EA – Inteligência artificial está em todos os contextos de nossa vida, não?
Alexandre Pois é, a Inteligência Artificial é pervasiva e praticamente onipresente no mundo digital. Ela está nos nossos celulares, quando desbloqueamos nossa tela de celular com a nossa face, ela está nas recomendações de filme que recebemos do nosso canal de streaming preferido, está na escolha do que veremos nas nossas redes sociais, na aprovação de nosso crédito nos bancos, em quanto vamos pagar o nosso seguro de carro, no desenvolvimento de novos medicamentos, entre tantas coisas.

EA – As pessoas conseguem perceber isso de forma prática, real, em seu cotidiano?
Alexandre Até bem pouco tempo atrás, essas aplicações de Inteligência Artificial estavam lá, mas não eram tão evidentes para a população comum. Elas eram em sua maioria, invisíveis ao cidadão médio. Em 2022, isso começou a mudar com um grande impulso que tivemos com um tipo de Inteligência Artificial (IA), a IA Generativa, e uma solução que gerou um grande hype em que vivemos, o ChatGPT. Na medida em que passamos a poder “conversar” com esses algoritmos usando o nosso próprio idioma, começamos a perceber de maneira muito mais clara a capacidade desta tecnologia. Quando perguntamos a um algoritmo os temas mais variados, e ele tem respostas consistentes, começamos a ter mais consciência do poder desta tecnologia.

EA – Onde IA está mais integrada, visível no universo do trabalho, em uma empresa?
Alexandre Chamamos de IA uma tecnologia multifacetada que vem evoluindo desde a década de 50. Por conta disso, muito das tecnologias que usamos no mundo digital, pode ser chamada de IA. A IA se confunde com a própria computação e os algoritmos. Do ponto de vista de negócios, uma boa forma de classificar a IA está em sua finalidade.

Temos IAs que são usadas para a automatização de processos, como o RPA (Robotic Process Automation), ou para a identificação de padrões, que usam a análise estatística e, muitas vezes, a aprendizagem de máquina para identificar, fraudes, falhas, categorias, anomalias, outliers, podemos usá-la para identificar imagens, objetos, faces com o que chamamos de Visão Computacional, ou ainda para processar linguagem humana, na interpretação de conteúdo escrito ou falado, resumo, tradução, comparação, que demos o nome de NLP (Natural Language Processing) que traduzido fica algo como Processamento de Linguagem Natural.

As organizações incorporam algoritmos em hardwares cada vez mais poderosos composto de sensores e atuadores, que chamamos de robótica, há ainda a capacidade de simular situações em ambientes digitais em aplicações de Gêmeos Digitais, e por fim, é possível usar IA para gerar conteúdos escritos, falados, imagens e vídeos, no que conhecemos como IA Generativa. Nas empresas as aplicações destas tecnologias em diversos contextos são infinitas.

EA – Em nosso lar, em quê, onde há IA?
Alexandre Em nosso celular há muita Inteligência Artificial embarcada. São corretores automáticos, são leitores de informações biométricas como nossas faces, polegares, batimentos cardíacos ou número de passos ou ainda, são assistentes virtuais como o Siri ou o Google só para citar alguns.

Há também muitos eletrodomésticos com IA embarcada. Desde nossas SmartTVs que se conectam com outros dispositivos, ou aceitam comandos de voz, passando por fones de ouvido que identificam ruídos e eliminam-o de uma conversa em uma reunião de trabalho em home office, passando por dispositivos como o Alexa que permite que você controle uma série de outros dispositivos domésticos ou busque informações sobre o clima ou um prestador de serviços naquele momento.

Controles inteligentes em diversos aparelhos permitem avaliar em tempo real o contexto e fazer alterações de suas atividades. É o sensor do celular identificando se ele está mais quente que o normal ou tem água em uma das suas extremidades, ou o termostato do seu forno, percebendo que ele está ligado a mais tempo que o normal e se desligando automaticamente.

