Felicidade, nirvana no trabalho? | Carlos Guilherme Nosé

 

EA – Quais condições fazem um profissional ser feliz em seu trabalho?
Guilherme Acredito que ser feliz no trabalho é o resultado de alguns pilares que sustentam essa situação. Primeiro, criar um ambiente de trabalho onde se possa ser quem você realmente é, sem precisar vestir máscaras corporativas ou fingir ser quem não é. Ter seu propósito alinhado com o propósito da empresa, é o segundo. E o terceiro, ser desafiado e entender que seu papel é de protagonista e não apenas um “fazedor de tarefas”. Essa combinação vai trazer satisfação e felicidade no trabalho. E o dinheiro? O dinheiro é consequência. Sem dúvida, as pessoas mais felizes são as que mais performam e as que mais geram riqueza.

EA – O cargo chief happiness officer (CHO) é realidade apenas em empresas players?
Guilherme O mercado começou a colocar essa nomenclatura para ressaltar ainda mais o olhar do RH e dos principais gestores da Companhia com esse tema. Não significa que ter a nomenclatura ou alguém cuidando do tema felicidade será sinal de sucesso. É necessário engajamento e ação dos C-levels em garantir que isso aconteça.

EA – Quais as skills desejáveis ao perfil de head da felicidade?
Guilherme Empatia para saber ouvir e entender as necessidades de cada grupo de colaboradores. Precisa ter um olhar de ESG e D&I para compreender como a empresa se coloca e representa os grupos sub-representados em seu quadro. Habilidade de comunicação e ainda, saber engajar toda a liderança no tema felicidade, também são importantes.

EA – Há escolas de formação para Chief Happiness Officer?
Guilherme Existem cursos de formação para CHO que dão, inclusive, certificado. Recentemente, fui convidado pelo Vinícius Kitahara, consultor de felicidade corporativa e CEO da Vinning, que pertence ao ecossistema FESA, para ministrar um curso sobre felicidade corporativa junto com o Renato Bagnolesi, managing partner da FESA, na Fundação Dom Cabral.

EA – Felicidade corporativa é propósito real ou ideal utópico nas empresas?
Guilherme Tem que ser propósito real, senão, não funciona. As pessoas precisam entender de uma vez por todas a diferença entre felicidade e alegria. Ser feliz é um estado de espírito. Por exemplo, posso ser muito feliz com a minha vida, ter conquistado meus ideais, mas certamente terei dias difíceis, momentos que não estarei alegre. A alegria é uma condição momentânea, que vem com alguma conquista ou uma situação. As pessoas acham que trabalhar felicidade na empresa é fazer todas as vontades dos colaboradores e que todos saiam sorrindo todos os dias. Para mim, isso é utópico.

“Temos que ter o foco na felicidade, de novo, dando oportunidade para as pessoas serem quem são, se desenvolverem, se sentirem protagonistas de suas carreiras e em um ambiente seguro emocionalmente.”

EA Quais as condições de saúde mental que geram bem-estar na felicidade corporativa?
Guilherme As empresas que querem trabalhar o tema têm como obrigação criar um ambiente seguro para os colaboradores trazerem suas dificuldades, seus medos e suas inseguranças. É de extrema importância que o C-level tenha o comportamento alinhado com as políticas de felicidade. Na prática, CHO e gestor, precisam estar comprometidos com o objetivo para que possam oferecer um local de trabalho saudável.

EA – Felicidade corporativa é busca profissional individual ou coletiva?
Guilherme O ser humano foi feito para socializar e viver em conjunto. Então, tem, sim, uma combinação individual e coletiva. As organizações precisam estar atentas tanto ao profissional de forma individual quanto ao coletivo. Dessa forma, podem identificar aspectos atrelados à satisfação e felicidade no trabalho ou à falta delas.

EA – Qual o impacto da saúde mental positiva na cultura?
Guilherme Colaboradores mentalmente felizes conseguem exercer suas atividades de forma mais eficaz e, como consequência, alcançam resultados mais satisfatórios. Quando temos esse cenário em uma empresa, a cultura dela também tende a ser fortalecida interna e externamente sob o ponto de vista dos clientes e parceiros.

EA – Lideranças estão sendo instruídas para qualificar a saúde mental?
Guilherme A liderança tem um papel fundamental e, ao mesmo tempo, com um olhar nos resultados. Sei que é difícil falarmos de saúde mental e ambiente colaborativo tendo uma pressão enorme por resultados. Mas, para mim, só atingem e superam resultados, times que estão mentalmente bem e felizes.

EA – Empresas estão sabendo lidar com marcas pessoais em seus quadros profissionais?
Guilherme Percebemos que algumas empresas têm investido em profissionais autênticos justamente porque acreditam na importância da marca pessoal para o andamento do trabalho. Outro ponto é a diversificação de experiências e habilidades, por exemplo, que as instituições buscam nos profissionais, com o objetivo de agregar valor às equipes.

EA – Profissionais influenciadores são considerados com ‘skill de impacto’ em recrutamentos?
Guilherme Sem dúvida que sim. Está acabando o modelo de gestão “comando e controle”. São de extremo valor para as empresas, profissionais que sabem argumentar, influenciar e engajar times para um propósito comum e para um projeto específico.

“Cada vez mais, processos seletivos estão se baseando nas “soft skills”, habilidades como as listadas nas outras respostas, além de influência, persuasão, criatividade, entre outras.”

EA – O futuro do trabalho sinaliza felicidade corporativa?
Guilherme O futuro da humanidade tem que se basear mais na felicidade. Afinal, não faz sentido algum nos dedicarmos de 8 a 10 horas por dia para algo que não nos deixa felizes. A felicidade corporativa precisa fazer parte da vida dos colaboradores.

 

 

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Carlos Guilherme Nosé é CEO e sócio da FESA Group, ecossistema de Recursos Humanos, no mercado desde 1995.

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