Por que é tão difícil falar sobre D&I nas empresas? | Maycon Vitti

 

Praias, danças, sorrisos e muita água de coco, tudo o que lembramos quando falamos sobre o Nordeste. Mas calma. Nem tudo são flores.

Como um bom nordestino, sei que precisamos melhorar diversas coisas, e uma delas é sobre o tema diversidade e inclusão, olhando ele na perspectiva organizacional.

Você já parou para pensar em quantas iniciativas congruentes com as ações de marketing em sua empresa foram feitas neste ano? Bom, apenas postar não vale como resposta.

Sem dúvida, muitos dos meus conterrâneos vão falar que é raro observar durante a sua estadia dentro do ambiente laboral essas atividades e práticas. É um sonho isso acontecer.

Já vivi isso na pele por muito tempo, mas conversando com líderes, diretores e profissionais de RH dessa região, principalmente da minha cidade, Fortaleza, entendi qual é o verdadeiro cenário da diversidade dentro das capitais nordestinas e porque é tão difícil implementar ações com este perfil inclusivo. 

Vamos observar 4 principais motivos de não ser abordado este tema, Diversidade & Inclusão, que é de extrema importância.

  1. A maioria das empresas instaladas são familiares

Carregada por cultura enraizada da antiga administração familiar, que passa de geração para geração, evitando ao máximo se envolver em assuntos considerados fora do padrão, deixando um clima organizacional pesado, alto turnover e até ações judiciais por homofobia, racismo e machismo. Em não investir em práticas de transparência quando se trata de diversidade, as empresas com este perfil acabam obtendo prejuízos ao longo do tempo, sendo um perigo para a saúde financeira da marca, seu valor e propósito no mercado. 

  1. A área de gestão de pessoas não têm autonomia para realizar atividades 

Até parece irônico, mas acontece, conforme uma conversa que tive com uma gestora head de RH, do segmento de Saúde, ela relatou a dificuldade de tomar decisões em seu setor, fazendo apenas o burocrático (admissão e demissão), sendo intimidada a não realizar demais atividades inclusivas, ações e treinamentos para os colaboradores, com a justificativa de treiná-los e depois perdê-los para a concorrência. Durante uma conversa de benchmarking, a Diretora de RH relatou: “Sou apoiadora de causas inclusivas, mas não posso adotar isso dentro das atividades do RH, pois meus diretores não permitem, preciso do trabalho, por isso que infelizmente não faço”. 

  1. A liderança não está preparada para conviver com diferenças

Questão muito relacionada ao segundo motivo, uma coisa leva para outra. As lideranças estão acostumadas em zonas de conforto, liderando apenas as pessoas que elas se sentem próximas, descartando uma liderança mais inclusiva, com pessoas que fogem de padrão pré-estabelecido. O que gera um clima pesado e, na maioria das vezes, ações de caráter preconceituoso e assédios. Isso tem um impacto tanto dentro e fora da organização, vemos nos números de pesquisas que mostram que empresas brasileiras gastam bilhões com ações judiciais todos os anos em causas trabalhistas, entre outras. Vamos economizar, por favor. Muito importante destacar, o treinamento e desenvolvimento como peça essencial de capacitação para que todos(as) sejam preparados para lidar com as diferenças, pois a liderança tem um papel fundamental para a gestão de conflitos no decorrer do cotidiano de trabalho das equipes. 

  1. Não investir em pessoas e sim apenas em processos

É notório que a alta direção, na maioria das vezes, não está alinhada ou preocupada com saúde física e mental dos colaboradores dentro do espaço laboral. Fator que prejudica as atividades e também a criatividade de colaboradores. E consequentemente, inibe visões para inovações que poderiam dar porta de entrada para temáticas de diversidade e inclusão.               Os processos para qualquer departamento são importantes, mas nada será concluído sem o  olhar humano. Precisamos urgentemente equilibrar orçamentos processos & gestão, para que cada necessidade seja devidamente contemplada. 

Espaços a conquistar

Com todos os cenários vistos até agora, é de suma importância refletirmos que a diversidade, inclusão e equidade de gênero precisam ser mais efetiva dentro dos contextos organizacionais olhando para essa região tão linda, o nosso Nordeste. 

Sabemos que não é um passo que se resolve em poucos dias e sim, que leva tempo e disposição para o tema nas empresas. Todos, nos espaços corporativos, precisam fazer a sua parte para que o todo, o maior número possível de pessoas das minorias, sejam beneficiados com ações de inclusão, de empregabilidade.

Nos meus próximos artigos seguirei expandido este importante tema! Que acredito, muito vai ajudar aqueles que querem implementar uma cultura diversa e ter ganho no negócio com equipes em diversidade. Até breve!

 

maycon - Nordeste: Por que é tão difícil falar sobre Diversidade e Inclusão nas empresas?

Maycon Vitti é nordestino, LGBTQIAP+, palestrante, docente e consultor de RH e de Diversidade, tem quatro anos de experiência no mercado. Seu principal objetivo é diversificar e incluir pessoas no ambiente organizacional.

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