Você R$ 419 milhões injetados no seu negócio? | Maira Reis

 

Uma das frases que eu mais escuto as pessoas falando quando se trata de diversidade é:
– Diversidade é o certo a ser feito.

E eu sempre questiono:
– Tá, mas tem um monte de outras coisas que é o certo a ser feito e nem por isso uma empresa realiza.

Eu acredito que a sensibilização sobre o tema tem hora e momento certo a ser feita. Porém, você, como empresário, não pode “passar do ponto”, ou seja, não pode ficar falando e falando sem conectar o tema com o negócio, com a empresa em si.

Pesquisa da Out Leadership, associação internacional que promove iniciativas para a comunidade LGBT+, apresentou estimativa de que o poder de compra desta comunidade, só no Brasil, é de R$ 419 milhões, ou seja, 10% do PIB.

E qual empresa que não deseja que um pouco desse capital seja injetado no seu negócio?

Estamos falando muito mais do que você pensa sobre a questão, se é ou não a favor de que homossexuais possam se casar, se isso é certo ou não, e se a comunidade LGBT+ pode ou não adotar um filho.

Estamos falando de público consumidor, de dinheiro, de procura e demanda, de desenvolvimento de produto. Estamos falando que você não precisa abdicar do seu atual público-alvo consumidor, mas sim saber como atrair, reter e entender as demandas da comunidade LGBT+ para comprar o seu produto.

Ah, mas você não quer vender para LGBT+? Tudo bem, azar seu.

Só que saiba que é praticamente impossível escapar da conexão com essa comunidade, pois, se brincar, há LGBT+ dentro da sua empresa. E aí, como eles estão se desenvolvendo como profissionais? São respeitados pelo que são, mesmo tendo as suas expressões de gênero muito afeminadas ou muito masculinizadas?

O que quero te chamar a atenção é que o seu colaborador LGBT+ pode ser o mais engajado e dedicado do mundo, mas se ele não for respeitado pelo que é, além dele, em breve, mudar de emprego, você também está praticando um crime. Sim, isso mesmo que você leu, um crime. A LGBTfobia foi aprovada no Brasil, ou seja, se o seu ambiente interno não for inclusivo, respeitoso e que aceita todas as pessoas pelo que elas são, agora, é só atravessar a rua e fazer um boletim de ocorrência.

Ou seja, você não tem mais escolha. Ou você começa a desenvolver na empresa processos internos para que as “brincadeiras” LGBTfóbicas acabem, ou como empregador terá que gastar uma bela grana com advogados.

E é bom deixar uma coisa bem clara aqui: se a “brincadeira” constrange alguém NÃO é brincadeira, mas sim, desrespeito.

Mas se você, dono de uma empresa, ou mesmo colegas de trabalho, acham que um profissional LGBT+ está se divertindo também, não é bem assim. Pessoas acabam aceitando “brincadeiras”, principalmente vindo de líderes porque elas não têm escolha. Elas precisam daquele trabalho (até arrumarem outro).

Então, antes de fazer uma brincadeira, pense realmente se está brincando com alguém ou se está constrangendo uma pessoa LGBT+ que trabalha ao seu lado.

Por fim, eu imploro: não tire “ninguém do armário”. Isso não é direito seu e se uma pessoa LGBT+ (mesmo que você saiba que ela é LGBT+) quiser passar a vida inteira dela escondendo quem ela é, é problema dela. Isso traz uma reflexão:

– Será mesmo que o seu ambiente interno de trabalho está tão receptivo para que uma pessoa LGBT+ se sentir confortável para falar da intimidade dela?

Pense sobre isso, pense junto com o seu departamento de gestão de pessoas.

 

maira reis - Você quer uma fatia de R$ 419 milhões injetada no seu negócio?
Maira Reis é jornalista e palestrante LGBTQIAP+. Fundou a Camaleao.co (LIN), startup que conecta oportunidades de emprego com a comunidade LGBTQIAP+.

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