VENTURE CAPITAL | Pedro Pizzolato 

 

EA – Esse seu mergulho no ecossistema de startups é paixão ou negócio?
Pedro Começou como paixão, virou negócio e agora é propósito. Acredito que educação, saúde (física e mental), empreendedorismo e inovação são os pilares de um mundo cada vez melhor. Sempre fui muito curioso, doido por aprender tudo, entusiasta de ciência, apaixonado pela magia da tecnologia e fascinado no poder criativo que há no trabalho. Minha formação em finanças sempre teve um viés instrumental, mas também do gosto em poder me conectar com novos negócios. Desde a faculdade, almejava me envolver com investimentos e novos negócios.  

Naquela época, Venture Capital era uma indústria jovem no Brasil, o que havia e que me chamava a atenção, era uma abordagem de Private Equity, o departamento de novos negócios e M&A das empresas e o vasto mundo das PMEs. 

EA – Uma longa jornada de carreira, não?
Pedro Sim. Comecei minha carreira em projetos de Project Finance de infraestrutura, logo senti um vazio enorme no meio de planilhas e contratos que tinham sempre cifras de bilhões envolvidos. Apenas três meses após minha formatura encontrei uma oportunidade em uma boutique de M&A no mercado de Tecnologia. Participei do time fundador da empresa (como única mão-de-obra com background de finanças). No tempo que fiquei lá, fizemos muito mais consultoria do que deals. 

Uma dessas consultorias foi dentro de um projeto da UNESCO para o MCTI (Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação): uma avaliação do mercado brasileiro de Software e Serviços de TI.  

O eixo de nossa política nacional dessa indústria era inspirado no modelo indiano, de exportação de software e serviços (o famoso BPO de tecnologia). O placar não evoluía – e conseguimos mostrar para o MCTI que a única maneira que o Brasil poderia se inserir com sucesso nessa arena global seria através da Inovação – uma indústria que, lá em 2011, era pequena, nascente, tímida; mas já cheia de aspirações e mentes brilhantes. 

O ministério nos encomendou um simples escopo extra: propor soluções para a mudança desse eixo. Entramos de cabeça nessa oportunidade de colocar empreendedorismo inovador na pauta nacional dos esforços de política pública. Criamos mais de 20 programas de política pública – alguns evoluíram, outros não deixaram o planejamento. Não é fácil empreender no governo. Um dos programas que mais contribui pessoalmente vingou (não exatamente como o planejado, mas o meio é a mensagem): o START UP Brasil! Fui ao Vale do Silício participando de uma pequena comitiva do MCTI para fazer o roadshow da nova política pública de Software e Serviços de TI do Brasil: “TI MAIOR”.  

 “De lá, voltei com feedbacks incríveis, contatos, histórias riquíssimas e uma ideia fixa: o termo que ditaria o futuro do Brasil em termos de empreendedorismo seria STARTUP.” 

EA – Sua primeira startup quando chegou?
Pedro Em 2014, respirei fundo e fundei minha própria empresa do zero: a Supernova Ventures.
Nosso intuito era levar conhecimento e técnicas financeiros, de banco de investimento, para o mundo de inovação. Nesse caminho houve de tudo: trabalhamos com empreendedores e empresas fantásticas, trabalhamos com empreendedores deslumbrados e empresas calcadas em fumaça, FOMOS também empreendedores deslumbrados, enfrentamos crise, quebramos, nos endividamos, fizemos um turn around, fomos pioneiros na condução do termo VENTURE DEBT para o Brasil, estruturamos o primeiro fundo de Venture Debt do Brasil (o Fundo Brasil Venture Debt I, gerido pela SP Ventures e Jive) e fizemos até um carve out de nossa operação.

EA – Começar e recomeçar, errar e acertar?
Pedro Sim. Em 2018 criamos a Sinapse Finance, mais um passo em direção à nossa missão magna: ajudar o empreendedorismo no Brasil. Fomos o primeiro CFO as a Service no Brasil (com registro de marca e tudo). Em 2019, comecei a trabalhar com a WIP Ventures, desenvolvendo a tese de empreendedorismo dentro do mundo de entretenimento. Em 2020, criamos uma aceleradora de carreira de roteiristas negros para a NETFLIX. Em 2021, deixei minha posição executiva na Sinapse Finance (continuo como acionista) e fui me dedicar totalmente à WIP – onde estamos colidindo os fundamentos de Hollywood com Silicon Valley.  

 “Cada projeto de entretenimento é, para nós, uma startup, que aceleramos, desenvolvemos e rentabilizamos. Nossa missão: liberdade criativa. Não tenho a ingenuidade de tratar simplesmente como paixão, ou o cinismo de ver só como negócio. Alavancar o NOVO com método, inteligência, autenticidade e respeito é propósito.”  

