Mercados, empresas e culturas exponenciais | Gustavo Fragoso

 

EA – Você é um profissional com carreira exponencial, como nutre sua jornada lifelong learning?
Gustavo Procuro separar minha estrutura de aprendizagem em duas jornadas simultâneas.
No aspecto de gestão, acredito que a melhor maneira de se desenvolver é praticando empatia no dia a dia. Ninguém melhor que as próprias pessoas para ensinar você como se tornar um bom líder.

“Não são cursos ou livros que me tornaram um gestor preparado, foi ouvindo e buscando entender o significado por trás de cada atitude das pessoas.”

No ponto de vista técnico, procuro me manter diariamente atualizado com estudos de mercados que coleto em empresas como Gartner e Forrester. Buscando construir uma visão de futuro para cada indústria. Por fim, acrescento a importância de cursos rápidos como forma de desenvolvimento operacional. São eles que nos ensinam a ter boas entregas práticas no dia a dia.

EA – Aceleração de negócios, logo vem a mente as startups. As empresas analógicas estão interpretando bem essa nova matriz de crescimento?
Gustavo Certamente uma empresa que nasce digital tem mais facilidade de se adequar as necessidades de um consumidor cada vez mais exigente. Eu vejo que as empresas tradicionais estão em busca da reinvenção através de consultorias e especialistas de mercado que possam agregar tal conhecimento a seu modelo de negócio.

“É um trabalho mais árduo e que exige uma ênfase em change management cultural, uma vez que ainda existam lideranças enraizadas em modelos ultrapassados.”

EA – A matriz mais simplificada, quais as condições essenciais pra um negócio exponencial?
Gustavo O primeiro ponto é migrar a operação para um modelo de tomada de decisões descentralizada, onde mais pessoas sejam empoderadas a pensar e agir estrategicamente com apoio da inteligência de dados. Ao mesmo tempo que se empodera as pessoas, é preciso trabalhar o propósito da corporação, para que todos entendam suas responsabilidades, papeis, e, principalmente o objetivo da Companhia. A pergunta é “O que, como grupo, precisamos resolver? Qual o próximo passo?”

EA – Líderes empresariais, empreendedores ou CEOs estão preparados para esse novo cenário virtuoso que une inovação, tecnologia, pessoas e parcerias?
Gustavo Não somente líderes, eu vejo que as pessoas de modo geral ainda possuem muita dificuldade de se adequar ao novo cenário de inovação. Isso porque, apesar de ser uma necessidade estabelecida e todos gostarem de fazer parte de um processo de transformação. O problema que mais encontro está relacionado ao medo e a insegurança individual de cada um.

É comum encontrar pessoas interessadas em fazer transformação, desde que não seja em sua própria atividade/área. A resistência de inovar por medo de ser substituído é, no final do dia, justamente o que faz uma empresa substituir um colaborador.

“Enxergo com ótimos olhos esse processo de amadurecimento das lideranças, a cada dia, as pessoas estão mais motivadas em se reinventar”.

EA – Te convidamos pra falar de Cultura e você trafega em vários ambientes. Todos eles estão com a cultura up to date, Gustavo?
Gustavo Quanto maior a competitividade do mercado, mais atualizado e em busca de inovação está o ambiente. Isso faz com que alguns setores estejam mais a frente no processo de inovação. Uma indústria que não trabalhe com inteligência artificial e robotização, por exemplo, provavelmente estará fora do mercado. Da mesma maneira que o setor financeiro sem automação de processos. De todo modo, vejo isso de maneira ordenada, onde uma indústria inova e aos poucos, as demais copiam.

EA – O mercado corporativo já entendeu que o principal ativo da marca é o colaborador e, que no cenário atual de empregabilidade, ele quer ser nômade, ter mais autonomia?
Gustavo A relação atual entre empresa e colaborador precisa ser baseada em objetivos de negócio e visões de mundo similares. Se você não possui isso, certamente é importante buscar ambientes ou pessoas que estejam conectadas com esse propósito. Mais do que os itens listados acima, vejo as pessoas em busca de saúde mental. Uma maneira de viver em harmonia e equilíbrio entre suas rotinas de trabalho e sua vida pessoal.

“Bem-estar e saúde mental são os pilares de qualquer processo criativo. Uma pessoa estressada não tem a capacidade de inovar, mesmo que seja colocada em programas que estimulem esse processo.”

Ao mesmo tempo, é importante entender que resultado é um pilar importante para que a empresa possa fornecer uma experiência mais adequada para suas equipes.

EA – O que é uma cultura inovadora na sua visão?
Gustavo Em poucas palavras, vejo que cultura inovadora é fazer parte de um ambiente em que todos estejam alinhadas com o mesmo propósito. Onde exista colaboração, confiança e o sentimento em que as decisões serão tomadas pensando no melhor da empresa acima do benefício individual de cada um.

EA – As startups impulsionam mercados com um modelo de negócio colaborativo, ágil e mais testador em soluções. Essa cultura está sendo bem interpretada, praticada ou vivenciada nas empresas players?
Gustavo Acredito que as empresas quebraram as barreiras criadas com um universo das startups e passaram a co-criar soluções, por meio de hubs de inovação e programas de aceleração internos e externos. A reinvenção de negócios estabelecidos pode acontecer pelo desenvolvimento de novas estratégias ou a aquisição de startups que tragam junto consigo a cultura de transformação. Isso tem ocasionado em grandes mudanças em players estabelecidos no mercado, que afeitam todos os níveis de lideranças.

