”.

Uma questão crítica em qualquer grupo é como influência, poder e autoridade são alocados.

Em algumas empresas o poder é derivado do sucesso pessoal e de uma construção de redes de apoio. Posição formal, tempo de casa e descrição de cargo tem, relativamente, menor influência do que as características pessoais e desempenho. Em outras, esta estrutura apoia-se em antecedentes pessoais, credenciais educacionais, tempo de serviço e lealdade aos grupos.

Qual sistema está certo? Os dois, cada um a sua maneira.

A cultura organizacional desempenha um papel fundamental no sucesso das empresas. Ela representa o conjunto de valores, crenças, normas e práticas que orientam o comportamento dos membros de uma organização, definindo a identidade da empresa, moldando a maneira como as pessoas trabalham juntas e influenciando suas atitudes e ações.

É o hardware onde vai se instalar o software e para que a instalação seja bem sucedida, antes deve-se ter consciência das configurações deste hardware.

A grande questão é olhar o treinamento como elixir mágico de todas as questões corporativas.

É o treinamento que vai conseguir instalar um app que só roda no IOS num sistema Android? Não, não vai. A incompatibilidade é um fato que precisa ser trabalhado. No caso da empresa que mencionei, o treinamento não vai resolver questões de distribuição de poder e status na empresa.

Essa questão é cultural, profunda e necessita de outras ferramentas para ser resolvida.

Treinamento não resolve pessoas com perfil inadequado, ferramentas e recursos defasados, programas de incentivo mal desenhados ou processos inadequados.

Por isso, antes de lançar mão de uma iniciativa de treinamento, é necessário observar o forte inter-relacionamento entre as questões de missão, visão e valores e por outro lado as questões de alocação de poder.

Qualquer grupo ou organização desenvolve normas sobre a distribuição de poder, influência e autoridade. Se essas normas funcionarem no sentido de deixar os membros do grupo razoavelmente livres de ansiedade, então as melhorias propostas via treinamento serão bem sucedidas. Sicrana e fulano poderão enfim revezar suas expertises e brilhar em suas entregas.

Que brilhem muito!

 

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Claudio Moreira é consultor de Educação Corporativa e trainer de equipes de alta performance, tem mais de 50.000 profissionais capacitados em sua trajetória profissional. É especialista em treinamentos de times de Serviços, Food Service e Varejo. É professor de cursos In Company na Conquer, é professor em cursos MBA no IPOG e na Escola Conquer. É mestre em Tecnologia Educacional, tem MBA Service Management (IBMEC) e MBA em Marketing (Fundação Getúlio Vargas). Colunista EA “Trilhos” de Aprendizagem.

 

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