O HOMEM E O TRABALHO | Marina Zanusso

 

Em uma realidade globalizada, de volumosas opiniões pessoais, conexões e autonomia, qual é a parte que as empresas ocupam na vida das pessoas? Sabemos que o mundo corporativo mudou, mas, antes de tudo, sempre vale lembrar a pena de onde ele veio.

Evolução do trabalho

No período de Revolução Industrial, no século passado, o Governo e os industriais se juntaram para criar a convenção trabalhista, basicamente as regras do novo jogo que iriam moldar a sociedade moderna e, quem diria, nos moldaria até hoje. Decidiu-se que as máquinas seriam operadas pelos homens (operários) e as mulheres, por sua vez, também contribuíam com o trabalho.

O processo de produção foi assim, dividido em etapas (a chamada linha de produção), na qual cada pessoa era responsável por uma função específica do todo.

Sem o conhecimento sobre o contexto no qual estavam inseridos, os operários não precisavam pensar, mas sim executar tarefas sem praticamente nenhum valor intelectual, o que naturalmente contribuía para assegurar o status quo. Uma etapa atrás da outra, um grande volume de produtos sendo confeccionados ao mesmo tempo por uma massa de gente. A linha de produção passou muitas décadas desvalorizando o trabalho humano, que servia a ela em tempo e esforço físico, passíveis de serem substituídos conforme o desgaste da nossa própria máquina, o corpo.

A linha de produção nasceu para nos moldar enquanto sociedade e indivíduo

As escolas recebiam as crianças às 7h para os pais começarem a trabalhar às 9h, a saída coletiva para o almoço, horários sincronizados, afinal, se uma pessoa atrasar ou parar, a linha de produção é comprometida, todos estão comprometidos. Já as nossas 24 horas do dia foram divididas em 3 – sendo 8 horas de trabalho, 8 horas de lazer e 8 horas de sono – uma solução do senhor Henry Ford para as calorosas greves trabalhistas que começavam a contestar o modelo.

Treinadas a decorar

As crianças aprendem em séries – 1ª série, 2ª série e assim por diante de seus anos escolares – são treinadas a assumir a linha de produção, a não cometer riscos; são treinadas a decorar, não a compreender – operários executam, não questionam. Como uma obra orquestrada, a vida em massa se recicla sem criações, simplesmente uma cópia estrutural em diferentes contextos. Por que ainda repetimos os horários, os processos, os hábitos em uma realidade diversa?

Que diferença faz se chegarmos às 9h ou às 11h no trabalho? E trabalhar 4 ou 10 horas por dia? Ainda assim, somos cobrados por isso. Replicamos a fábrica nos escritórios.

Voltando a questão central, acredito que a empresa, como estrutura, não tem mais espaço na vida de uma pessoa dos novos ventos. Estes sopram avanços da tecnologia e uma nova estação de confluência de inteligências, na qual o homem deve encontrar seu lugar com a máquina.

Ser humano é a lei do homem para este século

As empresas são canais, projetos, visões compatíveis com o momento de quem as integram, escolhas conscientes que podem ser ditas paixão. E assim segue a rota de cada indivíduo, cruzando a de outro, seguindo e retornando, delimitando e compartilhando: tudo se acaba para que tudo permaneça. A naturalidade do entrópico.

O homem, agora, depois de um século, se refaz criativo, pensador, múltiplo. Deixamos um contexto complicado e adentramos em um complexo.

 

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Marina Khouri Zanusso é designer, pós-graduada em marketing e comunicação, entusiasta do futuro do trabalho, da inteligência artificial aplicada a gestão de pessoas e a negócios. Foi trainee na Oakian e é profissional da Lenovo.

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