EA – Podemos dizer que contextos de AI já estão presentes em cursos como administração, psicologia ou mesmo marketing?
Alexandre As disciplinas de tecnologia dentro dos cursos de humanas vêm se tornando cada vez mais disciplinas obrigatórias. Vejo um crescente interesse deste tema em diversas profissões. É claro que a abordagem de um curso de tecnologia e um curso como administração, psicologia ou marketing é muito diferente.

Nos cursos de tecnologia, a busca está em se aprender a capacidade de evoluir com a tecnologia, entender em detalhes como ela funciona, quais são suas limitações e o que se pode fazer através delas. Já nos cursos de humanas a abordagem é a de usuário. Como estas tecnologias podem ser usadas para ajudar nas atividades do cotidiano. O que está disponível, o que estas tecnologias fazem e o que elas não são capazes de fazer. A abordagem é ferramental.

De toda forma, a grande maioria das escolas de ensino superior ainda está engatinhando no sentido de trazer mais aspectos de tecnologia para suas aulas. Os currículos escolares, e as ementas das disciplinas não estão conseguindo acompanhar o ritmo frenético da inovação tecnológica, e alunos, professores e instituições estão sentido esse desafio e buscando maneira de superá-los.

EA – Você é estudioso de inovação, mas o que é inovação? Empresas estão criando diretorias de inovação que não “falam” com a cultura. Como mudar este cenário?
Alexandre Muita gente relaciona inovação com tecnologia, mas inovação vai muito além da tecnologia. Inovação é uma forma de incorporar elementos novos em um produto, serviço, processo, negócio ou ecossistema. Esses elementos podem ser de cunho tecnológico, mas pode ser uma nova funcionalidade ou característica, uma nova forma de produção ou modelo de negócios, uma nova organização, a abertura de um novo mercado ou ainda a conquista de uma nova fonte de recurso.

Ela pode ser de caráter incremental, ou ser uma inovação radical que é algo muito melhor do que o que havia antes, ou ainda disruptiva, começando com uma performance inferior do que o que existe como solução, mas muito rapidamente chegar a níveis de performance surpreendentes.

As tecnologias digitais como a Inteligência Artificial muitas vezes adotam esta última forma, a disruptiva.

Inovação não é um departamento ou área, é sim um processo vital dentro das organizações. É possível criar áreas e/ou diretorias para orquestrar ou trazer um maior foco neste processo, mas não é razoável, no meu modo de compreender que estas áreas sejam as únicas responsáveis pela inovação em uma organização. Essas áreas e/ou processos precisam ser formatados respeitando a cultura e valores organizacionais e muitas vezes sendo um elemento de mudança e adequação desta cultura.

A gestão da inovação tem muitos elementos diferentes da gestão tradicional. Uma abraça o erro e busca trabalhar em ambientes de incerteza na busca da eficácia, enquanto a outra está preocupada em eliminar o erro, aumentar a eficiência em ambientes de pouca incerteza.

As lideranças precisam compreender melhor o momento revolucionário que essas novas tecnologias proporcionam, e o impacto disso nos negócios. Inovar é a palavra de ordem, e a gestão precisa estar preparada para esta capacidade de dar eficiência continua para negócios bem estabelecidos enquanto garante foco e recursos em atividades de inovação que asseguram o futuro dos negócios.

As competências são outras e este é um esforço organizacional, que exige a construção de novos caminhos, estruturas organizacionais, processos e estratégias.

EA – Todo líder, independente de área de atuação, precisa entender de tecnologia?
Alexandre Tecnologia é repertório. Sem repertório tecnológico, não se inova. Com a revolução tecnológica que vivemos, precisaremos cada vez mais de líderes visionários que permitam a construção de futuros melhores para a sociedade. Produtos, serviços, processos e modelos de negócios melhores. Ecossistemas mais eficientes e que gerem menor impacto ao planeta, que resolva problemas sociais, econômicos e ambientas crônicos.

