Por Danilo Olegario
Se tem uma coisa que aprendemos (ou pelo menos ouvimos) desde cedo é que o mundo está sempre em processo de mudanças, e por mais clichê que possa parecer, vale começar o texto com a reflexão: o mundo realmente está mudando.
A tal era da sociedade do conhecimento de Peter Drucker nunca esteve em tão evidência dado a evolução tecnológica e somado aos efeitos da pandemia, o aprendizado em rede se tornou o dia a dia recorrente de escolas e organizações.
Mas é claro que mesmo antes da pandemia, o mundo já aclamava por uma nova roupagem nas abordagens de aprendizagens na educação tanto tradicional > aquela de base curricular da vida acadêmica, quanto da corporativa > os convencionais treinamentos de performance.
A educação em um novo tempo
A tal educação 4.0, inspirada pela evolução da indústria 4.0, estava começando a ocupar um relevante espaço nas discussões acerca das transformações emergentes na educação antes do cenário pandêmico, o escritor Peter Fisk em um artigo publicado em janeiro de 2017 no The Genius Works – “Education 4.0 – The future of learning will be dramatically diferente, in scholl and throughout life” (Educação 4.0 – O futuro da aprendizagem será dramaticamente diferente, na escola e ao longo da vida)¹, já apontava nove tendências que se destacariam como as principais mudanças num futuro próximo no mundo da aprendizagem:
- Tempo e local diversos. Não nem precisa de muito esforço para argumentar que essa prática se tornou indispensável na forma como “consumimos” a informação.
- Aprendizado personalizado. Conteúdos customizados feito sob medida para todos os tipos e formas de aprendizagem.
- Livre escolha. Autonomia do aprendiz na construção do seu conhecimento;
- Aprendizado baseado em projetos > um recurso já praticado em universidades corporativas.
- Experiências em campo. Abordagens que buscam integrar a prática na construção da jornada de aprendizagem.
- Interpretação de dados. O avanço da linguagem computacional será inserido cada vez mais no mundo acadêmico e principalmente dos negócios, a pandemia impulsionou a automatização de processos, porém o elemento de interpretação humana de dados se tornará cada vez mais um diferencial competitivo.
- Novas formas de avaliação. As avaliações tradicionais perderão espaço para modelos e plataformas que consigam medir de maneira mais eficaz a aprendizagem humana.
- Participação dos alunos. Um aumento do protagonismo do aluno, cada vez mais os jovens estarão “envolvidos” com a construção da sua aprendizagem. Tutoria. O papel do professor como um tutor, um facilitador da aprendizagem.
A necessidade de transformação na educação toma o centro das pautas mais importantes no mundo pós-pandemia porque a velocidade que tivemos (e ainda estamos) que aprender a aprender, ou seja, absorver novas competências e habilidades, se tornaram indispensáveis para lidar com as incertezas, não somente pelos efeitos do isolamento social, mas também porque os apetrechos tecnológicos não param de evoluir, e a nossa capacidade para acompanhar essa dinâmica é quase que impossível.
É um efeito que chamo de “obsolescência acelerada”, ou seja, o aplicativo que aprendemos a mexer de hoje pela manhã, até o final da tarde ele já pode estar obsoleto.
Esse é um fenômeno da era digital, as novidades não ficam mais novidades por muito tempo, considerando que no passado uma “tecnologia” permanecia como novidade por muitos anos – o exemplo da máquina de escrever. Kevin Kelly, autor do livro “Inevitável: As 12 forças tecnológicas que mudarão nosso mundo”², destaca que, no futuro, todos nós estaremos na condição de eternos novatos na tentativa de acompanhar os avanços da tecnologia. Ele considera que a maioria das tecnologias que dominarão o nosso mundo daqui a trinta anos ainda não foi inventada, e, portanto, ainda seremos novatos diante delas.
Nesse contexto, não faz nenhum sentido que as abordagens de aprendizagem também não sofram impactos significativos.
Em meu recente livro “Educação Pós Pandemia: a revolução tecnológica e inovadora no processo de aprendizagem após o coronavírus”³, procuro trazer como paralelo modelos de negócios que mudaram padrões de consumo da sociedade, a exemplo de empresas como NETFLIX, GOOGLE, SPOTIFY, entre outras, que estabeleceram novos comportamentos sociais, pautados muito similarmente pela oferta de autonomia e liberdade para o usuário, o que significa dizer que depois desses modelos de negócio as pessoas ampliaram também seus níveis de exigências.
Não seria diferente na educação, onde as expectativas de ensino e aprendizagem precisam calibrar com momento da sociedade, as pessoas não consomem mais aquilo que não visualizam sentido.
Transformações emergentes na educação
Por isso que as transformações emergentes da educação, em todos os seus âmbitos (acadêmico e corporativo) precisam compreender:
- Atender as demandas da sociedade
- Colocar o ser humano no centro da aprendizagem (e não somente as grades curriculares)
- Não podem mais ser superficiais
- Precisam gerar valor (além do ambiente de aprendizagem, para a vida)
- Lifelong Learning – a aprendizagem ao longo da vida, que eu costumo traduzir na metáfora da personagem Dory (Procurando Nemo; Procurando Dory) que é o “continue a nadar”
- Precisa causar rupturas nos modelos atuais
O mundo estará sempre em processo de transformação e a humanidade estará sempre se encaixando de alguma forma para prosseguir. A velocidade com que aprendemos a lidar com essas transformações será norteadora da humanidade nos próximos anos, a aprendizagem moderna na educação passa inevitavelmente pela velocidade com que nos adaptamos às mudanças no mundo.
Todo esse processo de transformação não deixará de ser humano, e não deixará de ser da nossa essência de eternos aprendizes diante da complexidade da vida como ela é.
A evolução, o progresso, a inovação sempre terá um custo adicional que é fazer diferente, dar o primeiro, provocar o senso comum a ir além do óbvio para a construção de novos repertórios, e nesse sentido, eu prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo (ao bom e velho Raul).
¹FISK, P. Education 4.0 … the future of learning will be dramatically different, in school and throughout life. The Genius Works. 24 jan. 2017. Disponível em: Educação 4.0 … o futuro da aprendizagem será dramaticamente diferente, na escola e ao longo da vida. – Peter Fisk . Acesso em: 29 nov. 2021.
²KELLY, K. Inevitável: As 12 forças tecnológicas que mudarão nosso mundo. São Paulo: HSM, 2017.
³OLEGARIO, Danilo “Educação Pós Pandemia – a revolução tecnológica e inovadora no processo de aprendizagem após o coronavirus”. São Palo, 2021.
Livros do autor
Uma questão de escolha: princípios valiosos para uma vida grandiosa, Editora Giostri
Treinamentos comportamentais, Editora Ser Mais
Team e leader coaching, Editora Ser Mais
Planejamento estratégico para a vida, Editora Ser Mais
Danilo Olegário é consultor, especialista apaixonado por educação corporativa, área na qual atua há mais de vinte anos atendendo empresas players, como Hyundai Motors, São Martinho, Aegea Saneamento e Grupo CCR. É pai, marido, filho, escritor, palestrante e um curioso pesquisador do universo humano.
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