MODALIDADES DE EDUCAÇÃO | Derick Casagrande Santiago 

 

EA – Há futuro para a aprendizagem presencial?
Derick  A aprendizagem presencial continuará relevante para o percurso formativo em decorrência das práticas e experiências didático-pedagógicas por ela proporcionadas, além das relações e trocas estabelecidas entre os estudantes que extrapolam os conteúdos curriculares. Mesmo com a manutenção da aprendizagem presencial, é evidente que não se trata de uma “clássica sala de aula”, tampouco de uma sala de aula antes da pandemia. As experiências educacionais recentes intensificaram o processo de mudança da sala de aula, tanto no aspecto físico e infraestrutural como no aspecto relativo às estratégias de ensino-aprendizagem.  

Dadas as necessidades impostas pela pandemia, o ensino passou a ser baseado na adoção de tecnologias digitais da informação e comunicação e, em grande medida, na adoção de metodologias ativas, o que intensificou as inovações na esfera educacional. Nesse sentido, a tendência é que a organização e a dinâmica das salas de aula sejam redefinidas, o que não significa sua extinção.  

EA – Qual a diferença entre as modalidades educação a distância e o ensino remoto?
Derick O ensino remoto consiste em conjunto de estratégias de aprendizagem como uma alternativa, por meio da adoção de tecnologias digitais de informação e comunicação, para prosseguir com o processo de ensino aprendizagem. Embora tais tecnologias permitam interações síncronas e assíncronas entre os professores e os estudantes, são mantidos os horários regulares das aulas presenciais. Assim, é priorizada a realização de aulas em tempo real de forma que a relação entre professor e aluno seja direta. A abordagem dos conteúdos e o processo de construção do conhecimento ocorrem, assim como nas aulas presenciais, dependendo da dinâmica e das práticas adotadas pelo professor, simultânea e coletivamente.  

Outro aspecto favorável se refere à possibilidade dos alunos terem respostas imediatas sobre suas dúvidas ou dificuldades. Já por parte do professor, nesses casos, exige-se uma capacidade improvisação no sentido de formular explicações e citar exemplos para tornar o conteúdo compreensível. 

Ela também se fundamenta pela adoção das tecnologias digitais de informação e comunicação, mas parte do princípio de que os professores e os alunos interajam, se não durante todo o curso, em grande parte dele, em tempos e espaços diferentes. Nessa modalidade as aulas são gravadas e o material didático é elaborado previamente para atender todos os alunos de forma abrangente e padronizada, permitindo que cada aluno estabeleça seu próprio horário e ritmo de estudos.  

EA – Como se articula essa nova relação professor-aluno?
Derick A relação entre professor e aluno não é estabelecida de forma direta, uma vez que as atividades não ocorrem predominantemente de forma síncrona. Além disso, é fundamental a presença do professor tutor, responsável pela mediação, orientação e acompanhamento constantes dos alunos, motivando-os a participar e realizar as atividades propostas, bem como tirar dúvidas dos conteúdos das disciplinas. 

Se o ensino remoto corresponde à uma resposta emergencial, sendo seu exercício autorizado por tempo delimitado, fica evidenciado seu aspecto temporário. A EaD, ao contrário, correspondendo a uma modalidade regulamentada, apresenta caráter permanente. 

EA – O que vem sendo tratado hoje na evolução da EAD?
Derick Práticas e estratégias pedagógicas baseadas em metodologias ativas. Trata-se de propor atividades que, permeadas por metodologias inovadoras, contribuam para o desenvolvimento da autonomia e de um perfil proativo por parte dos estudantes. Além disso, o conjunto de conhecimento construído pelas propostas pedagógicas deve ser relacionado à realidade e aplicação prática na vida dos estudantes. 

EA – As universidades corporativas estão se remodelando? De que forma?
Derick Assim como os outros níveis educacionais e as diferentes instituições de ensino sofreram impactos com a pandemia, novas questões são colocadas às universidades corporativas para que melhor se adequem às novas exigências. Dessa forma, as mudanças consistem na adoção de novas e recentes abordagens metodológicas com tecnologias digitais de informação e comunicação, garantindo trocas e incentivando a construção de soluções colaborativas.  

 “As práticas propostas e os conhecimentos compartilhados devem contribuir para o estabelecimento de uma cultura favorável à aprendizagem e ao desenvolvimento de habilidades requeridas pelas empresas e ocupações corporativas.” 

EA – Nosso tempo traz conhecimento do google à instrucionais em universidades corporativas, mas o que melhor aprender, como e onde?
Derick Com o advento e desenvolvimento de tecnologias digitais de informação e comunicação, além do uso massivo da internet, muitas são as fontes de consulta e pesquisa para a construção e aprofundamento de conhecimentos em diferentes áreas. No entanto, é fundamental atentar-se para as fontes consultadas e a veracidade dos dados e informações disponibilizadas.  

