Suelen Gajus
De Edimburgo, Escócia, Reino Unido

Especial para a EA Magazine  

 

Minha história com a tecnologia 

As vezes, ando por Edimburgo sem rumo, só pelo prazer de estar na cidade. Eu vejo os prédios tão antigos, as vielas, as escadarias de pedras, um castelo no meio da cidade e fico pensando que a Suelen de 15 anos jamais imaginaria que viria parar aqui. Seria clichê dizer que estou vivendo meu sonho, mesmo porque na realidade eu nunca nem sonhei com isso aqui.

Aos 15 anos eu tinha um blog, e apesar de gostar de escrever, minha grande diversão era mexer no html do meu blog e ver o que acontecia. O ano era 2001 e vocês fiquem a vontade pra fazer as contas aí sobre a minha idade. Aos 17 quando precisei escolher um curso no vestibular, foi meu pai que veio com a ideia do curso de Processamento de Dados. “Curso bom, empregabilidade boa. Tecnologia é a profissão do futuro”. Meu pai sabia das coisas, como vocês podem ver.

Início de carreira com meu pai

Foi meu pai também que me disse pra eu fazer aquela matéria optativa de COBOL. “Os velhos estão se aposentando, precisa de gente nova”. E pula pra 2006, uma menina de 20 anos, programadora COBOL, em seu primeiro estágio. Pula pra 2007, analista de sistemas num banco, um dos maiores do sistema financeiro brasileiro. O orgulho do pai.

Nunca me considerei uma desenvolvedora brilhante, apesar de sempre me divertir codificando. Acabei fazendo um movimento de carreira indo mais pra análise, terceirizando codificação, focando em solução, teste, qualidade e toda a bobagem de documentação desnecessária que muita gente deve se perguntar até hoje porque diabos a gente criava, juntava tanto documento.

Me destaquei, alguns anos seguidos com excelentes avaliações, honestamente eu nem me lembro como ou porque. Analista sênior aos 25 anos. Ganhei o alvo nas costas: talento.

De repente tudo o que eu fazia agora tinha que ser atrelado a um objetivo, uma meta, precisava planejar tudo o que queria pra minha carreira no futuro. Tinha que apresentar o meu plano pra diretor, eu tinha um mentor em cargo executivo. Tinha que querer ser igual a eles, eu tinha que querer uma posição de gestão.

Malha batch de madrugada

Olhando pra trás agora, eu nunca quis nada disso que me aconteceu. Eu só queria continuar me divertindo, acompanhando malha batch de madrugada, validando arquivo. Mas ao invés disso eu mudei de time pra poder mudar meu foco pra gestão, comecei a fazer entrevistas pra vagas internas e, eventualmente, virei coordenadora de sistemas.

Meus três anos como coordenadora de sistemas foram muito difíceis. Acho que o maior impacto de ter virado coordenadora foi não me sentir mais parte do time. Eu não sentia mais que fazia parte da entrega, eu não era mais a pessoa que fazia, tinha que fazer o time fazer.

A função de gestão de pessoas também foi causa de muita ansiedade e noites mal dormidas. Eu não me sentia confortável em avaliar desempenho, de ser a responsável por definir o futuro profissional de um grupo de pessoas. Sei que na época me dei uma carga de responsabilidade que na verdade nunca foi minha. Não era minha função definir nada pra ninguém, cada um é responsável pela própria carreira e seu papel no time.

Mentoria X Imaturidade

Eu poderia apenas mentorar e direcionar, mas minha imaturidade me fez trazer pra mim toda a responsabilidade por cada uma das pessoas do meu time. A frustração por não conseguir lidar com tudo o que eu pensava que precisava lidar me mantinha num estado constante de ansiedade e impotência.

E foi nesse estado de estafa mental, que eu tirei duas semanas de férias, sozinha, e viajei pro Reino Unido. Eu tinha começado a assistir uma série que se passava na Escócia e estava doida pra conhecer o lugar. Além disso, como fã do rock britânico, sempre tive uma quedinha pela Inglaterra e, finalmente, realizei meu sonho de conhecer essa ilha tão famosa.

E foi sentada num café numa cidade super pacata no interior da Escócia, que percebi que aquela angústia que sentia era causada pelo meu trabalho (ou pela forma como eu estava trabalhando, coisa que vim a descobrir mais tarde).

Hierarquia e demissão   

Na análise que fiz nessa viagem, culpei muito o mundo corporativo pelo que estava sentindo. Culpei a estrutura hierarquizada, os processos rígidos, o próprio método de avaliação de desempenho que tinha me “forçado” à posição que cheguei. Sonhava que no meu próximo emprego tudo seria exatamente o contrário do que tinha experimentado até então, e que isso é o que me faria realizada na minha carreira. Spoiler alert: não era.

Voltei pra São Paulo e no primeiro dia pós férias, pedi demissão. Pedi demissão do meu emprego de 11 anos, aos 32 anos de idade.

Eu tinha um plano, veja bem. Sete meses de intercâmbio em Edimburgo, aprimorar o inglês pra deixar o currículo mais atrativo e procurar uma vaga que trouxesse aquela analista de sistemas feliz de volta. Planos quase nunca saem como planejado. E que bom.

Edimburgo, Reino Unido

Edimburgo é segunda cidade mais populosa da Escócia, tem cerca de 500 mil habitantes. Fica a margem do estuário do Rio Forth (Firth of Forth). É sede do parlamento escocês desde 1999. É a segunda cidade mais visitada de toda Grã-Bretanha, superada apenas por Londres. Tem algo nela mágico e incomum. Em seu centro, fica o Castelo de Edimburgo, construído sobre uma rocha de origem vulcânica. É também um centro de referência de estudo tech. Possui uma das mais prestigiadas universidades da Europa, a Universidade de Edimburgo, pioneira na informática e gerenciamentos de TI.

Victoria Street 2020 Easy Resize.com - De Edimburgo, Escócia, Reino UnidoCalton Hill 2020 Easy Resize.com - De Edimburgo, Escócia, Reino UnidoEdinburgh Castle 2018 Easy Resize.com - De Edimburgo, Escócia, Reino Unido
Dean Village 2018 Easy Resize.com - De Edimburgo, Escócia, Reino Unidoedimburgo 01 Easy Resize.com e1654626345957 - De Edimburgo, Escócia, Reino UnidoInverno 2021 Easy Resize.com e1654626776471 - De Edimburgo, Escócia, Reino Unido

 

Continuarei contando minha jornada tech no próximo relato.
Aguarde! Você vai gostar!

 

Perfil1 Easy Resize.com - De Edimburgo, Escócia, Reino Unido

Suelen Gajus é profissional de TI há 16 anos. Atuou no Brasil majoritariamente na área financeira no Itaú e na Rede. Hoje é mulher de produto em Edimburgo, Escócia, na empresa Red61. Está na busca constante do equilíbrio entre a vida profissional bem-sucedida e o prazer da vida pessoal.

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