Por Margarete Chinaglia
O mercado de trabalho brasileiro está diante de uma virada histórica. Até pouco tempo, envelhecer era sinônimo de exclusão. Aposentar-se significava deixar o jogo, mesmo quando havia experiência, energia e competência de sobra. Hoje, a realidade começa a se transformar. Amanhã, será inevitável: os profissionais 50+ e 60+ assumirão o protagonismo da economia. A pergunta é:
Você, líder ou empresa, estão preparados para isso?
Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua – PNAD Contínua, 24% da força de trabalho brasileira já está nessa faixa etária. E a tendência é clara: em menos de uma década, esse percentual crescerá ainda mais, acompanhando o envelhecimento acelerado da população. O que antes parecia exceção agora se torna regra. Ignorar esse movimento é mais do que preconceito — é miopia estratégica.
Durante décadas, prevaleceu a lógica do descarte. A trajetória profissional era linear: estudar, trabalhar duro, se aposentar. A idade era vista como sinônimo de perda de produtividade, e não de acúmulo de sabedoria. Muitas empresas, até hoje, insistem em vagas com limite etário, entrevistas enviesadas e ausência de planos de carreira para quem já ultrapassou os 50 anos.
E aqui fica a provocação:
Quanto talento você já perdeu por acreditar que a data de nascimento define a competência de alguém?
Há sinais de ruptura. Pesquisas mostram que equipes multigeracionais têm desempenho até 20% superior às homogêneas, segundo a Associação Americana de Pessoas Aposentadas – AARP. Além disso, empresas que investem em profissionais maduros reduzem turnover em até 30% e ampliam engajamento, justamente porque encontram nesses colaboradores estabilidade, lealdade e senso de responsabilidade.
O estereótipo de que o profissional 50+ não se adapta à tecnologia também perde força.
Muitos estão empreendendo, assumindo funções de consultoria, mentorando gerações mais jovens e atualizando suas competências digitais.
É evidente que experiência somada à adaptabilidade é o novo diferencial competitivo.
Mas o que falta para transformar essa tendência em realidade consolidada?
O futuro exige ação prática. É preciso adotar políticas corporativas de diversidade etária, com metas claras para compor times intergeracionais. Modelos híbridos de carreira também se tornam indispensáveis, permitindo que profissionais maduros atuem com flexibilidade em jornadas reduzidas, programas de mentoria ou papéis de liderança técnica. O investimento em capacitação contínua deve deixar de ser slogan para virar prática acessível a todas as idades, permitindo que o aprendizado acompanhe a vida inteira.
Os processos seletivos também precisam de revisão urgente.
É hora de trocar filtros excludentes por avaliações de competência real, olhando para entregas e habilidades de resolução de problemas, e não para a data de nascimento. E sejamos francos: se uma empresa ainda elimina currículos pela idade, talvez não seja o profissional que esteja velho, mas a mentalidade dessa organização.
O protagonismo dos profissionais 50+ e 60+ não pode ser tratado como uma pauta humanitária ou de responsabilidade social. É uma questão econômica, estratégica e inevitável. Um país que envelhece não pode desperdiçar inteligência, redes de relacionamento e maturidade emocional.
As próximas décadas não serão definidas por quem tem mais juventude ou mais idade, mas por quem souber construir pontes entre gerações.
E aqui vai o recado final: empresas que compreenderem essa realidade agora estarão na vanguarda do mercado. As que demorarem para agir, ficarão presas ao passado, perdendo os melhores talentos para concorrentes mais visionários.
Afinal, o futuro do trabalho já chegou. E ele tem cabelos grisalhos.
Não é sobre incluir por bondade, é sobre sobreviver por estratégia: o mercado 50+, 60+ já é tendência irreversível.
Margarete Chinaglia é consultora e coach de Carreira, palestrante Diversidade e Inclusão Etária, farmacêutica Bioquímica (UNESP) e escritora. Integra o creators Linkedin. Tem especialização em Gestão e Promoção à Saúde (FGV), em Administração Hospitalar (UNIFAE) e MBA em Auditoria em Serviços de Saúde (IBEPEX). Colunista EA “Tendências de Carreira”.
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