O líder que não tem um conhecimento básico das principais tecnologias e suas capacidades terá muita dificuldade de construir e compartilhar essa visão com seus colegas. Terá dificuldade inclusive de consolidar e executar essa visão.

Sem a compreensão destas tecnologias corre-se dois riscos muito comuns nas organizações de hoje: o primeiro deles o do pensamento mágico, que minimiza a jornada, os desafios e os esforços para uma transformação digital e tecnológica robusta em uma organização, o segundo, o da obsolescência, negligenciando os custos crescentes da não inovação e deixando a organização cada vez mais ultrapassada e com pouquíssimas alternativas de um futuro viável.

Ambos os riscos são muito perigosos e podem trazer frustrações, prejuízos financeiros e no limite levar a organização a falência.

EA – Da mesma forma, a grade de T&D das empresas, precisaria aproximar tecnologia, IA, inovação de todo o quadro de colaboradores. Isso está acontecendo?
Alexandre Inovação tecnológica exige novas competências organizacionais. Empresas que estão dispostas a desenvolver tecnologia própria, ou criar soluções próprias utilizando a vasta gama de tecnologias inovadoras disponíveis precisa ter a capacidade de garantir que essas novas competências sejam desenvolvidas internamente. Falando especificamente sobre IA, se eu quero lançar produtos que utilizem Inteligência Artificial em meu mercado, eu preciso desenvolver competências de MLDevOps, ou processos de Desenvolvimento e Operação de algoritmos de Aprendizagem de Máquina.

Esse processo garante que eu tenha fluxos estabelecidos de construção de algoritmos de Machine Learning de maneira continua e estruturada, pensando em segurança, escalabilidade, controle de qualidade, acurácia entre outros elementos.

Quando falo de pensamento mágico, vejo que muitos gestores confundem o uso de soluções de IA como indivíduo com a construção de um produto ou serviço baseado em IA que irá lidar com uma gama enorme de clientes e usuários.

Uma solução de IA funcionar na máquina de um desenvolvedor de sua empresa ou fornecedor é muito diferente do que funcionar para milhares de clientes ou usuários. Ainda vejo pouca maturidade organizacional neste sentido na maioria das empresas. Uma competência essencial aos novos gestores é o pensamento sistêmico e complexo, e esta competência, infelizmente, está em falta.

EA – Há sempre um cenário ‘temeroso’ sobre futuros de IA.
Alexandre Novas tecnologias criam novas possibilidades, e novas tecnologias poderosas, criam também possibilidades poderosas. Não é sem razão que há tanta discussão sobre possíveis cenários temerosos com o uso de IA. Trata-se de uma tecnologia abrangente, cada vez mais democrática por estar mais acessível (geograficamente e do ponto de vista de custos).

Pessoas mal-intencionadas podem contar com estas tecnologias para fazer estragos cada vez mais impactantes.

Em maio de 2023 a I2AI organizou um evento com o CRDF Global para conscientizar influenciadores sobre os potenciais impactos negativos do mal uso de IA, que inclui ataques cibernéticos cada vez mais sofisticados, a construção de Deep Fakes para a manipulação em massa em eleições, guerras e conflitos, e a capacidade de construção de novas armas químicas em poucas horas, só pra citar alguns.

A Netflix tem lançado excelentes documentários sobre o tema como Coded Bias, O Dilema das Redes e Robôs Assassinos. A questão, ao meu ver, não é tanto tecnológica, mas sim ética e moral. Neste sentido, nós humanos precisamos continuar evoluindo como espécie, só assim podemos garantir o uso responsável desta tecnologia.

A regulação neste sentido, desde que adequada, e a busca de mecanismos de cumprimento da lei no mundo digital são muito importantes e bem-vindos. Elas deveriam mitigar o mal uso e, ao mesmo tempo, permitir o desenvolvimento tecnológico para produzir produtos e soluções cada vez mais performáticos para a sociedade.

Há ainda o credo por parte de alguns que a IA, como tecnologia, possa um dia chegar a ter consciência e poder tomar decisões independentemente e à revelia de nós humanos.

