Por Claudio Moreira

 

_ “Claudio, você pode me dizer seu currículo, suas credenciais?”

Ok, essa foi uma pergunta que poderia ser até normal, caso não tivesse sido feita num tom entre o afrontoso e desafiador, no 1º dia de treinamento às 8:30h da manhã.

Normalmente inicio meus trabalhos me apresentando de uma forma low profile, porque acredito que ali, na sala, eu seja o mensageiro de algo poderoso, de uma intenção de mudança, aprimoramento e transformação. Quero gerar conexão rápida, quero gerar empatia e deixar todo mundo na sala ciente de que aquele é um espaço de troca e não um lugar onde um luminar do conhecimento inunda todos com sua sapiência superior.

Diga-se de passagem, nem o termo “aluno” eu uso, pois, a palavra “aluno” tem origem do latim, onde a corresponde a “ausente ou sem” e luno, que deriva da palavra lumni, significa “luz”.

Portanto, aluno quer dizer sem luz, sem conhecimento.

Quem sou eu na fila do pão para dizer que alguém ali, dividindo conhecimentos e experiências comigo é um ser sem luz? E porque iniciei este artigo trazendo esse episódio à tona?

O portal Mundo do Marketing foi ao LinkedIn e convidou os seguidores a responderem a uma enquete que fazia a seguinte pergunta: “Ainda há ego no Marketing?” Para 87% dos 1.029 respondentes, ainda há, e muito.

Eu perguntaria, “só no marketing?”

O ego, muitas vezes considerado como uma força motivadora positiva, pode se manifestar de maneira maléfica dentro das empresas, tornando-se um obstáculo significativo para o sucesso coletivo. Em muitos ambientes corporativos, a competitividade exacerbada e a busca incessante por reconhecimento individual podem levar a um aumento do ego, levando os colaboradores a priorizarem seus interesses pessoais sobre os objetivos da equipe.

Quando o ego prevalece, a comunicação se torna prejudicada, e a troca de ideias construtivas dá lugar a uma mentalidade de “cada um por si”. A colaboração, vital para o crescimento e a inovação nas empresas, é sufocada pelo ego, resultando em equipes desunidas e na perda de oportunidades valiosas de aprendizado mútuo.

Vi na Netflix o documentário chamado A Noite Que Mudou o Pop, sobre a música We Are The World. Um dos trechos do documentário que me chamou a atenção foi o cartaz que o produtor Quincy Jones pôs no estúdio: “deixe seu ego lá fora”.

Para quem não viveu os anos 80 como eu vivi, “We Are The World” (em português: “Nós somos o mundo”) é uma canção composta por Michael Jackson e Lionel Richie, gravada janeiro de 1985 por 45 cantores norte-americanos, no projeto USA for Africa, que tinha como objetivo arrecadar fundos para o combate à fome e as doenças no continente africano, inspirados pelo festival Live Aid (organizado pelo músico irlandês Bob Geldof).

O single, o álbum e o videoclipe renderam cerca de 55 milhões de dólares. O maestro Quincy Jones (aquele do cartaz) fez o arranjo da canção e também a regência do grupo vocal.                          A vendagem atingiu 7 milhões de cópias só nos Estados Unidos, fazendo da composição um dos singles mais vendidos de todos os tempos.

Sim, “deixe seu ego lá fora”. Essa mensagem foi fundamental num ambiente que unia artistas do calibre de Ray Charles, Bruce Springsteen e Michael Jackson e deveria produzir algo memorável.

Decisões desequilibradas e desmotivadoras

Líderes inflados pelo ego muitas vezes impõem suas opiniões sem considerar a contribuição da equipe, levando a decisões desequilibradas e desmotivadoras. Essa dinâmica, por sua vez, alimenta um ciclo prejudicial em que os colaboradores, sentindo-se desvalorizados, podem se desconectar emocionalmente da empresa, comprometendo a produtividade e a satisfação no trabalho.

Colaboradores e líderes que se apegam firmemente às suas próprias ideias podem bloquear a implementação de inovações necessárias para o progresso da empresa. A resistência ao novo impede o crescimento e a adaptação às demandas do mercado, resultando em empresas estagnadas e vulneráveis às transformações inevitáveis do ambiente empresarial.

Veja, 45 artistas milionários e no auge de suas carreiras aprenderam isso naquela noite de janeiro. Que aprendamos isso no mundo corporativo.

 

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Claudio Moreira é consultor de Educação Corporativa e trainer de equipes de alta performance, tem mais de 50.000 profissionais capacitados em sua trajetória profissional. É especialista em treinamentos de times de Serviços, Food Service e Varejo. É professor de cursos In Company na Conquer, é professor em cursos MBA no IPOG e na Escola Conquer. É mestre em Tecnologia Educacional, tem MBA Service Management (IBMEC) e MBA em Marketing (Fundação Getúlio Vargas). Colunista EA “Trilhos de Aprendizagem”.

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