Uma bantech no metaverso | Valéria Barbosa

 

EA – A crescente digitalização das áreas de RH traz que impactos para os negócios?
Valéria A digitalização é um processo natural para o Digio, pois já nascemos com essa cultura por sermos um banco digital – a experiência do cliente é toda pelo app. Faz parte da nossa cultura e muitos processos foram transformados nos últimos dois anos. Desde as entrevistas, envio de documentos, onboarding e até mesmo desligamentos, possuem uma camada digital que traz agilidade para as empresas.

A meu ver, a digitalização traz agilidade e certas reduções de custos (armazenamento, transporte e outros) que são importantes, mas há outro ponto fundamental para mim.

Ela também permite ter uma camada mais humana na experiência do colaborador. Em vez da equipe focar sua energia em ações mecânicas, eles podem estar mais próximos da equipe seja para pequenas dúvidas de ponto ou desenvolvimento dos talentos.

EA – Como se estrutura os pilares da cultura organizacional na empresa?
Valéria O Digio é um banco digital (bantech). No Banco Central, somos registrados como um banco comercial. Temos a tecnologia muito forte e a agilidade do tecnológico. Essas duas características coexistem na organização que tem seis valores bem definidos.

Pilares da Cultura
O primeiro é “Fazemos o que é correto sempre”. É necessário pensar na continuidade dos negócios da empresa, com respeito às pessoas e políticas corporativas. Para nós, não existem vias alternativas e somos responsáveis pela integridade e continuidade ética das ações do Digio.

As pessoas são as responsáveis pela construção da cultura e da melhoria constante nos processos para evolução dos negócios. Por isso, outro valor é “São as pessoas que transformam a empresa”. Assim, damos a autonomia e empoderamos, pois acreditamos na capacidade do nosso time.

O terceiro valor é “Fazemos mais, pois trabalhamos juntos”. Não é apenas somar esforços, buscamos multiplicar talentos de uma equipe de maneira exponencial. É muito importante a colaboração baseada na confiança e no diálogo franco.

Somos um time e todos são responsáveis pelos resultados da empresa. Incentivamos o “Pensamos e agimos como dono”. Esse olhar de dono é focado na entrega, no crescimento e na evolução de todos.

Todos sabemos que não faltam problemas e entraves no dia a dia. Encarar o desafio é uma oportunidade para aprendermos, fortalecermos e evoluirmos. Dessa forma, outro valor é “Os desafios são as melhores oportunidades”. 

Hoje, temos mais de 4,2 milhões de clientes no Digio. Eles são a razão de ser do nosso negócio e aliados no processo de aperfeiçoamento ao nos fazerem repensar sempre a forma como vamos ao mercado, como atendemos suas necessidades. Obviamente, “Saber ouvir o cliente já é metade da solução” virou um valor.

EA – No anywhere office, modelo de gestão que adotaram, como integrar e engajar os times?
Valéria Atuamos hoje no modelo híbrido, sendo que há alguns times de tecnologia atuando remotamente. Em nosso escritório, oferecemos um café da manhã, temos frutas, sucos, refrigerantes, chás, bolachas e outros alimentos. Há também uma cabine de meditação. Seguimos um conceito open space e não há lugares fixos para pessoas ou áreas, temos uma arena em que as pessoas podem utilizar de várias formas, seja para descansar ou trabalhar.

No modelo híbrido, é normal ter parte da equipe presencial ou não em uma reunião ou projeto. Incentivamos que todos se comuniquem e buscamos preparar nossos líderes para esse modelo.

“Precisamos estar atentos aos sinais que os colaboradores dão estando a distância e achar formas de se aproximar, ainda que virtualmente.”

Há diversas formas para isso que podem ser desde weeklies, 1:1 ou até mesmo estruturas mais informais. Por exemplo, um time de tecnologia se aproximou jogando Fall Guys e foram convidando pessoas de outras áreas como marketing e produtos.

