Educação tecnológica, influência e cultura | Eduardo IBRAHIM  

 

A educação tecnológica deve fazer parte da agenda de todas as organizações, não para formar novos programadores ou cientistas de dados, mas para formar pessoas capazes de direcionar a tecnologia de acordo com valores e propósitos humanos. Um desafio que passa pela mudança de mentalidade sobre qual é o papel da tecnologia na economia e, portanto, pela educação tecnológica que refletirá na cultura social das próximas gerações. 

Se antes as áreas de conhecimento eram estudadas de forma analógica, através de experimentos com amostras limitadas e conjecturas teóricas, agora, com a digitalização, podemos encontrar dados precisos em tempo real. Compare a análise de comportamento humano realizada por um psicólogo versus o mesmo trabalho feito por um neurocientista em seu laboratório com cientistas de dados. 

O psicólogo, ao idealizar um experimento, precisa isolar diversas pessoas e catalogar fielmente suas reações, com vistas a encontrar no grupo alguma significância estatística que confirme suas hipóteses.  

Um trabalho analógico e impreciso

Já o neurocientista pode fazer simulações usando sensores conectados a um computador e algoritmos de inteligência artificial, os quais irão encontrar padrões para hipóteses que ele nem sequer havia imaginado, superando suas capacidades humanas. Um trabalho digital e preciso. 

Quanto mais a tecnologia avança, mais precisamos dar conta da demanda decorrente das novas descobertas que estão impactando os negócios e a economia.                       

O conceito STEM agrupa as disciplinas de Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática, na sigla em inglês. Alguns especialistas defendem sua ampliação para STEAM, adicionando arte e design à receita. Baseado em uma didática voltada ao desenvolvimento de produtos e de tecnologia através de conhecimento aplicado, ele ajuda a fazer a mágica da ciência acontecer. 

A ideia é unir conhecimentos diversos na aplicação concreta para resolver problemas reais da economia. A educação profissional, assim, deve ir muito além dos conhecimentos tecnológicos que são a base desse tipo de educação, deve mudar a mentalidade de futuros líderes, para que ela seja o fio condutor de uma nova cultura baseada em tecnologia. O propósito, de que tanto falamos, está mais ligado ao sentimento que as pessoas têm ao interagir com as organizações do que aos resultados delas em si. Ele, portanto, ultrapassa os enunciados de visão, missão e valores, transbordando esses enunciados para a vida real. 

As redes sociais mostram que definições de propósitos não-legítimas não engajam seguidores. O contrário é tão verdadeiro a ponto de criar devotos apaixonados ao invés de simples seguidores. Mesmo com canais de relacionamento e atendimento automatizados, as pessoas ainda seguem pessoas, não marcas. A influência nas redes sociais transforma nossa cultura de maneira tão acelerada quanto o avanço exponencial da tecnologia.  

Supremacia tecnológica

Não à toa, empresas como Facebook e Microsoft competem pela supremacia tecnológica dos ambientes de realidade virtual e aumentada, pois eles transformam como nos relacionamos em ambientes digitais. O ato de educar e aprender são impactados pela forma com que a informação é disseminada no mundo digital. Novas tecnologias criam extensões das dinâmicas sociais e as trocas entre pessoas são facilitadas e transformadas por elas ativamente.  

Além disso, quando você expõe ideias no mundo digital, há naturalmente uma preocupação com a validação social do seu discurso. Ideias não legitimadas pelo grupo são escrutinadas e podem gerar o “cancelamento social”. Muitas vezes, isso acontece de forma excessiva e irracional, característico de movimentos em “efeito manada”.  

Daí a importância de saber acompanhar, educar e reeducar para que o alinhamento de valores e propósitos aconteça continuamente.

O risco de não se expor, no entanto, passou a ser maior do que o risco de ser cancelado. Educar passou a ser uma forma de influenciar e liderar nas redes sociais. Como exemplo, os fundadores da XP Investimentos atribuíram o crescimento exponencial da empresa à estratégia de educar financeiramente pessoas para entrarem no mercado e, assim, adquirir novos clientes. Modelo seguido com afinco por diversas outras empresas do setor, que duelam diariamente pela sua atenção nas redes sociais. 

Importante perceber que quanto mais a tecnologia avançar, for combinada e convergir, mais inovação e mais formas de influência, educação e liderança irão surgir. A educação tecnológica se torna, portanto, uma forma integrada de exercer influência para direcionar o uso da tecnologia para onde nossos valores humanos determinarem.  

Porque a educação começa com conhecimento, se expande para o pensamento e se transforma em cultura.

A cultura se encarrega de mover o coletivo, seja de uma família, de uma comunidade, de uma empresa ou de um país. Ela nos guia, por vezes inconscientemente, ditando o que acreditamos ser possível fazer. 

Líderes de organizações que estão no caminho da Economia Exponencial praticam educação tecnológica, têm adaptabilidade radical, sabem combinar tecnologias e usar criatividade para criar novas arquiteturas de negócios, confrontam culturas obsoletas e convivem perfeitamente em um mundo repleto de máquinas – mais inteligentes do que eles mesmos.  

 

eDUARDO IBRAHIM - Educação tecnológica, influência e cultura

Eduardo IBRAHIM é faculty da Singularity University Brazil e a maior referência em Economia Exponencial do país. Tem experiência como executivo, empreendedor e TEDx Speaker. Em suas palestras e consultorias, busca mostrar como a convergência de tecnologias exponenciais transformam radicalmente a economia, as carreiras e os negócios em todo mundo. Acesse: https://exonomics.com.br/ 

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