Pensar o RH de agora | Suze Petiniunas
EA – Como gestora de RH qual seu aprendizado com a pandemia?
Suze Meu maior aprendizado, sem dúvida, foi a importância de cuidar de nossa saúde mental. De buscar nosso equilíbrio interno. De entender o que nossas emoções e sentimentos estão querendo nos dizer, para que possamos cuidar de nós. Sempre acreditei muito na importância do autoconhecimento, mas a pandemia só me fez confirmar o quão importante isso é.
Somos seres emocionais e aprendemos que isso é ser fraco. Porém, na verdade, aí está nossa maior fortaleza.
Principalmente no papel de RH, você precisa estar bem com você, para poder apoiar e cuidar dos demais. Como naquela estória do avião. Se você não colocar a máscara de oxigênio primeiro em você, não conseguirá apoiar as outras pessoas a respirarem.
EA – Autogestão e autodesenvolvimento, na sua opinião, colaboradores estão sendo orientados a desenvolver essas habilidades?
Suze Com certeza. Hoje se fala muito na responsabilidade que cada um tem com seu autodesenvolvimento. Para nós, isso é um valor. A ideia de que a empresa é a única responsável pelo desenvolvimento das pessoas, cada vez mais vem perdendo força. Também falamos muito da responsabilidade na gestão de suas próprias carreiras e na necessidade da atualização constante – o upskilling e o reskilling.
Outra questão que consideramos cada vez mais é a forma de aprender. Entendemos que cada pessoa tem as suas necessidades de aprendizagem e desenvolvimento, assim como suas formas de aprender, que são diferentes de pessoa para pessoa.
O que vejo é que cada vez mais as empresas vem promovendo essa consciência em seus colaboradores e viabilizando maneiras de acesso que possam ser mais personalizadas de acordo com a necessidade de cada colaborador.
Na Telhanorte Tumelero nós temos o Portal Construir, no qual disponibilizamos treinamentos de inúmeros temas e nossos colaboradores podem fazer os cursos relacionados às suas necessidades de desenvolvimento no momento em que for mais apropriado para eles.
EA – Suas equipes ficaram em home office? Em 2022, como será o modelo de trabalho de vocês?
Suze Sim, as equipes que trabalham em nossa Sede, onde estão as atividades mais administrativas, trabalharam todas em home office. Já nas nossas Lojas e Centros de Distribuição as pessoas trabalharam de forma presencial, seguindo todos os protocolos de saúde e segurança, o que para nossa empresa é um tema de vital importância.
Devemos trabalhar de forma híbrida a partir do início do ano, com alguns dias em nossa Sede e, outros em home office. EA – O que nunca mais será o mesmo no ecossistema de RH depois da pandemia?
Suze A forma de gerir pessoas e as habilidades de liderança. Ambientes que incentivem a confiança, a autonomia, o espaço para o aprendizado e para a inovação, no meu entender, tenderão a crescer. Os líderes precisarão desenvolver cada vez mais as habilidades de coaching e gestão à distância.
Também precisarão ser fortes exemplos da cultura para que possam inspirar e engajar as pessoas à distância. Todas as pessoas, independente de seu cargo, precisarão pensar em novas formas de fazer as coisas e desapegar do que sabiam ou faziam. Por isso novas competências e mentalidades precisarão ser desenvolvidas e incentivadas ainda mais.
EA – Treinamentos, em sua maioria, antes da pandemia, eram presenciais, como serão em 2022?
Suze Alguns treinamentos pontuais e mais específicos continuarão sendo feitos de forma presencial, mas a grande maioria deles deverá ser feito através de nosso portal de educação. Pelos nossos indicadores de evolução desde a implementação do Portal Construir, percebemos que os acessos vem crescendo de forma exponencial. Isso reforça que o colaborador escolher o melhor horário e dia para fazer seus treinamentos e atividades de desenvolvimento é uma boa alternativa e gera maior engajamento.
EA – Culturas organizacionais se desenharam no ambiente presencial, o jeito de ser da empresa pode ser digital?
Suze Tenho certeza que sim. A cultura depende do alinhamento dos valores das pessoas ao alinhamento dos valores da empresa. Ela se reflete na forma como essa empresa vive: seus processos, seus símbolos, seus rituais.
Se a empresa tiver uma liderança engajada e, que seja exemplo, mesmo estando à distância, mas estando presente, entendo totalmente possível. Também se as pessoas enxergam que a cultura é espelhada nos processos, nos sistemas, na forma como se relaciona com o cliente, independe de onde estiverem, as pessoas sentem que é para valer.