 “Ao pesquisar materiais, conteúdos e até mesmo cursos, é necessária uma percepção analítica e crítica quanto ao que é conteúdo para que a formação não seja prejudicial e seja adequada e coerente, correspondendo com a realidade e com definições precisas acerca dos conceitos, fatos e processos pesquisados.” 

EA – Qual seria o bom método para pesquisar conhecimentos?
Derick Para consultas e pesquisas pontuais, desde que não haja interesse ou necessidade de aprofundamento, é possível usar sites de buscas para localizar sites e outras fontes confiáveis.

Para conhecimento mais aprofundado cujo objetivo seja uma formação e/ou especialização específica, é aconselhável a busca por cursos de instituições de ensino reconhecidas, com docentes com formação acadêmica aderente à área, com um ambiente virtual de aprendizagem e possibilidade de certificação ao término do curso. Cursos oferecidos por instituições seguem normas e legislações, apresentando rigor e estabelecendo ao aluno rotinas de estudos para acompanhamento e formação adequados. 

EA – Como foi a adesão de seus alunos as aulas online?
Derick A adesão é bem satisfatória. Eles compreenderam que se trata de uma medida temporária para manter as aulas dos cursos durante a pandemia. Além disso, é necessário adotar uma postura mais flexível, uma vez que a presença, participação e acompanhamento das aulas dependem das condições de conexão com a internet, além de equipamentos como câmera e microfone. Quanto ao domínio e adaptação dos professores aos recursos tecnológicos, foram realizadas capacitações para que conhecessem suas funcionalidades e formas de uso, além de evidenciar as diferenças entre o ensino presencial, a EaD e o ensino remoto. Além das capacitações, durante a realização das aulas, os professores são acompanhados e recebem, se necessário, apoio do Núcleo de Educação a Distância (NEAD). 

EA – O que está sendo feito pelas instituições privadas, ONGs e pelo governo para democratizar acesso à internet?
Derick É imprescindível uma conexão com a internet de qualidade para que os materiais e conteúdos das aulas remotas possam ser acessados e, assim, os estudantes possam acompanhar as aulas, principalmente pela exigência de dados que cada recurso requer, uma aula síncrona com câmeras e microfones abertos exige mais dados que o acesso a um texto, por exemplo.  

Para sanar essa questão e garantir minimamente as condições para que os estudantes acompanhem as disciplinas, instituições privadas de ensino, ONGS e o governo têm desenvolvido diferentes ações, dentre elas, parcerias com operadoras de telefonia móvel e concessões de pacotes de dados mediante matrícula em curso da instituição. 

EA – Como coordenador de um núcleo EAD, quais as principais questões focais hoje?
Derick Considerando a adoção e prática do ensino remoto, destaco o planejamento estratégico e a adoção de práticas didático-pedagógicas coerentes com a adaptação do ensino presencial para o remoto. É algo complexo por exigir mais preparação por parte do professor e, ao mesmo tempo, instigar a participação e envolvimento dos estudantes durante as aulas e nas atividades propostas antes e depois delas. 

 “O papel mais poderoso de um professor hoje, acredito que seja contribuir para os estudantes descobrirem autonomamente, da melhor forma possível, a viver nesse mundo em transformação.” 

EA – Sua primeira formação foi a sociologia, como observa as relações humanas no mundo virtual?
Derick A pandemia nos impôs novas experiências e evidenciou nossas possibilidades de adaptação a novos cenários. De forma geral, o conjunto das relações sociais sofreram impactos, não apenas as relações no âmbito educacional, mas as relações de trabalho também. No contexto específico em questão, reorganizamos nossas vidas e reorientamos nossos comportamentos a partir de conexões virtuais e uso intensificado das tecnologias.  

EA – Temos duas identidades, a real e a virtual?
Derick Não acredito que haja duas identidades, uma real e outra virtual, mas que, assim como em diferentes situações, os comportamentos são orientados conforme as regras e normas permitidas em cada situação. Assim, as mesmas pessoas podem se comportar de maneiras diferentes em momentos profissionais e de lazer mesmo que virtualmente, uma vez que cada situação permite determinados comportamentos. 

 

DERECK - Modalidades de educação

Derick Casagrande Santiago é coordenador do Núcleo de Educação a Distância (NEAD) e docente da Sociologia e Política – Escola de Humanidades (FESP-SP). É sociólogo, mestre em Educação com pós-graduação lato sensu em Educação e Tecnologia: Gestão da EaD e em Globalização e Cultura. 

https://www.linkedin.com/in/derickcs/ 

 

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