Uma conexão improvável | Paulo Almeida

 

A conexão entre liderança e arte serão assim tão improváveis?
A abordagem da liderança integral pressupõe o desenvolvimento do potencial de contribuição do indivíduo e da organização para o aprimoramento de uma sociedade mais consciente, inclusiva, equalitária e com aspiração para uma vida mais feliz e equilibrada.

Em tempos de democratização do acesso à informação e ao conhecimento espera-se mudanças aceleradas que revolucionem o pensar e o agir. Mais do que nunca, é necessário dar saltos de consciência para a evolução saudável, sustentável e disruptiva de iniciativas norteadas por princípios e valores.

Com todo esse movimento pode parecer complicado para as lideranças equilibrarem a promoção de negócios com propósito e a geração de impacto positivo, o desenvolvimento da economia social e a prática do capitalismo consciente. A verdade é que todos esses elementos merecem espaço na pauta e devem ser reconhecidos como propulsores de uma liderança integral.

E o que a arte, o estilo de vida e o propósito nos ensinam sobre liderança integral?
No mundo corporativo, não é segredo que os negócios geralmente são dominados pelo lado esquerdo analítico, lógico e organizado do cérebro. E é fato, que muitas lideranças não exploraram completamente seu lado direito do cérebro, de espírito livre, que se concentra na intuição, imaginação e criatividade. Um dos maiores desafios que um líder de negócios enfrenta é o de gerar paixão, reunir energias e estimular a mudança entre suas equipes para trabalhar e alcançar seus objetivos comuns. O papel da arte aqui é se relacionar e se envolver com eles e ajudá-los a se conectar com suas paixões.

Sendo a arte um meio que depende da comunicação para transmitir uma mensagem, ela pode ser uma ótima forma de expressão para facilitar a colaboração e ajudar a resolver desafios no local de trabalho. As artes têm a capacidade de atualizar conceitos estéticos na mente de uma pessoa e levar um líder a inovar e gerar novas ideias e possibilidades como soluções para os desafios de negócios. A expressão criativa no mundo corporativo vem ganhando espaço na perspectiva das escolas de gestão e de negócios.

Programas dedicados à valorização e experiência coletiva com vivências de aspectos comportamentais e da arte tem promovido movimentos que favorecem e permitem explorar novas experiências. Um dos significados de inspiração é atrair ar para os pulmões, respirar, renovar.

Estes aspectos estéticos de liderança estão fortemente alinhados aos papéis sociais dos artistas.

Lideranças que nutrem em suas equipes um alinhamento entre o propósito pessoal e o propósito organizacional alcançam entregas com valor superior, pessoas mais engajadas, realizadas e felizes. Portanto, não é apenas possível, é imperativo integrar os papéis de gestor e artista para enfrentar as complexidades da economia global, da política, dos problemas sociais e culturais que lhe estão associados.

E, também: fazer arte é melhorar a vida!

Nietzsche escreveu em “O Nascimento da Tragédia” que quando somos confrontados com a as circunstâncias mais terríveis, “a arte aproxima-se como uma feiticeira salvadora, especialista na cura. Só ela sabe como tornar estes pensamentos nauseabundos sobre a horror ou absurdo da existência em noções com as quais se pode viver”.

As ameaças estimulam novas respostas criativas
Uma vez que a cura através da arte é uma das práticas culturais mais antigas no mundo, é curioso que algumas pessoas rejeitem esforços para reavivar esta tradição como uma prática da “Nova Era”. O gestor técnico deve combinar a racionalidade ao entusiasmo pelos rituais que exploram a criatividade e a inspiração. A narrativa é atributo que inspira e mobiliza, possibilitando promover diálogo aberto e vontade contínua de ouvir.

Portanto, para alcançar os mais altos níveis de liderança é necessário combinar a racionalidade técnica, com a criatividade e a inspiração. Os artistas são conhecidos por serem pioneiros da invenção e experimentais por natureza, com suas ideias, tornando-os líderes inatos.

Inovação, pensamento, imaginação
A inovação, em particular, baseia-se no pensamento e na imaginação, que quando combinados têm o potencial de produzir resultados e conceitos notáveis. Dito isto, inovação não costuma ser um conceito facilmente exposto, mas sim aquele que vem à tona, em conjunto com a criatividade. As artes têm a capacidade de atualizar esses conceitos estéticos na mente de uma pessoa e levar um líder a inovar e gerar novas ideias e possibilidades como soluções para os desafios de negócios.

Como disse certa vez Pablo Picasso, “A inspiração existe, ela tem que te encontrar trabalhando”. Essas palavras, quando gravadas na mente e no coração de um líder, podem percorrer um longo caminho na criação de uma cultura corporativa movida pela arte, paixão, criatividade, e pelo desejo de fazer melhor em todos os momentos. Se atreva!

 

Paulo Almeida ColunistaEA scaled

Paulo Almeida é professor da FDC Business School (Fundação Dom Cabral) com foco em Liderança e Pessoas. Trabalhou em Bancos Centrais, Mercado Financeiro, Varejo, Digital e foi VP e CEO de Startups. De sua autoria, entre livros e artigos, tem mais de 200 publicações.

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