EA – O que mudou no retorno ao escritório?
Valéria No retorno ao escritório, percebemos que muitos colaboradores se conectaram mais e houve agilidade em alguns pontos. Por exemplo, você pode tomar um café ou ir até a mesa para resolver uma situação em vez de marcar uma call com a pessoa. Essa informalidade é muito importante em determinados momentos.

Antes mesmo do retorno, já sabíamos que haveria o desafio de engajar aqueles que estão distantes e por isso buscamos soluções. Para que as equipes tenham a oportunidade de vivenciar a experiência de estar presencialmente, lançamos um espaço virtual que simula o escritório físico.

No ambiente virtual, os colaboradores podem utilizar as salas de reuniões, trabalhar nas suas mesas e ‘tomar um café’ na copa com os colegas como se estivessem no escritório. Se alguém quiser, pode ir até a mesa que eu estou e iniciar uma chamada de vídeo automaticamente e ter uma experiência próxima ao encontrar outra pessoa no corredor.

EA – Testar experiências tech está no DNA da empresa, em especial, agora, com o metaverso, lançando um escritório virtual. Como tem sido o engajamento?
Valéria Estamos falando de uma mudança cultural de pessoas que não é exclusiva do Digio. Ainda que muitos dos nossos colaboradores tenham afinidade com tecnologia, há uma mudança no dia a dia que é entrar na plataforma, interagir por lá e afins. Assim, temos embaixadores que são responsáveis pelo aculturamento dos times e para que exista uma rede de apoio na implantação e melhorias do escritório virtual. Além disso, também passamos a tratar o tema em comunicações internas e até mesmo trazendo especialistas para falar sobre metaverso.

EA – Como avança esse aculturamento?
Valéria Já observamos muitos times utilizando com frequência. Há um certo tempo, entrei no escritório virtual e descobri que alguém colocou um piano de cauda para pessoas ficarem tocando. Obviamente, não temos esse instrumento musical no meio do escritório. Só que o ambiente virtual permitiu e alguém colocou lá e fez sucesso. Outro dia estava com uma pessoa do meu time, a Roberta, e ficamos jogando confete em uma reunião para celebrar. Existe um lado lúdico e de conexão que está sendo muito bem aceito pela equipe.

“Também já observamos um lado muito mais intenso que é war room para resolver situações sensíveis e que o time todo estava conectado no escritório virtual e trocando.”

EA – Nos dê alguns exemplos de ações de integração, comemorativas neste ambiente virtual?
Valéria Temos ações de celebração que são esperadas na organização. Houve um cuidado para que os colaboradores que estão distantes geograficamente possam vivenciar esses eventos como se estivessem no escritório do Digio. Fizemos nossa primeira iniciativa com a festa junina em junho com direito a transmissão da banda ao vivo e até mesmo participação no bingo realizado presencialmente.

EA – Qual tem sido a importância das HR Techs para o ecossistema de RH?
Valéria A chegada de HR Techs é extremamente positiva por trazer soluções focadas no setor e com mais entendimento das necessidades – há pontos que são muito específicos, sejam por legislação ou processos. Utilizamos a Gupy (aquisição de talentos), a Feedz (Gestão de performance) e outras.

“A tecnologia democratizou o acesso, facilitou e revolucionou a vida das pessoas e empresas.”

Precisamos entender como podemos usá-la cada vez mais no nosso dia a dia, seja como RH, marketing, financeiro e outras áreas. No caso da Gather Town, identificamos uma solução que nos permitiria fazer nosso escritório virtual e que a minha filha também pode criar uma conta e usar para encontrar seus amigos. O importante é entender a necessidade e observar qual é a melhor ferramenta para cada situação.

EA – Qual critério considera ter melhorado com a experiência de gestão virtual?
Valéria O foco é a experiência do colaborador e a melhora da integração deles nos projetos, independentemente do local que a pessoa esteja trabalhando. Hoje, observamos um time mais integrado, retornamos ao escritório, e passamos a ter ações físicas e também mudamos a virtual.

EA – A liderança ainda é fator determinante de engajamento e de práticas de aprendizagem dos times?
Valéria Sim, a liderança é a fundamental para manter o time engajado e evoluindo. São os líderes que darão os direcionais, incentivaram a adoção de ferramentas, inovação e outros processos. Seja no presencial ou virtual, os times não abraçam com total empatia e dedicação às ações desenvolvidas sem o apoio liderança.

