Carnificina | Felipe Gruetzmacher
Várias pessoas em situação de vulnerabilidade social estão desaparecendo misteriosamente em diversas partes do mundo. Finalmente, os governos admitem que isso é obra de alienígenas. Alguns meses após esses pronunciamentos oficiais, seres de outro planeta invadem a Terra e as forças militares entram em confronto. O que ninguém sabe é que esses supostos alienígenas são falsos: são os seres humanos que desapareceram misteriosamente. Eles tiveram a aparência modificada geneticamente e sofreram lavagem cerebral para acreditar que são criaturas do espaço.
Então, pessoas estão guerreando com outras sem conhecer a verdade! Quem está manipulando os peões nesse jogo mortal é uma indústria bélica que alcança fabulosos lucros vendendo armas com a permissão de políticos. É a higienização social alavancando o desempenho financeiro de poucos e destruindo muitos! A guerra não é só um problema moral: é um dilema sentimental, pois é um fenômeno que horroriza e entristece.
Qual é o papel da felicidade e dos debates éticos na indústria 4.0?
Na realidade, estamos vivendo uma outra guerra: a selvageria do mercado e do predomínio do ter e do aparecer nas redes sociais em vez de ser feliz autenticamente.
Principais insights
- O livro “O medo à Liberdade” do psicanalista Erich Fromm fornece algumas orientações. O propósito de usá-lo como base teórica é entender como as pessoas se relacionam com os próprios sentimentos delas e como a sociedade interfere nesses relacionamentos interiores.
- Portanto, espere um exame neutro, imparcial e objetivo sobre moral humana, felicidade e autoridade que podem fornecer um melhor entendimento sobre os males e infortúnios que tocam nossa vida.
- Liberdade é sinônimo da manifestação da livre habilidades e potencialidades do ser humano. Isso significa estar livre das limitações impostas pela cultura.
- É governar a si mesmo, pensar e sentir conforme deseja. Logo, existem condições econômicas e sociais que ampliam ou limitam a experiência humana de se relacionar com a liberdade.
Assim, o indivíduo se adapta à sociedade e aos padrões da cultura.
Existem dois tipos de adaptação:
- Estática: não altera o caráter humano ou a personalidade. É apenas a adoção de um novo hábito. No exemplo dado por Fromm, isso acontece quando um chinês começa a comer com garfo e faca, adotando uma maneira ocidental de manejar alimentos.
- Dinâmica: é quando a mudança de comportamento afeta a personalidade individual. Seria o caso de um rapaz que começa a se comportar de maneira educada só por medo do pai severo. Ele até pode sentir uma certa hostilidade contra a figura paterna, só que reprime esse sentimento. Essa repressão é a raiz de muita infelicidade e freia o desenvolvimento emocional das pessoas.
- Logo, modelos de trabalho exigem traços de caráter específicos. O escravo pensa, age e se sente diferente do trabalhador de uma empresa, por exemplo. O ambiente molda muitas características da natureza humana. Muito do caráter humano é formado pelas condições sociais, econômicas e culturais que o indivíduo experimenta quando criança. No nascimento do capitalismo, novas estruturas de caráter foram moldadas pelas características da economia e do progresso social.
- A compulsão pelo trabalho, paixão pela poupança, ser uma mera engrenagem dos mecanismos do mercado, ascetismo e um sentimento compulsivo de dever foram as forças psicológicas que encaixavam os indivíduos na economia capitalista. No final, todas as energias vitais humanas são canalizadas para o único propósito de aumentar lucro, uma finalidade externa.
- O ser humano precisa se sentir compreendido, aceito, acolhido e pertencente a um sistema de crenças em comum com seus semelhantes. São significados compartilhados.
- O professor é uma autoridade para o aluno. Os objetivos de ambos coincidem: enquanto um quer ensinar, o outro quer aprender. É a chamada autoridade racional. Liderar é servir.
- Já a autoridade inibidora é aquela manifestada na relação entre escravo e senhor: são interesses conflitantes. Apesar disso, o escravo é obrigado a obedecer ao senhor. Nesse exemplo, liderar é explorar.
- Existem casos em que a autoridade racional pode virar inibidora, quando o pai é severo demais com o próprio filho. São níveis muito sutis que só um exame das relações pode revelar.
- Uma pessoa de caráter autoritário se sente indefeso perante as fatalidades da vida. Um comerciante pode se sentir pequeno e indefeso perante uma crise econômica. No caso, o caráter autoritário é de uma pessoa que ama autoridades sem nenhum discernimento ou crítica. O comerciante do exemplo se sente insignificante diante do colapso da economia da mesma maneira que um escravo se sente indefeso diante de um senhor, uma autoridade inibidora.
Como essas ideias se aplicam a uma área de RH ética e estratégica?
- A gerência e a área de RH podem adotar modelos de trabalho mais flexíveis para permitir o livre desabrochar das potencialidades humanas. É alinhar talento e demanda.
- Com uma liderança justa, colaboradores seguirão as ordens por respeito e alinhamento com o propósito empresarial. É a chamada “adaptação estática”: uma assimilação de novos hábitos e jeitos de trabalhar que não significam submissão irracional ou medo.
- Psicólogos, cientistas e psicanalistas do setor público podem ser contratados para identificar se as pessoas temem alguma crise econômica iminente ou estão tranquilas. A sensação de prosperidade é uma questão de saúde coletiva: se há fartura, há investimento e geração de emprego.
- Empresas podem aproveitar os insights dessas pesquisas do setor público sobre saúde mental para agir como atores de um próspero ecossistema 4.0 e criar produtos que melhoram substantivamente a qualidade de vida humana. É um modo de canalizar as forças emocionais humanas para uma economia mais justa.
- O progresso econômico e a tecnologia devem se curvar diante das necessidades emocionais humanas. Com isso, até existem maiores chances de reduzir a jornada de trabalho com automatizações estratégicas e inteligentes.
Acolher pessoas em culturas corporativas humanizadas é outra maneira de trazer esperança, estabilidade e coesão. Lideranças empresariais podem adotar o tipo de autoridade racional, onde liderar é servir e desenvolver pessoas.
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Conto 13: Intrusos. Acesse aqui.
Felipe Emilio Gruetzmacher é formado em gestão ambiental, educação ambiental e se especializou em copywriter através de muitos cursos online, muita prática e dedicação. Autor na Comunidade EA é um dos mais lidos na plataforma. Tenta decifrar os enigmas do trabalho humano, até porque essas questões podem mudar os rumos da sociedade humana e acelerar a marcha da história rumo à Utopia.
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