Neste sentido, há muita gente discutindo o problema de alinhamento, para garantir de alguma forma, por design, que essas tecnologias de IA estejam alinhadas aos valores humanos deste sempre. As 3 Leis de Asimov talvez seja o primeiro esboço de como deveria ser o alinhamento mínimo entre humanos e uma IA senciente. Confesso que eu particularmente não tenho uma opinião formada sobre a possibilidade de criarmos uma consciência artificial, até pela falta de uma definição comum ou científica do que é consciência.

EA – Você é uma das principais referências em IA no Brasil, fundou a Associação Internacional de Inteligência Artificial. Qual o propósito dela?
Alexandre Agradeço e me sinto honrado pela referência. A Associação Internacional de Inteligência Artificial ou I2AI (International Association of Artificial Intelligence) é um sonho de poder conectar pessoas, academia, governo, empresas e startups e ajudar neste processo de adoção de IA de forma ética e responsável.

Finalizei meu mestrado em 2011 onde conheci mais a fundo o potencial das novas tecnologias ligadas a IA. Meu mestrado propunha o uso de redes bayesianas para criar cenários dinâmicos que se alimentava de novas informações em tempo real. Nesta época, os recursos computacionais ainda eram escassos e a limitação de uso nas organizações ainda era bastante grande.

Quando fui convidado para conhecer melhor o potencial das tecnologias de IA na recém lançada plataforma do Watson da IBM em 2016 percebi o quanto esta tecnologia havia avançado em tão pouco tempo. Consegui visualizar o potencial disruptivo e imenso que estava se consolidando e não tive dúvidas que aquilo seria altamente revolucionário, com impactos parecidos ou maiores do que a própria internet.

Assim, ao sair do mundo corporativo em 2017, pus quase todas as minhas fichas nesta nova tecnologia, e também em como garantir que as pessoas não ficassem pra trás nesta revolução. A maior lacuna que percebi foi a da compreensão das pessoas de negócio sobre o potencial desta tecnologia. A I2AI foi criada com esse intuito de ser acessível para o leigo e de poder desmistificar a Inteligência Artificial para todos e permitir o bom uso e a responsabilidade na adoção desta tecnologia.

EA – Se falarmos no corporativo, grandes players, temas como ESG, DEI (Diversidade, Equidade e Inclusão) estão na pauta da ordem, onde vemos IA nisso?
Alexandre A IA pode ser uma grande habilitadora destes temas se bem usada, com o uso de IA de forma responsável, podemos diminuir o desperdício, reduzir a desigualdade, criar novos mecanismos de geração de valor, aumentar o acesso a educação e conhecimento, identificar novas fontes de recursos, erradicar doenças, dar acesso a pessoas portadoras de necessidades especiais entre outras coisas.

Ao mesmo tempo, se não compreendida, a IA pode ajudar a perpetuar preconceitos, destruir mais rapidamente o planeta, e aumentar a desigualdade e a exclusão.

É um momento que exige muita responsabilidade das grandes organizações em saber fazer o bom uso desta tecnologia tão poderosa.

Vejo também como uma grande janela de oportunidade para a sociedade em repensar os valores e a forma de funcionar da sociedade moderna. Com a primeira revolução industrial criamos a jornada de trabalho e a semana de trabalho. Estamos, a meu ver, passando por oportunidades parecidas com essas novas tecnologias digitais.

EA – Você fala sobre a “revolução da inteligência”, nos explique o contexto deste futurismo?
Alexandre A IA permite capturar processos de raciocínio, conjuntos de conhecimentos, ontologias, aspectos semânticos e de estilo, padrões. Essa capacidade de capturar conhecimento e padrões a partir dos dados, a nova modalidade de inteligência artificial conhecida como Aprendizagem de Máquina é muito poderosa.