EA – É saudável toda startup nascer querendo ser unicórnio?
Pedro Não. A razão é simples: existem milhares de vezes mais bons empreendedores do que unicórnios (ou espaços para unicórnios no mercado, ainda mais com a lógica monopolista que sustenta a tese dos unicórnios). Já vi, com enorme tristeza, empresas excelentes que poderiam ser negócios de R$ 50 – R$ 100 milhões, com geração de caixa estável e saudável, definhando (junto com a saúde de seus empreendedores) na luta ingrata de se posicionar como unicórnio, de conseguir uma rodada de Venture Capital.  

Empreendedorismo também é criar e sustentar PMEs, é também participar de mares vermelhos. É importantíssimo o empreendedor colimar bem desde o início: qual seu objetivo empreendendo; o mercado; sua solução/oferta; o panorama competitivo; e o que está disposto a queimar para ver esse objetivo acontecendo. 

 “É como dizer que todo mundo que gosta de praticar esporte deve se frustrar se não tiver performance olímpica. Isso não nos impede de apreciar o esporte olímpico, aprender muito com ele e, claro, alavancar sua inspiração.” 

EA – Qual sua contribuição profissional a esse ecossistema, Pedro?
Pedro Proteger o empreendedor/criador. Seja por buscar a criação de produtos como Venture Debt que protege o Cap Table e dá opcionalidades ao empreendedor; seja por não trabalhar com oversell e expectativas infladas; muitas vezes sou o chato que dá as más notícias de que o mundo é muito mais a arte do possível do que a força do querer; seja por gostar de compartilhar conhecimento e empoderar empreendedores/criadores a se estruturarem em caminhos de sustentabilidade financeira, estratégica e psicoemocional. 

EA – Por que poucas mulheres à frente de startups? É realidade Brasil?
Pedro A resposta é simples: porque vivemos em um mundo extremamente machista (no Brasil isso é ainda mais pronunciado) em que o patriarcado legou à mulher um papel secundário, seguidor, passivo – e que tem menores oportunidades em geral. Infelizmente, desde sempre em suas vidas, as mulheres são preteridas a esse lugar menor criado socialmente e seu potencial é tolhido. 

Empreender é uma tarefa muito difícil (e bem ingrata em geral), as chances de dar errado são muito maiores do que de dar certo. Empreender por oportunidade é uma conjunção de privilégios. Questões de gênero (mas também de raça, orientação sexual, regionalismo, etc) organizam feudos com muros ainda mais altos que os normais que implicam, muitas vezes, inviabilidade. 

Não tenho dados agora para falar de startups só de mulheres, mas times fundadores que envolvem mulheres são mais bem-sucedidos na média que times só de homens. 

Não é uma questão de querer ou de desejar moralmente: PRECISAMOS de mais mulheres em lugares de comando na sociedade. A sociedade estruturalmente machista falha todos os dias em seu propósito de evoluir nossa civilização. Muitas líderes políticas recentes mostraram isso de forma clara e distinta. 

EA – Você se formou em administração e lê filosofia. O que encontra em humanas que te amplia profissionalmente?
Pedro Faço mestrado em Filosofia, tenho ainda uma graduação não concluída em Relações Internacionais. Já me meti com estudo de Psicanálise e de Astronomia. Claro que tudo isso contribui para meus processos de raciocínio, estimula o pensamento lateral – que é o pilar fundante da inovação, enriquece meu repertório e gera perspectivas. Mas essa exploração tem um fim em si mesma. Não exijo nenhum dividendo profissional do aprender.  

 “Aprender, atinar com o cosmos e compreender (ainda que marginalmente) o que é isso que é, qual é a dessa existência, espantar-se com a grandiosidade e as maravilhas da natureza – isso não tem nada a ver com meu profissional. Poder contemplar o SER é motivo suficiente.” 

EA – Você já teve quantos negócios? Sempre com sócios? Nessa escalada, o que mais aprende com os erros?
Pedro Já foram muitos CNPJs, acho que estou no quinto próprio, fora os investimentos anjos, e mais ainda projetos que nem chegaram a ser CNPJs. Sempre tive sócios – às vezes mais parecidos comigo, às vezes tive a sorte de ter pessoas mais complementares a mim. No início de um empreendimento é fundamental: muita comunicação, tempo de qualidade entre os sócios e respeito com pessoas e fatos, ou seja, HONESTIDADE INTELECTUAL. Cuidado com o famoso wishful thinking e com os vieses cognitivos. Ler “Rápido e Devagar” de Daniel Kahneman ajuda bastante.

EA – Qual a melhor química entre sócios pra não desandar um negócio que está nascendo?
Pedro Falta de dinheiro é a segunda maior causa de quebra de empresas. A primeira é desalinhamento entre os sócios. Empreender demanda amor, não paixão – isso serve como motor de arranque. Demanda-se um amor que proporcione um ambiente de confiança, cooperação e segurança para ser vulnerável. Empreender não é uma aventura simples, trata-se de uma maratona – e vai exigir tudo de você.  

É muito importante que os sócios trabalhem seu autoconhecimento (terapia, fica a dica) e também um conhecimento coletivo: é um exercício de saber, debater, desenvolver, acolher e apoiar acerca do que cada um tem de melhor a oferecer, pior a oferecer, onde estão as forças e as fraquezas de cada um, onde estão os calos e os traumas, quais os limites, quais as intenções e objetivos, qual a cara do sucesso e do fracasso, etc.

