A guerra total! | Felipe Gruetzmacher
Uma inteligência artificial chamada Jigoku (inferno em japonês) declara guerra aos seres humanos. Ao invés de lançar um ataque direto com exércitos de robôs e combates propriamente físicos, Jigoku planeja outro tipo de estratégia. Como ninguém sabe da existência de Jigoku, a inteligência artificial começa a se passar por pessoas reais nas redes sociais com perfis falsos com o propósito de disseminar fake news. Consegue desestabilizar a economia mundial espalhando boatos de que o mundo todo sofre com uma crise econômica sem precedentes. Os seres humanos acreditam nas mentiras, perdem a confiança, empresários deixam de fazer investimentos nesse cenário de muita incerteza e reais crises acontecem. A partir disso, Jigoku prevê que a humanidade cavará a própria sepultura e terminará destruída por colapsos provocados por fake news.
Alguns insights:
- O conto sci-fi acima ajuda a compreender a principal característica da sociedade salarial: dependemos todos dos nossos empregos e trabalho para viver
- Executar um trabalho bem feito já virou sinônimo de sentido e propósito de vida (autorrealização). Nesse ponto, o trabalho assume um sentido espiritual
- O trabalho é o pilar da nossa vida, existência e autovalor!
- Pode existir vida fora do trabalho? Como podemos nos socializar e nos divertir se o tempo de trabalho for bruscamente reduzido com auxílio de máquinas e automatizações? Como ficarão nossos contatos sociais? Para responder esses questionamentos, vamos analisar as principais ideias da obra “Estigma – Notas sobre a Manipulação da identidade deteriorada” do autor Erving Goffman:
- Na obra, ele analisa as diferenças nas relações entre indivíduos “normais” e os estigmatizados. Um estigma é um tipo de relação entre alguma característica específica e um estereótipo (um tipo de padrão imposto pela sociedade). O estigma dificulta a inserção em grupos sociais, porque o senso comum já tem uma percepção pronta do que a pessoa estigmatizada pode fazer e o que ela não pode (estereótipo). O autor classifica o estigma em três tipos:
- Pessoas com deficiências
- Pessoas com falhas de caráter (desonestidade, vontade fraca, preguiça…)
- Pessoas de diferentes raças, nações ou regiões
- Se a sociedade souber lidar com as diferenças e as pessoas estigmatizadas no cotidiano, pode ser que exista maior possibilidade de socialização para todos e uma vida plena de sentido fora do trabalho e da criação da riqueza material
As ideias de Erving Goffman:
- As relações sociais estabelecem os meios de categorizar as pessoas e as características considerados como comuns e naturais ou estigmatizados
- Há maior probabilidade de pessoas estigmatizadas serem encontradas em locais específicos, porque a rotina social daquele lugar é mais acolhedora. Por exemplo: um curso de esportes para pessoas com deficiência
- Temos expectativas de como o outro se comportará nas rotinas e encontros sociais. Logo, uma pessoa estigmatizada possui duas identidades:
- Identidade social virtual: o que a sociedade espera dele
- Identidade social real: a verdadeira pessoa que ela é
- Podemos discriminar outras pessoas com base nessas diferenças, o que prejudica a interação social e a socialização de todos
- Nunca se saberá com antecedência como as pessoas reagirão ao estigma do indivíduo
- É óbvio que existe uma diferença entre a identidade virtual e a identidade real de uma pessoa. Se o indivíduo perceber que está sendo discriminado e os grupos estão julgando apenas o estereótipo e a identidade virtual, o estigmatizado pode se afastar desse mundo não receptivo. Por exemplo: Se um grupo social acredita que uma moça com deficiência visual é totalmente dependente de outras pessoas, ela poderá se afastar dele porque ninguém acredita na pessoa que ela realmente é
- Uma pessoa pode ter uma autoimagem poderosa e não precisar se rebaixar só por conta da estigmatização
- Qualquer pessoa constrói a identidade dela a partir de opiniões de outros indivíduos, apesar de existir uma considerável liberdade para a pessoa elaborar a própria identidade segundo critérios pessoais. Assim, uma pessoa com deficiência, por exemplo, pode construir uma autoimagem de alguém feliz, pleno e completo. Logo, a pessoa comum e o estigmatizado estão em contatos sociais envolvidos com perspectivas e expectativas
Conclusões:
Ninguém é uma ilha! A socialização, as amizades, a família e os contatos românticos são partes fundamentais da vida de qualquer pessoa! Como uma pessoa estigmatizada pode ser ela mesma e ser aceita por sua identidade social real? De que forma os encontros sociais poderão gerar mais qualidade de vida para todos? Temos que alcançar um equilíbrio entre trabalho e lazer, bem como gerar oportunidades reais para que cada indivíduo expresse a individualidade dele. Essa mentalidade de aceitação serve inclusive para os modelos de negócios HR tech: afinal, a diversidade agrega mais valor. Logo, todo o texto é resumido nessas questões-chave:
- Qual é o melhor jeito de conciliar vida social, labor e sentido nesses dois aspectos do cotidiano?
- Se a aceitação da diversidade é um tema urgente, seja nas empresas, seja na vida social, como acolhê-la nesses dois cenários?
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Conto 11: A cabeça do ciborgue. Acesse aqui.
Felipe Emilio Gruetzmacher é formado em gestão ambiental, educação ambiental e se especializou em copywriter através de muitos cursos online, muita prática e dedicação. Autor na Comunidade EA é um dos mais lidos na plataforma. Tenta decifrar os enigmas do trabalho humano, até porque essas questões podem mudar os rumos da sociedade humana e acelerar a marcha da história rumo à Utopia.
https://www.linkedin.com/in/felipegruetzmacher/
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