Já neste novo paradigma da aprendizagem de funções matemáticas a partir dos dados, o que chamamos no mercado de Machine Learning, tivemos mais um salto tecnológico. A sacada foi a de copiar o design do cérebro humano através de redes neurais artificiais. A ideia inicialmente pensada em 1943, só foi possível de ser viabilizada em muitas camadas de neurônios artificiais no início do século.

Essas novas arquiteturas conhecidas como Deep Learning permitiram representar conexões entre conceitos, características e parâmetros de maneira complexa através de inúmeras conexões que nos cérebros humanos chamamos de sinapses.

Usar este poderio relacional somada ao volume de dados e a capacidade de processamento computacional que dispomos hoje, nos permitiu criar arquiteturas cognitivas tecnológicas capazes de “compreender” linguagens humanas como os idiomas, a matemática, o código de programação e a arte.

Assim o potencial destas novas tecnologias ligadas a Inteligência Artificial beira ao infinito.

Neste momento estamos aprimorando a nossa capacidade e as interfaces para lidarmos com tamanha tecnologia, e o que impressiona é que mesmo estando nos primórdios desta revolução, o salto tecnológico que estamos conseguindo é imenso. Há resultados incríveis já obtidos na criação de novos medicamentos, identificação de novos materiais, formulação de processos matemáticos mais eficientes para a multiplicação de matrizes, capacidade de síntese de novas proteínas pra citar apenas alguns dos fenômenos obtidos nos últimos anos.

Será um período revolucionário marcado por uma velocidade ímpar de novas possibilidades e tecnologias.

EA – Empresas estão sabendo aplicar / interpretar / monetizar o volume imenso de dados que compram/investem para gerar/construir seu Ativo Digital?
Alexandre Diria que há empresas que já compreenderam a essência desta revolução em que vivemos e estão trabalhando muito fortemente para usar seus ativos digitais, sejam eles sua base de dados que são transformados em conhecimento, sejam eles seus algoritmos proprietários de IA que são transformados em inteligência ou sejam eles suas realidades digitais que representam de maneira bastante completa o mundo em que vivemos ou espaços de atuação diferenciados e desejados.

Muitas outras ainda não se deram conta da importância do digital nos dias de hoje. Há algum tempo mais da metade do comercio mundial é digital. Espaços de trabalho estão se virtualizando e as experiências de interação e comunicação estão cada vez mais utilizando tecnologias digitais para acontecer.

Entender esse fenômeno que estamos vivendo e criar as competências necessárias para extrair valor deste mundo digital, seja através dos dados, dos algoritmos ou dos modelos e realidades digitais é algo que começa a ser mandatório para todas as empresas.

Exemplo de empresas bem sucedidas como iFood, QuintoAndar, Stone, Semantix, NuBank, 99 entre outras empresas nacionais, ou de DNA brasileiro, são exemplos vivos da força desta revolução.

EA – Conhecedor de tantos países, quais são as vanguardas em aplicabilidade de IA? O Brasil como está neste ranking?
Alexandre Hoje a discussão no mundo dos negócios está no uso de IA Generativa. A utilização de grandes modelos de linguagem (LLMs) para construir conteúdo, comparar informações, responder perguntas, resumir dados ou ainda modelos de difusão (Difusion Models) para gerar imagens e vídeos realistas com base em pedidos com descrições detalhadas estão nas principais aplicações sendo desenvolvidas pelo mundo afora.

Enquanto isso, na academia e nas empresas desenvolvedoras de tecnologias, novas arquiteturas de redes neurais, novas soluções como o Desaprendizado de Máquina, a computação neuro-simbólica ou a construção da AGI (Inteligência Artificial Geral seja lá o que isso significa) são linhas de desenvolvimento tecnológicos em expansão.

Em termos de aplicações, há empresas brasileiras bem cotadas em buscar e criar soluções que usem o estado da arte em IA, embora, em contrapartida, não temos muita relevância no desenvolvimento tecnológico de base.

