Redes de interação para alcançar o sucesso | Felipe Gruetzmacher

 

Um meteoro acaba caindo no planeta Terra, despertando o interesse de um grupo de cientistas. Infelizmente, a verba destinada a financiar o estudo sobre o meteoro acabou sendo cortada.

Sem outra alternativa, os cientistas acabam migrando para outras profissões. Apesar de uns aborrecimentos iniciais, eles atingem o sucesso nesses novos nichos e alcançam a autorrealização.

Passados uns anos, o meteoro que estava sendo mantido guardado em uma Universidade, libera espécies de bactérias alienígenas que impactam severamente o equilíbrio ecossistêmico planetário. Os cientistas logo percebem: num cenário alternativo, onde a pesquisa deles fosse financiada, eles poderiam eliminar a ameaça bacteriológica estudando o meteoro, alcançando um sucesso profissional muito maior!

A questão colocada por esse conto sci-fi é: Às vezes, talentos não podem atingir o máximo potencial por vários motivos. Falta de recursos e barreiras institucionais são alguns deles.

Uma sociedade pode simplificar o acesso a oportunidades de desenvolvimento para todos?

Extraímos alguns conceitos do livro “Reagregando o Social – Uma introdução à teoria Ator-rede”, de Bruno Latour, para responder às questões.

Insights:

  • Somos marionetes da sociedade e das forças sociais? Será que estruturas maiores e mais complexas dominam nossas atitudes e oportunidades que surgem na nossa vida?

Exemplo: uma crise econômica explica o porquê de cientistas perderem o financiamento direcionado para a pesquisa dele com meteoros? Até onde vai o poder de ação de uma única pessoa contra as forças sociais?

O livro de Bruno Latour inverte a questão e afirma que as próprias pessoas são fontes de dominação umas sobre as outras.

  • As ações executadas pelos atores sociais são fontes de dominação e poder. Pessoas agem para conseguir mais poder e dominar outras pessoas, modificando a teia de relações sociais e as associações entre pessoas.
  • Para que as conexões e vínculos sociais adquiram consistência e preservem o poder dos atores, interações sociais e ações exigem as características:
  1. Objetos

Por exemplo: fechaduras que trancam a porta para impedir visitas indesejadas.

  1. Relações materiais e sociais

Por exemplo: pessoas que assimilam uma nova percepção sobre uma máquina qualquer depois que leem um manual de instruções.

Em outro caso qualquer, temos dois projetistas debatendo se um aparelho deve ser uma cor vermelha ou azul para se tornar mais atrativo aos olhos do cliente. A empresa que emprega esses projetistas e comercializa o aparelho está interessada em um design bonito para aumentar vendas e consolidar poder econômico. Seguir então, a rede de relações entre pessoas e objetos nos dá uma maior clareza das inovações tecnológicas e como o poder se consolida.

Por exemplo: laboratórios e aceleradores de partículas permitem que cientistas colaborem para desenvolver teorias e pesquisas (relações sociais). Mapear essas interações faz com que os sociólogos e estudiosos do social percebam como a inovação está intrinsecamente ligada com a sociedade e as redes. Os objetos da ciência explicam o social.

Atores ficam associados de tal modo que eles fazem outros fazerem coisas. É causa e efeito. 

Exemplo 1: Os peixes fazem o pescador usar redes de pesca. As redes de pesca garantem a captura dos peixes e a sobrevivência do pescador. Estudantes de biologia marinha estudam os ecossistemas impactados pela pesca. E assim por diante.

Exemplo 2: As experiências de Pasteur com bactérias explicam infecções. Assim, foi compreendido como doenças infecciosas se alastram, criando um novo grupo social, uma nova associação: pessoas infectadas.

O contágio redesenha mapas sociais

  • A interação entre objetos, elementos não vivos e pessoas é que formam os coletivos e associações.
  • Não confundir elementos físicos com interpretações.

Por exemplo: Não confunda engenharia com a tarefa de embelezar uma ponte. Enquanto a primeira lida com fatos objetivos (gravidade, cálculos e materiais físicos), a tarefa de embelezar uma ponte segue subjetividades e arte (coisas da cultura humana e interpretações do que é belo).

Por isso, seguir a rede de interações pode gerar insights para rastrear os efeitos da ciência na sociedade. Seguimos os objetos criados pelos cientistas e técnicos para rastrear vínculos sociais e interpretar os significados.

Por exemplo: cientistas podem criticar colegas de profissão por não terem seguido protocolos de segurança durante experiências. Entender a interação social entre esses cientistas exige que o sociólogo pesquise protocolos de segurança e experiência (elementos físicos, interpretações e pessoas interagindo).

Insights aplicados ao RH:

  • Se uma HR Tech conseguir lucrar atendendo uma demanda específica, ela pode financiar outras startups de um mesmo ramo ou nichos complementares.

Por exemplo: A área de RH roda pesquisas internas para identificar se boas práticas de inclusão surtem efeito através de processos digitais. Assim, essa tecnologia sendo comercializada para outras empresas pode gerar receita e financiar uma HR Tech que simplifica a contratação de talentos diversos. Isso é complementaridade e interdependência entre atores e ações no ecossistema de inovação!

  • Para que haja conexões sustentáveis e consolidadas, atores do cenário empreendedor precisam ter acesso a objetos (tecnologia), equipes (pessoas) e associações (outras Startups que viabilizam projetos empreendedores complementares).
  • Startups que apoiam outras startups funcionam como uma rede de stakeholders: eles combinam de antemão os benefícios e ganhos mútuos adquiridos pelas interações para satisfazer cada uma das partes. São atores que agem para movimentar outros atores.
  • Para tanto, é fundamental que o ecossistema seja mais aberto às novas ideias (novas interpretações sobre tecnologias e propostas de valor nascentes).

Essas redes de interações podem facilitar a criação de HR Techs com propósitos bem específicos e abarcar um conjunto de necessidades:

1. Futuro do trabalho
2. Financiamento para startups
3. Gestão de pessoas
4. Profissões do futuro
5. D&I, Ética e ESG
6. Empreendedorismo feminino
7. Marketing (employer branding)
8. Inclusão da geração 50+
9. Transformação digital

 

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Felipe Emilio Gruetzmacher é formado em gestão ambiental, educação ambiental e se especializou em copywriter através de muitos cursos online, muita prática e dedicação. Autor na Comunidade EA é um dos mais lidos na plataforma. Tenta decifrar os enigmas do trabalho humano, até porque essas questões podem mudar os rumos da sociedade humana e acelerar a marcha da história rumo à Utopia.

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