EA – Considerando vários geracionais trabalhando juntos, a adesão a um RH mais digital, orientado a métricas de dados, isso atrai todas as faixas etárias?
Valéria Somos um time de Gente & Gestão e atuamos muito além do RH tradicional. Trabalhamos com BPs e buscamos personalizar atendimentos dentro do possível. As pessoas, nossos digiolovers, procuram a equipe de G&G, inclusive a mim, para falar de desafios da equipe, de desenvolvimento e até mesmo sobre o ponto. Obviamente, precisamos ter foco nos nossos objetivos e da empresa, só é importante acolher e também que a minha equipe possa ajudar, errar e corrigir e ter apoio de todos envolvidos para atender as necessidades do negócio, sem perder nossos valores e a essência comportamental dos colaboradores. Aqui, temos um pouco de todos os nossos valores sendo colocados em prática.

EA – Qual o atrativo para os selecionados nos programas de estágio e de trainee?
Valéria Oferecemos um programa de mentoria de carreira para a vida, seja estagiários ou até mesmo cargos de gestão. Temos esse cuidado de desenvolver a todos, inclusive como uma forma de auxiliar na execução do plano de desenvolvimento individual de cada um. Os estagiários recebem ajuda de custo e outros benefícios como VA, VR, plano de saúde, plano odontológico, cartão presente de Natal, vale-cultura, entre outros.

Não é incomum haver efetivações de estagiários, inclusive com a possibilidade de ser uma movimentação lateral para uma área que ele se interessou ou o seu perfil tinha aderência.

EA – Sua mensagem para gestores de RH potencializarem hoje o Futuro do Trabalho em suas marcas empregadores.
Valéria Vou ser bem direta, ok? Sejam Gente & Gestão. As pessoas são importantes para o negócio e não são apenas números ou partes de dados de relevância. Ouça sua equipe, confronte dados e ache uma forma de executar e transmitir verdadeiramente.

Experiência virtual do espaço físico
A Gather Town foi plataforma escolhida para ajudar a criar essa experiência de vivência virtual no metaverso da bantech. A Gather conta com interface e experiências customizáveis, o principal critério para definirmos a plataforma. Em um cenário 2D e similar a jogos, todo o escritório do Digio foi recriado.

foto digio 2 - Uma bantech no metaverso
Escritório virtual Digio

A recepção, arena, copa, salas de reunião e outros ambientes fazem parte da ambientação. Inicialmente, foi disponibilizado o escritório virtual para cerca de 100 colaboradores para projeto piloto. Em breve, após a experiência piloto se planeja levar essa opção para cada Digiolover.

foto digio 1 - Uma bantech no metaverso
Cenário 2D para engajamento de colaboradores

No cenário, utilizam-se as teclas do teclado para andar pelo escritório. É possível ficar na própria mesa, entrar em salas de reunião e até mesmo sinalizar que está almoçando ao ficar na copa. O resultado é que o time está visível e presente, para que possa haver interações e trocas informais. Com o avatar, ao passar ao lado do colega, é possível iniciar uma chamada de vídeo automaticamente e ter uma experiência próxima ao encontrar outra pessoa no corredor.

Na prática, é como se acontecesse uma reunião com diversas pessoas em uma sala privada, como fazem no escritório, só que em um ambiente virtual, onde os colaboradores são representados por avatares. Todos que estão transitando no escritório virtual podem ver que a reunião está acontecendo, mas não podem ouvir, só os que estão dentro da sala. 

 

valeria - Uma bantech no metaverso

Valéria Barbosa é executiva em gestão de pessoas com experiência em todo ecossistema e subsistemas de RH. Ênfase em T&D, Gestão de Mudanças, R&S, Negociação Sindical e Gestão de Conflitos. Atuou em empresas como Pepsico, Etna, Itaú-Unibanco, Qiagen e Cabify. É gerente e BP de Gente & Gestão no Digio. 

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