Carreira ou filhos? | Luciana Cattony e Suzana Zaman

 

EA – Como surgiu esta inovadora consultoria?  
Luciana/Susana Viemos do mercado corporativo e vivenciamos esta carência em relação ao acolhimento e cuidados com a mulher mãe. Pela vontade de transformar positivamente os ambientes corporativos, em 2018, estruturamos o nosso posicionamento, lançando no mercado vasto portfólio de produtos para atender empresas nos mais diversos momentos de maturidade em relação à equidade de gênero. Entre os quais, criamos o EquiGame, o Jogo da Equidade. Em três fases, este game mistura o presencial e o virtual para envolver os colaboradores, ressaltando a importância da equidade de gênero para todos (homens e mulheres) e provocando ações práticas rumo a um mundo melhor, dentro e fora do trabalho. 

EA -  Como atuam nesta problemática?
Luciana/Susana Atuamos nessas frentes: equidade de gênero e maternidade no trabalho, explorando todo ecossistema que está por trás disso. Enfatizamos a parentalidade como processo de autodesenvolvimento. Dentre os principais desafios que encontramos nas companhias, citamos: conscientização da liderança em relação à importância da equidade de gênero para todos, homens e mulheres; desafios relacionados ao acolhimento da mulher mãe no ambiente de trabalho, desafio das mães em conciliar carreira e maternidade, a questão do viés inconsciente, criação de políticas flexíveis, etc. 

“Mulheres estão suprimindo sua essência para serem aceitas no ambiente corporativo e a questão do adiamento da maternidade pela maternidade é um indicador disso”. 

EA – Por que a maternidade se tornou tardia? 
Luciana/Susana  Existe um comportamento que, para serem aceitas no mercado, a mulher acaba sacrificando a sua feminilidade. Isso acontece em vários setores da sociedade: no universo dos games, por exemplo, muitas mulheres se “escondem” por trás de avatares masculinos para serem incluídas no jogo. No ambiente organizacional, isso não é diferente.  

EA – A profissional após ser mãe tem retorno garantido no mercado de trabalho?
Luciana/Susana Não. E o abandono de carreira, além de ocasionar uma considerável perda no pool de talentos das empresas, provoca muitos prejuízos para as companhias. O talento não é como um bem material, que é possível substituir quando se perde. Se a empresa perde um talento, ela perde, também, inteligência, habilidades, expertise, performance. A saída de um talento pode desestruturar a equipe, prejudicar o engajamento  e a motivação e também gerar impacto negativo nos resultados. E, sejamos honestos, o dinheiro, nesse caso, é um dos fatores de menor importância. 

EA – Mulheres retomam suas atividades após a licença-maternidade com quais sentimentos? 
Luciana/Susana O fim da licença-maternidade é um momento complicado para a maioria das mulheres. Existe um misto de sentimentos, como ansiedade em relação ao futuro, a insegurança sobre conciliar todas as demandas que envolvem a maternidade em casa e as demandas de trabalho. Culpa também é um sentimento muito presente nas mulheres que optam por retornar ao trabalho. Um estudo realizado pela Harvard Business School mostrou que as filhas de mães que trabalham fora geralmente apresentam desempenho melhor em suas carreiras do que as filhas de mães que ficam em casa.  

EA Não falamos sobre a licença paternidade, uma inovação no contexto.
Luciana/Susana Sim. Não se pode falar em equidade de gênero sem pensar na figura masculina e na participação ativa do pai. A ampliação da licença paternidade pelas empresas-cidadãs de 5 para 20 dias, (e no caso por exemplo, da Diageo, a equiparação entre as licenças maternidade e paternidade), coloca em pauta a responsabilidade do pai na criação e no vínculo com os filhos. A partir do momento que os homens se envolvem ativamente, reduz a jornada dupla da mulher, contribuindo para acelerar a mudança. 

EA – Há dados disponíveis sobre essa questão?
Luciana/Susana Não são poucos. Estudo realizado com alunos de Stanford e de Harvard, mostrou que 43% das mulheres altamente capacitadas interrompem suas carreiras pela maternidade. No Brasil, pesquisa da FGV revelou que 48% das novas mães saem do mercado de trabalho até 24 meses após o retorno da licença-maternidade. De acordo com o artigo “The Expanding Gender Earnings Gap: Evidence from the LEHD-2000 Census”, nos Estados Unidos, a maternidade é hoje o principal promotor de desigualdade salarial entre homens e mulheres.  

E a pesquisa da Paid Leave for the United States aponta que 77% dos entrevistados afirmam que a duração da licença remunerada oferecida afetaria sua escolha por uma empresa em detrimento da outra. Portanto, oferecer esse tipo de política é ainda diferencial competitivo para a sua empresa conquistar talentos.  

 

 

susana e luciana - Carreira ou filhos?

Susana Zaman e Luciana Cattony fundaram a Maternidade nas Empresas, primeira consultoria para equidade de gênero, com foco na maternidade e tudo o que vem com ela: paternidade, filhos, preparação da liderança, dilemas em conciliar carreira e maternidade, etc. A missão da consultoria é ajudar as empresas com estratégias de negócios assertivas, que contribuem para atrair, reter, engajar talentos femininos e valorizar a mulher/mãe no mercado de trabalho. Um novo radar para que o mercado empregador possa refletir o cenário desta vulnerabilidade no empoderamento feminino no contexto do universo da empregabilidade.   

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