Por Claudio Moreira
Lembro bem quando fui dar um curso de CNV (Comunicação Não Violenta) para uma turma com um perfil bem operacional. Recebi, ao final, o seguinte feedback:
_ “Se formos seguir isso aí tudo à risca, não falamos mais nada aqui dentro”
Por favor, não siga tudo à risca, entenda onde os conceitos de encaixam, como eles se encaixam e em que gradações eles se encaixam. É melhor 20% do conteúdo firmemente aplicado do que 100% dele deixando uma vaga lembrança.
E se tem algo que me deixa feliz é quando eu encontro pessoas que foram treinadas por mim e que anos depois me dizem que nunca mais esqueceram do que eu falei.
E olha que eu falo bastante :)
Para quem por ventura não saiba, a Comunicação Não Violenta (CNV) é um método de comunicação desenvolvido pelo psicólogo americano Marshall Rosenberg com o objetivo de criar relações mais autênticas, empáticas e compassivas.
Ao contrário da comunicação tradicional, que muitas vezes é marcada por julgamentos, críticas e defensivas, a CNV se baseia em quatro pilares fundamentais:
- Observação: Descrever os fatos da situação de forma objetiva e neutra, sem interpretações ou julgamentos.
- Sentimentos: Identificar e expressar os próprios sentimentos em relação à situação, utilizando uma linguagem descritiva (“Eu me sinto…”) e evitando rótulos ou críticas (“Você me fez sentir…”).
- Necessidades: Reconhecer e comunicar as necessidades básicas que estão por trás dos sentimentos, como segurança, conexão, autonomia e reconhecimento.
- Pedido: Formular um pedido concreto e positivo que atenda às necessidades expressas, focando no que se deseja alcançar e não no que se quer evitar.
Feitas as apresentações, qual é o âmago da questão aqui?
Como disse meu ponto focal na empresa cliente, o CNV é um conceito de comunicação sofisticado, e eu concordo com ela. Com a CNV, os conflitos naturais que surgem no dia a dia se transformam em oportunidades de aprendizado e crescimento. Através do diálogo construtivo e da escuta ativa, as equipes encontram soluções criativas que beneficiam a todos, fortalecendo os relacionamentos interpessoais e impulsionando a colaboração. Isso é sofisticado, pelo menos para aquele público.
Existe um termo em inglês que é “one size fits all”, que pode ser traduzido para um “tamanho serve para todos”. Na minha opinião esse termo definitivamente não cabe na educação corporativa.
Voltando para a CNV, existem cursos maravilhosos com extensas horas, que abordam o tema com riquíssimos detalhes e isso é comum em praticamente todos os temas aplicáveis em um treinamento.
Dá para abordar tudo em 3 horas ou em 3 dias.
A grande questão é: qual o resultado pretendido?
Procuro seguir sempre o aprendido na Taxonomia de Bloom, um sistema de classificação hierárquica que categoriza os objetivos educacionais em diferentes níveis de cognição, e que visa organizar e estruturar os objetivos de aprendizagem o processo.
Penso sempre na sequência de aprendizagem:
- Lembrar
- Compreender
- Aplicar
- Analisar
- Sintetizar
- Avaliar
Seria ótimo se os participantes do meu curso pudessem chegar ao nível mais sofisticado de análise e avaliação da CNV, mas considerando o dia a dia da turma, sua forma de lidar e conviver com percalços, serei bem-sucedido se compreenderem e aplicarem o conceito.
E nem precisa ser ele todo.
Por isso, brifo o cliente sempre buscando informações que me levem a desvendar quem estará comigo, qual é a realidade cotidiana da turma e onde é possível chegar.
Em treinamento e desenvolvimento, nem sempre o bom é inimigo do ótimo.
Claudio Moreira é consultor de Educação Corporativa e trainer de equipes de alta performance, tem mais de 50.000 profissionais capacitados em sua trajetória profissional. É especialista em treinamentos de times de Serviços, Food Service e Varejo. É professor de cursos In Company na Conquer, é professor em cursos MBA no IPOG e na Escola Conquer. É mestre em Tecnologia Educacional, tem MBA Service Management (IBMEC) e MBA em Marketing (Fundação Getúlio Vargas). Colunista EA “Trilhos de Aprendizagem”.
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