Suelen Gajus
Aterrissei em Edimburgo, Escócia

Especial para a EA Magazine

 

Começando minha história em Edimburgo

Meus primeiros dias morando em Edimburgo foram no mínimo desafiadores. Cheguei com um nível intermediário de inglês, mas falhei miseravelmente ao tentar entender que a moça da farmácia estava me oferecendo uma sacola para levar as minhas compras. O inglês escocês é muito diferente do inglês americano que somos geralmente expostos no Brasil, em relação ao sotaque e até em muitas palavras e expressões.

Felizmente o povo escocês também é muito simpático e educado, então pude perguntar várias vezes pra repetir que a maioria das pessoas repetia como se fosse a primeira vez.

A vida de estudante era linda

Eu acordava cedo, ia pra aula e depois tinha a tarde inteira livre pra explorar a cidade. Edimburgo é um livro de história a céu aberto. No caminho de volta da escola pra minha acomodação passava pelo parque que já foi um lago onde afogavam condenados por bruxaria. Almoçava às vezes na praça onde executavam enforcamento público, tudo isso com vista para um castelo medieval.

Quando queria cortar caminho passava pelo cemitério onde os túmulos foram inspiração para vários personagens do Harry Potter e, inclusive, passava pela rua que dizem ser inspiração do Beco Diagonal.

A vida também era muito calma, fazendo um contraponto à vida louca de São Paulo. Eu fazia tudo a pé, aproveitei muito o verão indo ao parque para estudar, ler um livro ou só ficar lá pensando na vida. Não queria mais voltar pra casa, eu tinha encontrado uma casa nova.

No fim de 2018 depois de fazer um mochilão por mais de um mês por alguns países da Europa, voltei brevemente pro Brasil
Aí começa a segunda fase da minha mudança. Me mudei para uma cidade no interior da Itália, no meio das colinas, para dar entrada ao processo de cidadania italiana. Foram sete longos meses em 2019 para finalmente conseguir o tão esperado passaporte. Nessa época, comecei a me candidatar a vagas de TI em Edimburgo, já dizendo aos recrutadores que logo, logo, já iria me mudar. No fim de 2019 comprei minha passagem definitiva pra Edimburgo, com toda a minha história de vida em duas malas de viagem.

Busca por trabalho

A busca pela primeira oportunidade de trabalho na Escócia foi bem complexa. Contatos aqui são muito importantes, como o são no Brasil, mas infelizmente eu não tinha nenhum. Procurei grupos, meetups, sem sucesso. A comunidade aqui, principalmente a de produtos que é onde foquei as minhas buscas, não parece ser tão ativa. A pandemia trancou todo mundo em casa apenas quatro meses depois que cheguei aqui e as vagas ficaram bem escassas. Cada segundo que tinha livre era buscando vagas, adaptando currículo, montando cartas de apresentação.

Enquanto isso precisava sobreviver aqui. Logo que cheguei ouvi a dica “vai em hotel, sempre precisam de gente“. A gerente da limpeza não queria me contratar de jeito nenhum, explicando que o trabalho era pesado e que eu não ia dar conta. Porém a dica era certeira, eles realmente sempre precisam de gente. E ela me contratou! A gerente do hotel também foi certeira, pois não dei conta do trabalho pesado. Uma vida inteira de trabalho em escritório não facilitou em nada minha vida num trabalho braçal, e logo fui pra outro emprego, dessa vez numa dessas redes de pizzaria. Esse sim, um trabalho onde pude aplicar muito do meu conhecimento de organização, gestão, priorização. Fazendo pizza? Sim.

Sabiamente usei essa experiência nas minhas entrevistas de emprego, fazendo alguns recrutadores ficarem empolgados com minha adaptabilidade e resiliência.

O tão sonhado primeiro emprego na área tech veio depois de um ano da minha mudança definitiva para Edimburgo
A vaga coube perfeitamente na minha lista de desejos quando saí do maior banco do Brasil: eu seria analista de produto em uma empresa pequena onde poderia participar ativamente das decisões, onde não seria só mais um número, onde poderia ver a diferença que meu trabalho fazia na vida dos meus clientes.

Ah, os brasileiros!

Acho que o que mais me deixou tranquila na empresa nova foi perceber que há mesmo um oceano de distância, com outra cultura e língua, mas os desafios são exatamente os mesmos! Backlog suficiente pros próximos cinco anos, clientes reclamando que seus desejos não são atendidos, inúmeros débitos técnicos, várias tentativas fracassadas de seguir um framework ágil. Podia ser qualquer empresa que, você leitor, já trabalhou em qualquer outro lugar no mundo, eu tenho certeza disso.

Depois de um ano aplicando muito do conhecimento adquirido em 12 anos de mercado TI no Brasil, tenho muito orgulho! Tenho ajudado a empresa a realizar entregas muito relevantes no mercado de venda de ingresso e gestão de bilheteria.

Como na maioria dos países na Europa, meu time tem uma variedade de culturas com pessoas de países totalmente diferentes. Isso é mesmo muito legal, aprender coisas novas diariamente com um time tão plural. E apesar de gostar muito dessa mistura, confesso que viver em inglês 24/7 é muito cansativo.

Por isso sugiro muito que todo mundo que se mude de país procure a comunidade brasileira na sua nova cidade. Eu conheci brasileiras maravilhosas aqui que aquecem meu coração e entendem todas as doçuras e amarguras da vida de imigrante.

Até o próximo relato!

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New College da Universidade de Edimburgo scaled 1 - Aterrissei em Edimburgo, Escócia Castelo de Edimburgo - Aterrissei em Edimburgo, Escócia edimburgo 2 - Aterrissei em Edimburgo, Escócia

Castelo no centro da cidade, universidade referência na Europa, um dia a dia em ruas lindas

 

Relato 1. Minha história com a tecnologia.

 

Perfil1 - Aterrissei em Edimburgo, Escócia
Suelen Gajus é profissional de TI há 16 anos. Atuou no Brasil na área financeira no Itaú e na Rede. Hoje é mulher de produto em Edimburgo, Escócia, na empresa Red61. Está em busca constante do equilíbrio entre a vida profissional bem-sucedida e o prazer da vida pessoal.

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