A “Nova” liderança | Flavia Bendelá    

 

Há aqueles que atribuem ao momento atual do mercado a pecha de “apagão de líderes”, devido à grande dificuldade de encontrar pessoas com as habilidades adequadas para as exigências dos altos cargos corporativos. Contudo, observando todos os desafios que devem ser enfrentados por esses executivos, compreende-se o quanto são mais definitivas para o seu sucesso suas habilidades de relacionamento e comportamento (softskills) do que todo o seu conhecimento técnico (hardskills).  

Sem dúvida, esse é um tema empolgante que vem movimentando as pesquisas e publicações no sentido de se revisar as características de um bom líder e, sobretudo, de se estipular os critérios para tomadas de decisão de contratação e formação de talentos.  

A questão que se coloca é por que será que só agora estamos dando importância a essas habilidades? 

Liderança na filosofia

Platão, filósofo e matemático grego da Era Socrática, já trazia em “A República” uma visão do líder ideal para a melhor condução e organização estrutural e social da pólis. Para ele, a liderança deveria ser exercida por quem apresentasse as virtudes necessárias para tanto, ou seja, o mais sábio, nobre de alma, comprometido com a verdade e que colocasse o bem social acima da sua própria posição ou bem-estar. O líder consciente de seu papel para o progresso de todos. 

Ao escolher seus alunos, Platão os submetia a duras provas de conduta ética e caráter, para não correr o risco de passar o conhecimento àquele que não saberia honrá-lo. O pensamento admirável do filósofo, no entanto, deu origem, na contemporaneidade, ao uso da expressão “platônica” para atribuir a algo a característica de puramente ideal ou até mesmo utópico. 

Talvez tenha sido possível identificar com mais facilidade e frequência na nossa sociedade o alinhamento com os conceitos de Maquiavel, em que o líder precisa preservar sua posição e território a qualquer custo. Porém, o objetivo aqui não se trata de analogias com abordagem histórica ou filosófica, mas de um convite dirigido a quem ocupa as principais cadeiras corporativas: pense com honestidade, que tipo de líder você é?  

Após cem anos de estudos teórico-científicos e pesquisas acadêmicas e empíricas sobre o assunto, a Liderança hoje é pauta essencial a partir do consenso sobre dois aspectos fundamentais:  

  1. Deixa de lado o velho mito de “líder nato” e atribui à liderança um projeto de formação 
  2. A maior responsabilidade pelo sucesso ou fracasso das organizações depende inteiramente do líder

Lideranças fortes

Portanto, é urgente o líder se reinventar. Não basta apenas focar nas oportunidades de mercado, buscar aumento de competitividade, ganhos de rentabilidade ou mesmo se adequar agilmente às intempéries e mudanças cada vez mais dinâmicas do cenário, é preciso sobretudo ser ético e humano. Isto quer dizer, desenvolver capacidades (skills) voltadas para o coletivo. Incluir na estratégia responsabilidade social e diversidade, dar voz àqueles que estão na base da pirâmide corporativa, e demais stakeholders, criar ambientes de trabalho salutares e com segurança psicológica.  

Assim, todos devem ser valorizados como indivíduos, que usam seus melhores talentos em prol de fazer o negócio acontecer, pois compartilham de um propósito, um sentido. 

Essa é a fórmula atual de desenvolvimento de lideranças fortes, referências não só para suas equipes, mas para a sociedade. Os resultados de desempenho daqueles que assim o fazem já estão provados, só buscar as estatísticas nas inúmeras publicações sobre gestão empresarial. Além disso, as exigências de ESG (Environmental and Social Governance) junto às organizações são cada vez mais demandadas para se atrair investidores.  

O que falta, então? E aí voltamos ao meu convite.

O líder precisa olhar para si, se reconhecer verdadeiramente, ter vontade de mudar o que for preciso e aprender com humildade a ser um líder que faça diferença para as organizações, para suas equipes e, principalmente, para si mesmo.  

Quem sabe, assim, “platônico” volta a ser usado para designar àquele que segue os conceitos do filósofo. 

 

flavia - A “Nova” liderança

Flavia Bendelá fundou a DIS – Distrito de Inovação e Sustentabilidade. Como executiva, em mais de 20 anos de carreira, atuou no mercado financeiro e em empresas nacionais e globais. É empreendedora, palestrante TEDX, conselheira de empresas e membro do Núcleo de Inovação do Ibmec. Doutoranda em Business pela Rennes School of Business (França) e ainda, coordenadora de cursos executivos e docente em Estratégia de Negócios, Inovação, Sustentabilidade e Empreendedorismo. 

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