Felipe no mundo dos ciborgues | Felipe Gruetzmacher

 

Em 2022, uma Startup chamada Kadabra cria uma tecnologia que é, supostamente, capaz de teletransportar pessoas.

O escritor de sci-fi, Felipe Gruetzmacher, é a primeira cobaia: ele usará a máquina para se teletransportar de um laboratório dos Estados Unidos para outro localizado no Canadá.

A primeira etapa do processo funciona: Felipe desaparece… A segunda etapa falha: Felipe não aparece no laboratório do Canadá e nunca mais é visto naquele ano. A Startup Kadabra é formalmente acusada de causar um acidente por desenvolver uma tecnologia defeituosa. Para reverter a crise, a Kadabra investe pesado num outro produto: cirurgias que transformam pessoas em ciborgues. São humanos com partes, órgãos e implantes robóticos que têm vida eterna. Quais são as consequências disso para o mundo? E o que aconteceu com Felipe? Por causa de um defeito no equipamento da Kadabra, ele viaja no tempo e reaparece no mesmo laboratório norte-americano, no ano de 2200. E as mesmas pessoas de 2022 estão vivas nesse futuro, pois são ciborgues imortais. 

Todos esses ciborgues trabalham 24 horas por dia, 7 dias por semana, porque ninguém encontra um sentido para a própria vida fora do labor. Como todos são ciborgues, não há distinção entre cor, gênero ou orientação sexual: todos têm emprego.O emprego pleno afugenta o desemprego, subemprego e a precariedade. Felipe poderá trazer humanização nesse mundo ciborgue?

Alguns insights:

As reflexões sobre o conto acima são extraídas da literatura científica “Antropologia do Ciborgue: as vertigens do pós-humano”. A mensagem nuclear é trazer novas ideias sobre o futuro:

  • O primeiro ciborgue, conforme cita o livro, foi um rato de laboratório estudado num programa experimental no Hospital Estadual de Rockland, Nova York, no final dos anos 50. Os cientistas implantaram, no rato, uma pequena bomba osmótica que injetava doses precisamente controladas de substâncias que modificavam as reações do corpo do animal. Era uma criatura meio animal, meio máquina. Logo, chegamos no primeiro insight:
  • Se a tecnologia é uma extensão dos nossos corpos biológicos, quais as tarefas e trabalhos que merecem ser automatizados para libertar o ser humano do trabalho penoso? Qual critério usar?
  • A tecnologia não é algo antagônico à vida biológica. Podemos seguramente conciliar progresso tecnológico com mitigação dos nossos impactos ambientais, boa qualidade de vida e salvar o planeta
  • Se nós estamos todos integrados em sistemas tecnológicos e redes sociais, podemos desmontar e reconstruir nossa identidade: não há receita mágica para incluir minorias nas empresas e corporações. Um dos grandes desafios do time de recursos humanos é usar a tecnologia para simplificar a atração e desenvolvimento de talentos diversos, sempre enfatizando a combinação entre colaborador, propósito da empresa e progresso profissional do colaborador
  • A realidade não é como no conto sci-fi, onde todos são igualados só porque são ciborgues. Não há como comparar o contexto de uma jovem negra moradora da periferia com um homem branco de classe média com deficiência. Todos temos desafios diários e obstáculos. Assim, estratégias de acolhimento de talentos singulares devem priorizar esses atendimentos diferenciados
  • Colocar todos e todas dentro de categorias estanques e identidades rígidas acaba dificultando a atuação do time de seleção e desenvolvimento de pessoas. No final, a corporação só contrata pessoas pertencentes às identidades minoritárias para apresentar uma boa imagem pública e cumprir a lei de cotas
  • A tecnologia permite a dispersão e a descentralização de informações e novos modelos de controle sobre o colaborador e os sindicatos. Como esses mesmos sindicatos e o patronato podem chegar numa harmonização e cocriar relações de trabalho mais baseados na colaboração e não no controle? Como a tecnologia pode ampliar a produtividade, reduzir o tempo de trabalho e fazer com que o colaborador seja avaliado pelos reais resultados entregues e não pelo tempo de trabalho?
  • O livro cita bastante sobre as lutas coletivas e sindicais das mulheres que almejam um trabalho mais digno numa época de reestruturação técnica dos processos de trabalho e modificações das classes trabalhadoras. “Transportando” esses conceitos para a realidade do trabalho contemporâneo, observamos que:
  • O individualismo toma conta das relações de trabalho
  • O uso intensivo de tecnologia pode provocar terríveis modificações no trabalho humano, cujas consequências são o trabalho precário e modelos de tarefas efetuadas sob demanda ou projeto. Exemplos são aplicativos que conectam trabalhadores e consumidores.  O grande problema nisso tudo é que, às vezes, esse regime de trabalho part-time não permite que a pessoa acesse pagamentos suficientes para uma vida digna. É a desocupação e o subaproveitamento da força de trabalho. E muitos colaboradores que se enquadram no regime part-time se sentem como “empreendedores de si mesmo”
  • Agora, o emprego pleno nos moldes de antigamente já não é mais uma possibilidade com tantas modificações e transformações nas economias digitais.  A solução apontada pelo conto é inviável
  • Como combinar segurança jurídica, trabalho digno e os ganhos trazidos pela automatização?
  • Com tantas crises e transformações sofridas pelo modelo econômico, qual será a próxima versão do capitalismo?

Essas são algumas reflexões e percepções tiradas da obra e do conto sci-fi. Acredito que são temas de extrema relevância para fomentar futuras discussões em torno do trabalho do futuro.

Continue lendo!

Conto 5: O robô do sindicato. Acesse aqui.

 

felipe Easy Resize.com - Felipe no mundo dos ciborgues

Felipe Emilio Gruetzmacher é formado em gestão ambiental, educação ambiental e se especializou em copywriter através de muitos cursos online, muita prática e dedicação. Autor na Comunidade EA é um dos mais lidos na plataforma. Tenta decifrar os enigmas do trabalho humano, até porque essas questões podem mudar os rumos da sociedade humana e acelerar a marcha da história rumo à Utopia.

https://www.linkedin.com/in/felipegruetzmacher/


Fale com o editor:  

eamagazine@eamagazine.com.br