EA – Nada simples, não?
Pedro Essa tarefa é dificílima. Não raro haverá falhas e, portanto, a capacidade de perdoar genuinamente e proporcionar novos recomeços é fundamental. E talvez, também, a hora de saber parar – nenhum CNPJ vale um CPF. Existem hoje metodologias e workshops para se trabalhar isso. Não é simples, mas ter um sócio é entrar um relacionamento seríssimo. Deve-se tratar isso com cuidado, responsabilidade, maturidade e cumplicidade.

EA – Com o mercado ventures em aceleração, qual o melhor pitch? Que perfil de empreendedor que chama a atenção do investidor?
Pedro O melhor pitch é aquele que deixa óbvia o alinhamento entre: a oportunidade de mercado (uma dor importante de um mercado grande com uma solução inteligente); o modelo de negócios; o planejamento de execução (roadmap); e a capacidade de execução do time envolvido. O empreendedor que chama atenção é aquele que domina profundamente o assunto de seu negócio, encara com otimismo – mas seriedade e sobriedade – seu plano de execução, sabe – melhor que suas forças – onde estão suas fraquezas e limitações e como recrutar soluções e recursos para sua jornada sempre cultivando opcionalidades. E, por fim, sabe lidar com pessoas de forma ética e respeitosa. 

EA – Você, empreendedor serial, já foi funcionário de empresas?
Pedro Sim, trabalho desde os 14 anos. Já fui office boy, trabalhei como caixa de fast food, fiz “freelas” de design gráfico e técnico em computação, fui motorista em uma empresa de aluguel de carros no centro de São Paulo, estagiei no setor administrativo de uma Usina Sucroalcooleira, estagiei em um fundo de investimento em infraestrutura e fui analista de investimentos em uma consultoria de Project Finance. 

EA – Por onde deve começar a transformação digital em uma empresa?
Pedro Não sou especialista em transformação digital. Entretanto, considerando que se trata de uma mudança essencial no modo como as pessoas trabalham, pensam e desenvolvem negócios: eu diria que começa no RH, no âmbito da Cultura Corporativa e Intraempreendedorismo, em parceria com redesenhos de Workflow. 

EA – Quais as competências empreendedoras que podem ser úteis dentro de uma empresa?
Pedro Intraempreendedorismo é, talvez, um dos grandes ouros pouco minerados dentro de grandes corporações. O empreendedor é, de largada, um descontente, um incomodado, um desafiado. O empreendedor não faz por mal, tem gente que tem sorte de conseguir encontrar um lugar cômodo em sua vida – eu vejo como privilégio. Mas o empreendedor não consegue aquietar-se. Quando isso não vira ressentimento e o indivíduo, um chato reclamão, toda essa inquietação pode ser direcionada pra ações que tendem a melhorar processos, produtos, serviços, tecnologias, etc. 

EA – Defina pra gente o que é ser empreendedor?
Pedro Um empreendedor vai buscar soluções, é um resolvedor de problemas. Ele tem que ser flexível, ter capacidade de amealhar recursos, ter curiosidade e um nível bom de autodidatismo, exercitar o pensamento lateral (pensar por analogias), ter um alto compromisso com a observação de realidade (honestidade intelectual – evitar vieses e pensamentos desejosos), ter tolerância ao fracasso, ser persistente… acho que essa lista é bem batida. 

 “Mas: mais do que uma característica individual (todo mundo tem um quê empreendedor dentro de si), há que se estar em e cultivar um AMBIENTE EMPREENDEDOR.” 

 A empresa precisa criar espaços e rituais que habilitem esse comportamento. E isso não tem nada a ver com POST ITs, reuniões em salas enfeitadas ou Legos. O que mais vejo nas minhas andanças de desenvolvimento de negócios com grandes corporações são empreendedores buscando ampliar os horizontes de negócios e as burocracias internas e/ou cadeias de comando lógicas tolhendo essas iniciativas. É lamentável. 

 

pedro pizzolato perfil - Venture capital

Pedro Pizzolato tem 13 anos de experiência profissional e de liderança em mais de 150 projetos que incluem: Planejamento de Negócios, Assessoria Estratégica, Captação de Recursos, Avaliação, Desenvolvimento de Negócios e M&A, fundo de PE, Consultoria Project Finance, M&A Avisory e Angel Investor em Tech Startups. Foi assessor do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação na “TI MAIOR Policy” e também da Supernova Ventures e Sinapse Finance. Desde 2020 é parceiro sênior em tempo integral na WIP Ventures, criador de empreendimentos de entretenimento, onde o Vale do Silício encontra Hollywood. 

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pedro pizzolato - Venture capital

Eu e Darth Vader na LUCAS FILMS em San Francisco, USA, em reunião de negócios pela WIP 

 Se você gostou da visão de Venture Capital do Pedro, a EA recomenda a leitura sobre mercado EAD na entrevista com o Derick Casagrande Santiago.

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