Resumidamente, as empresas líderes em tecnologia no Brasil conseguem fazer uso do estado da arte de IA para entregar soluções de ponta não deixando nada a desejar para nenhuma outra empresa do mundo, porém, a média das empresas brasileiras corre atrás da média mundial.

Nosso problema não está nas empresas líderes, mais no comportamento médio das organizações nacionais.

Já em termos de desenvolvimento tecnológico de base, até agora temos muito poucas contribuições relevantes. Muito provavelmente não será aqui que o futuro breakthrough de IA irá acontecer. Coisas mais simples como ter modelos robustos de linguagem que utilizem o idioma português e todas as suas nuances regionais que o Brasil possui já é um desafio, e assim, perdemos mais uma oportunidade de estar na vanguarda desta revolução.

EA – Dados nosso eldorado hoje, como o petróleo no passado…?
Alexandre O que diferenciará as empresas em relação a sua capacidade de construção de conhecimento no mundo de IA está praticamente nos dados exclusivos que possui. Se uma empresa possui dados e informações de clientes e mercados que ninguém mais possui, ela tem a capacidade única de aprender sobre aqueles dados e extrair conhecimento e insights únicos daquele conjunto de informações.

Agora ter os dados, da mesma forma que ter petróleo, significa ter o potencial. Para ter valor é preciso extrair, processar e refinar esses dados (da mesma forma que o petróleo) e transformá-los em algo que tem valor. E essa etapa não é trivial.

EA – As pessoas conseguem interpretar que somos este mundo hoje complexo, presencial e virtual?
Alexandre A nova geração dos nativos digitais tem mais facilidade de entender essa complexidade e essa nova realidade do físico e do virtual. Aqueles que nasceram antes da era digital ainda vem estes dois mundos como coisas desconectadas e algumas vezes conflituosas. A nova realidade apenas é, o mundo digital e o mundo físico se complementam e com essas novas tecnologias que estão cada vez mais presentes em nosso cotidiano, a diferença entre estas duas realidades cada vez ficará menos perceptível.

EA – O que sente saudade do seu mundo presencial, lá atrás quando um jovem estudante?
Alexandre Acho que principalmente da velocidade das coisas. O mundo parecia mais perene, tínhamos a impressão que tínhamos mais certezas e conseguíamos visualizar “futuros possíveis” de forma mais nítida ou pelo menos achávamos assim. Hoje tenho dificuldade de imaginar o que a minha filha vai ser quando crescer, ou como será o mundo em 2040.

EA – E hoje, o que no mundo virtual mais te representa?
Alexandre Eu sou um otimista em relação a tecnologia. Sempre estou imaginando como podemos ter um mundo melhor. Creio que o mundo virtual deixou as pessoas mais próximas. Minha família mora espalhada pelo Brasil e pelo mundo, e a capacidade crescente de manter uma comunicação com qualidade entre nós e a possibilidade de participar de vários momentos da vida cotidiana deles, mesmo a distância, pra mim é um dos grandes marcos destas novas tecnologias virtuais.

Hoje trabalho boa parte do meu tempo de casa, vendo minha filha crescer e podendo interagir com ela diariamente. Meus pais não tiveram essa sorte. Eu vejo que isso é uma das vantagens deste novo mundo que estamos criando. Espero que estas capacidades sejam bem usadas, e trabalho fortemente para que possamos construir um mundo e uma sociedade melhor a partir delas.

 

Alexandre

Alexandre Del Rey é fundador da I2AI – International Association of Artificial Intelligence, conselheiro da Rede de Inovação de IA e do Movimento Brasil Digital e da Lusofonia Digital. Sócio-fundador da Egronn, startup de geração de energia distribuída e da Engrama – Consultoria de Inovação e Estratégia. Sócio e consultor sênior da Advance Consulting, consultoria de Vendas, Marketing e Estratégia para empresas de tecnologia. É professor, pesquisador, palestrante e autor nos temas de Tecnologia, Inovação, Empreendedorismo, Estratégia, Inteligência Competitiva, Influência e Economia Comportamental. Investidor anjo.

 

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