EA – Quando falamos em cultura, sempre focamos médias e grandes empresas. Cultura nas PMEs impulsionariam mais rápido o crescimento delas?
Gustavo Um dos principais pontos que diferencia uma “empresa pequena” para um startup está na cultura por trás do negócio. Quando você tem poucas pessoas para liderar, fica mais fácil de promover uma cultura alinhada com sua visão como fundador.

Por outro lado, é preciso ter muito cuidado para não construir um organograma baseado nas pessoas que você tem hoje em seu time, mas sim um modelo em que cada pessoa precisa exercer o papel necessário para o crescimento do negócio. Promovendo desenvolvimento e criatividade ao mesmo tempo que cada um exerce seu papel.

“PME’s precisam ter pensamento e atitude exponencial, construindo uma estratégia de negócio capaz de escalonar seus resultados de maneira ágil e evolutiva.”

EA – Qual o papel das diretorias de Inovação?
Gustavo Precisam atuar com três bandeiras: a primeira delas é a de aproximar e implantar melhorias incrementais no dia a dia da empresa. Seguido por buscar novas oportunidades de mercado que sejam aderem ao core business, de modo a deixá-la cada vez mais exponencial.

Por fim, o mais importante é promover cultura de inovação, proporcionado ecossistemas criativos, aproximando startups e pessoas de vivências distintas e conhecimentos complementares para divergir e convergir no processo de inovação.

EA – Qual o papel das diretorias do RH na transformação digital do negócio?
Gustavo Penso que a área de people journey em geral é crucial no processo de transformação, pois é o setor responsável por assegurar que todas as pessoas da empresa possuam a cultura e os atributos necessários para formar um ambiente de múltiplas características (cultura, classe social, conhecimento e vivência de vida). A diretoria de RH atua como a auditoria de cultura e propósito, promovendo um ambiente propício para a inovação.

“Essa é uma área tão importante que vemos um grande aumento de novas CEO’s advindas de experiências em diretoria de RH.”

EA – Você se formou em marketing, fundou empresas no segmento e hoje é sócio de uma empresa que nutre reputação de marcas. Qual o papel do marketing hoje?
Gustavo Cada vez mais, os consumidores esperam que as marcas sejam humanizadas, com posicionamento claro e próximas de seus clientes.

“Saindo de um modelo de contratação de garotos propaganda para embaixadores da marca.”

É fácil perceber que a maioria das empresas que mais crescem nos últimos anos possuem uma figura humana forte representando à corporação. Seja o CEO ou grupos de influenciadores que misturam vida pessoal com posicionamento institucional.

EA – Redes sociais, na sua visão, qual o melhor papel delas no fortalecimento de marcas?
Gustavo As redes sociais atuam como validadoras de uma marca, fazendo parte do processo de decisão de compra de todas as pessoas. O número de seguidores, a maneira como a marca se comunica, quem está por trás de tudo e o quanto as pessoas se engajam com ela são determinantes no processo de escolha da empresa como fornecedora.

Para ver o impacto disso, existe algo que acontece todos os dias e que não percebemos. Por maior que seja uma empresa, se você visita suas redes sociais e encontra poucos seguidores e baixo engajamento com seus clientes, você reconsidera comprar o produto.

Isso acontece porque o usuário tem dificuldade de se conectar com uma marca que não possui um posicionamento humanizado, distanciando-se e dando preferência para àqueles que o fazem.

EA – Influencers terão vida longa e tanta autoridade sob oferta de produtos? Pergunta pra futurólogo….
Gustavo Sim, todavia as pessoas vão exigir um pouco mais da verdadeira realidade por trás dos influenciadores, que foge do “mundo perfeito”. Havendo também um filtro maior sobre quem de fato tem poder de influência ou não.

“Estamos vendo cada vez mais influenciadores com vivências de vida e experiências práticas crescendo frente àqueles com conhecimento teórico.”

EA – Autenticidade é um dos valores do futuro do trabalho, mas por que tão poucos no mercado empreendedor, produtor ou corporativo, conseguem ser autênticos?
Gustavo A autenticidade está vinculada a construção de ambientes abertos, onde as pessoas se sintam seguras para expor ideias e dispostas para assumir riscos e responsabilidades. Os ambientes de descontração dentro e fora da organização são locais relevantes para construir esse tipo de conexão humana, que intensifica o poder criativo do dia a dia. É comum ver empresas de tecnologia proporcionando atividades fora da rotina de produtividade do colaborador.

 

Gustavo Fragoso bio foto - Mercados, empresas e culturas exponenciais

Gustavo Fragoso é formado em Marketing, com certificação em Liderança na Inovação (MIT/USA). É especialista em aceleração exponencial de negócios, business hacker Sr. Manager (Globant) e sócio na Winning by Marketing. Foi vice-presidente de Mercado (Atitus Educação), sócio e diretor de Marketing e Inovação (Grupo Studio). Co-fundador da Studi Grow Marketing, professor de pós-graduação em negócios exponenciais (IEBS Business School) e diretor de Tecnologia (Instituto Brasileiro de Franquias).

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