Francisco Fernandes
Minha história com a tecnologia

Especial para a EA Magazine

 

O INÍCIO.

Quarenta anos atrás ainda usávamos máquina fotográfica com filmes. Telefones celulares não existiam. Nem TV a cabo. Internet? Nem pensar! Você já está se vendo naqueles filmes antigos, com cenários rudimentares, TV de tubo e telefone de disco, não é mesmo?

Quando penso nessa cena, vejo um menino crescendo ali. Era eu, nos meus 10 anos, me conectando ao mundo e começando a trilhar um caminho que me levaria a profissão que tenho hoje. 

Talvez seja difícil imaginar, neste cenário, como alguém optaria por uma carreira na área de TI. Ou melhor, Informática, como se dizia na época. Mas minha história, apesar de peculiar, pode se confundir com a de muitos outros profissionais. Acho que a tecnologia sempre me atraiu. Lembro quando tinha uns 8 anos (1979), e um amigo me disse que os pais (que tinham uma condição financeira muito boa), haviam comprado um jogo eletrônico chamado Telejogo.

Este jogo funcionava ligado a TV e tinha um único console com um controle acoplado pra jogar.  Foi meu primeiro contato com vídeo games. Desde então passei a acompanhar esse mundo. Mas com um interesse básico em me divertir. Então, com o passar do tempo, consegui convencer meus pais a me darem um videogame de presente. Isso já em 1985. Era a época do Atari. Mas quando cheguei na loja, vi algo que fez meus olhos brilharem. Um MSX da Sharp, o Hotbit HB-8000. Um “videogame” com processador Z80 de 8 bits. 

Novidade na época. Gráficos maravilhosos e jogos diferenciados.Passei mais de um ano esperando para, enfim, poder ganhá-lo de presente. Era bem mais caro que um Atari. 

Chegou meu presente!

E eis que no Natal de 1986, finalmente ganhei meu tão sonhado presente. Abri a caixa, peguei o manual e fui montando os cabos. Liguei na TV. Apertei o botão pra ligar o console. Ansiedade máxima pra ver os jogos maravilhosos que eu tinha visto na loja. E após alguns segundos, aparece uma tela azul, com uma meia dúzia de palavras e um cursor piscando. “Acho que preciso ver o manual” – pensei. 

Encontrei dois livros na caixa. Um sobre o computador e outro sobre Basic. Não demorou muita pra me dar conta: aquilo não era um videogame e sim um computador! Comecei a ler o manual de Basic, e entendi que era uma linguagem de programação. 

A minha primeira linguagem de programação. O meu primeiro computador.

Mas e os jogos? O Hotbit usava cartuchos, que precisavam ser comprados. Ou então, poderia carregar os jogos via fita cassete. Não, senhores, não havia, ainda, disco duro. Pra carregar um jogo via fita cassete era como ter que escutar umas 5 músicas em sequencia e torcer pra nada dar errado durante o processo!

Durante o tempo que estudei no segundo grau (1986 a 1988), me envolvi cada dia mais nesse universo. Comprava revistas especializadas (lembrem-se, não existia internet) e desenvolvia software básico seguindo o passo a passo que era dado. A principal era a Input.

Lembro de um jogo de aventura que fiz, baseado nas dicas da revista. Era baseado em texto, e você escrevia usando linguagem natural e o programa respondia. Nada de gráficos. Apenas imaginação. Isso me ajudou a entender o que são algoritmos. Estava construindo ali uma base pro meu futuro, sem saber. 

Mas meus sonhos eram outros

Como bom adolescente, eu tinha outros sonhos. Como viciado em futebol, queria ser jogador, como a maior parte dos jovens brasileiros na época. Cheguei a treinar, lá pelos 13 anos, no Botafogo. Mas numa discussão com o técnico, ele disse que eu precisava dar mais foco nos treinos e menos na escola. Naquela hora tomei uma decisão: foco na escola! 

Tínhamos uma vida humilde, sem luxos, eu queria ser o que ninguém da minha família tinha sido até o momento. 

Sempre achei que educação era o caminho. E esse foi o caminho que trilhei. Estudei em escola pública até o segundo grau, quando fiz vestibular para várias instituições de ensino superior. Naquela época (1989), as opções eram muito limitadas. Não consegui passar em faculdades públicas (que na época eram UFRJ, UFF e UERJ, no Rio de Janeiro). 

Minha alternativa foi buscar faculdades privadas. Isso me assustava porque sabia da condição financeira da minha família. Dentre as opções que eu tinha, a Nuno Lisboa, num curso de Tecnólogo de Processamento de Dados, era a mais barata. 

Bora estudar

Lembro bem do momento que fomos fazer a matrícula, eu virei pra minha mãe e perguntei: “Tem certeza que você vai pode pagar as mensalidades?”. E ela me respondeu com um largo sorriso: “Claro, meu filho.” Graças a ela, comecei a estudar na área de TI. E com o tempo descobri uma coisa que é a mais pura verdade: quem escolhe TI, não para de estudar nunca. 

Em 1989, comecei a fazer alguns estágios antes da minha graduação (que ocorreu em 1992).

Foi aí neste ano que consegui meu primeiro emprego. Naquela época, se você me perguntasse o que queria dentro da área, não saberia te dizer. Adorava programar. E no início dos anos 90, PCs ainda eram novidade, e quase todas as grandes empresas usavam mainframes. Foi nessa tecnologia que me especializei primeiro. Desde o início eu sabia que era a área que eu queria trabalhar. 

Só não sabia o que eu faria dentro de uma empresa. Aos poucos fui entendendo como a área de TI se organizava. E, de 30 anos pra cá, muita coisa mudou. Obviamente a tecnologia evoluiu muito, mas as metodologias e processos também foram melhorados e muita coisa nova apareceu pra suportar modelos de negócios distintos. 

No meu próximo relato, vou contar pra você como foi minha transformação dentro da TI nesses últimos 30 anos e como vim parar nos Estados Unidos. Aguarde!

América, país de oportunidades

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Francisco explorando cidades americanas como San Diego, Chicago, Califórnia e Washington (evento Microsoft)

 

foto mini bio - Minha história com a tecnologia

Francisco Fernandes é profissional de TI especializado em Arquitetura de Soluções com mais de 28 anos de mercado. Possui conhecimentos das áreas técnica, consultiva e de gestão. Já trabalhou com mainframes, desenvolvimento de aplicações, gerenciamento de projetos em diversas tecnologias, em países como o Brasil, Estados Unidos, Argentina, Chile e México. Atuou na Sul América Seguros, Itaú-Unibanco, Gillete, HP e BID (Inter-American Development Bank), entre outras. Hoje é gerente de engenharia de desktop na empresa de advocacia americana Ogletree Deakins, com foco na experiência do usuário. É casado, tem dois filhos e mora em Maryland, nos Estados Unidos. Além de TI, é apaixonado por música, esportes e viagens. 

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