Por Sonia Crisóstomo
Já há algum tempo venho comentando de forma leve sobre o nosso empobrecimento vocabular. Algumas mensagens trocadas com amigos e familiares são, não somente “enfeitadas” de emojis, mas esses vêm tomando proporções assustadoras em nossa comunicação.
Engana-se quem pensa que a literacia digital substitui qualquer outra habilidade de comunicação quando pensamos em futuro do trabalho, ou até mesmo em seus relacionamentos e vida pessoal.
Devo admitir que honestamente, em uma conversa com quatro perguntas que faço, receber quatro emojis como resposta me tira a paciência.
É como se voltássemos aos tempos antigos onde toda comunicação e registro de atividades sociais fossem feitas somente por meio de desenhos. Mas já se passaram cinco mil anos e esse é um caminho que não dá pra voltar (pelo menos eu espero).
Houve, sem a maior sombra de dúvidas, uma substituição dos momentos de lazer proporcionados pelos livros, por uma abundante e interminável sequência de Reels, que proporcionam o prazer em 30 segundos.
Sem querer, estamos habituando nosso corpo, mente e emoções para respostas rápidas para tudo em nossas vidas. E quando digo rápido, refiro-me ao imediato.
Esse empobrecimento, cruza diversas áreas da educação, sociologia, economia e psicologia e surge no contexto das mudanças trazidas pela automação.
O avanço da inteligência artificial é um fato e até os menos esclarecidos sabem dessa verdade. E a geração mais jovem busca se capacitar para obter um lugar ao sol nesse novo e atraente mundo cibernético. No entanto, para se conseguir desenvolver um prompt corretamente, o indivíduo necessariamente tem que buscar a palavra correta, sob pena de obter resultados indesejados ou insatisfatórios como resposta.
A inteligência artificial ainda não compreendeu se (desenho das mãos) quer dizer gostei, te amo, obrigada ou pior… “gratidão”.
Moda linguística que se justifica pela busca de pertencimento, ou pertença, como se diz cá em Portugal.
A automação de processos exige habilidades cognitivas, no momento em que o indivíduo, ao desenvolver suas atividades laborais necessita compreender conceitos complexos, se comunicar de forma clara e eficaz, interagir e se adaptar.
Para mitigar o impacto da pobreza vocabular, é essencial investir em alfabetização contínua e programas educacionais que foquem no desenvolvimento de habilidades de comunicação ao longo da vida. À medida que as demandas de trabalho mudam, a requalificação e o aprimoramento linguístico serão componentes-chave para evitar o aumento da desigualdade no mercado de trabalho.
E saindo um pouco da literacia digital para abordar a pobreza vocabular na vida pessoal, saber expressar seus sentimentos de forma clara é uma condição sine qua non para que a outra pessoa possa entender seu momento.
Simplesmente L não diz com clareza se você está triste, deprimido, não gostou de algo ou se está só naquele momento em que precisa de cinco minutos para se autorregular emocionalmente. Se você não se expressa com clareza, não espere que o outro interprete seu emoji e que possa te dar um suporte para o que estiver te incomodando.
Conheço pessoas que, quando estão com fome, se transformam em um misto de mal educados e deprimidos, dando respostas monossilábicas e deselegantes.
Alguém já se deparou creio, com esse tipo de comportamento. E no final das contas o mal era só fome, ou melhor, vontade de comer algo.
Observe se as palavras da moda como top, gratiluz, gratidão, fechou, bora, etc, podem ser usadas diante do seu interlocutor. Essas são palavras que você até pode usar (e eu também uso eventualmente, exceto gratidão e gratiluz), quando você estiver em um grupo de confiança: aquele grupo de amigos que você se despe de qualquer armadura para se comunicar divertidamente.
Nesse aspecto, se estiver com o grupo de trabalho, é aconselhável se expressar melhor, de forma mais clara, mas sem afastar o outro.
Lembre-se que a comunicação deve ser humanizada e emoji não tem alma.
Quero te fazer uma provocação. A partir de hoje e por uma semana, tente não usar figurinhas para expressar seus sentimentos e emoções. Perceba se você consegue encontrar no seu vocabulário a palavra, e não um emoji para se expressar o que sente ou o que quer dizer.
A segunda provocação é: Se você tivesse que usar a IA para desenhar uma casa elegante (pense na casa elegante), você teria vocabulário para realizar o prompt? Em frente à casa, você usaria pilares ou colunas?
Desejando que você se expresse bem para ser feliz.
Sonia Crisóstomo é casada, mãe de duas filhas, empreendedora e escritora. Formada e pós-graduada em Ciências da Computação, MBA em Executive Marketing. Sócia do Wholebeing Institute e ETI Europe. Mais de 30 anos em empresas de Telecomunicações e de Tecnologia da Informação. Formada em Psicologia Positiva, Inteligência Emocional, Programação Neurolinguística, Hipnoterapeuta com especialização em Hipnose Clínica. Diplomata Civil Humanitária, G100 Global Advisor Council Member, Embaixadora Master do Clube Mulheres de Negócios de Portugal e Membro do Conselho Administrativo do Instituto Raiz Nova. Colunista da Revista Mulher Africana. Prêmio Gênios da Atualidade de 2023 na categoria Escritora do Ano em Portugal. Grand´Ambassadeur da Divine Académie des Arts Lettres et Culture da França. É Colunista EA “Felicidade”.
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