EA – Como analisa a chegada das HR Techs? Qual a força deste modelo fornecedor para o RH?
Suze Acho propostas e parceiros bem interessantes e vejo com muito bons olhos. Entendo ser fornecedores que trazem soluções que podem suportar mudanças de cultura, novas formas de fazer as coisas, que geram valor e facilitam processos. Num mundo em constante transformação, esses parceiros ofertam novas formas de se fazer as coisas.
EA – A saúde mental está no centro do RH gerando novos modelos de benefícios. Como conduzem este tema?
Suze Desde a pandemia esse assunto foi de crucial importância para nós. Logo no início disponibilizamos um programa chamado “Queremos te ouvir” no qual dávamos apoio para as pessoas que precisassem conversar ou não estivessem bem psicologicamente e dependendo dos casos, encaminhávamos para especialistas. Recentemente fechamos contrato com uma plataforma especializada em saúde mental e tivemos excelente repercussão interna também.
“Os dois processos foram muito bem vistos por nossos colaboradores que perceberam nosso genuíno interesse em cuidar de nossas pessoas.”
É um tema sempre presente em nossos programas de Desenvolvimento de Lideranças e abrimos conversas periódicas das pessoas, chamadas de “Papo que Constrói” com nosso CEO, para conversar, ouvir e trocar sobre como estávamos nos sentindo.
EA – Programas como integração, clima, feedback, liderança, perderam vigor com a pandemia? Precisam ser redesenhados?
Suze Não perderam vigor, mas precisaram ser adaptados para o mundo virtual. Não acredito que tenhamos tido impacto, muito pelo contrário, pois mantivemos os programas atuais e ainda desenvolvemos novos programas, como nosso programa de formação de Embaixadores da Cultura, e intensificamos programas já existentes, como os programas Diversidade e Inclusão e o de Estagiários.
Entendo que acertamos a receita, pois tivemos um excelente resultado em nossa pesquisa anual de Engajamento. Recebemos o selo GPTW – Great Place do Work, o que para nós foi o reconhecimento de nossos times de tudo o que fizemos durante a pandemia.
EA – Colaboradores estão mais protagonistas em suas carreiras e com menos lealdade as marcas empregadoras. Como reter hoje um bom profissional?
Suze No meu ponto de vista e, pela minha experiência, o salário e o benefício são importantes, mas só isso não basta, como muitas pesquisas de mercado já mostram há algum tempo. Entendo que se a pessoa tiver espaço para trazer suas ideias, trazer sua fala, tiver um projeto desafiador, uma boa liderança, tiver oportunidade de gerar valor, for reconhecida, desenvolvida em suas atividades e em sua carreira, além de ver na empresa um propósito consistente, ela não terá motivação para mudar de empresa tão frequentemente.
EA – De maneira geral, o que precisa mudar nas empresas na gestão de pessoas, a partir da pandemia?
Suze No meu ponto de vista aprendemos muito com a pandemia e já nos desenvolvemos muito. Mas de uma forma geral percebo que ainda há uma oportunidade de evoluir nas questões de comando e controle. Precisamos nos provocar a mudar os modelos de gestão que já não servem mais, desapegar de crenças que estão desatualizadas, testar novas formas de gerir pessoas e de trabalhar.
“Precisamos confiar mais nos times, simplificar e agilizar mais os processos, dar mais autonomia para as pessoas e ter mais espaços de conversa e coaching.”
EA – Quais as perspectivas para o ecossistema de RH no futuro do trabalho?
Suze Do que eu tenho ouvido e estudado, o papel de RH deverá se intensificar como parceiro estratégico. Um parceiro facilitador, que se provoque a mudar e que traga novas perspectivas de liderar.
“Que simplifique processos e que seja um agente transformador de tudo o que precisa evoluir nas organizações.”
Que dê apoio às lideranças para desenvolverem suas novas competências num mundo em constante transformação e que enxergue os colaboradores como clientes internos. Desenhar a melhor jornada e a melhor experiência, resultando em ambientes positivos, desejados e que gerem engajamento e desenvolvimento.
Suze Petiniunas é apaixonada pelo desenvolvimento de pessoas e de organizações. Tem mais de 20 anos de experiência na área de Pessoas. Atuou em empresas como a Amil, Ticket Restaurante, Itaú Unibanco, Telhanorte Tumelero e hoje é diretora de Desenvolvimento Humano e Organizacional da Fator Administração de Recursos. É consultora, coach, mentora e coautora do livro “Mulheres no RH – volume II”. Colunista EA “RH”.
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