O calabouço do ciborgue | Felipe Gruetzmacher

 

A cena abaixo representa a realidade de muitas pessoas e pode fornecer muitas ideias sobre o presente e o futuro da economia. Dessa vez, o conto sci-fi é mais realístico: narro sobre  distopias já presentes no nosso mundo contemporâneo:

Arnaldo é um colaborador terceirizado de uma poderosa multinacional. Odeia o emprego dele mais do que tudo na vida. Utiliza muito os meios de comunicação digital para realizar entediantes tarefas. Até parece que essas tecnologias são extensões vivas do corpo biológico dele. É quase um ciborgue: uma mescla entre metal, corpo, informações, inteligência natural e artificial. Sua única alegria é a chegada do fim do expediente nas tardes de sexta-feira. Nos finais de semana, pode se distrair um pouco utilizando redes sociais. O problema é que esse uso exagerado diminui o foco, a atenção, ajuda na disseminação de fake news e fomenta a inveja pela vida alheia. É um paradoxo: Arnaldo precisa de um emprego para sustentar seu vício e suas distrações no mundo virtual. Por outro lado, precisa de um pouco de escapismo e fugir da realidade através dos meios virtuais para suportar a chatice do trabalho. Como escapar desse dilema?

Alguns insights:

  • Algumas boas ideias são dadas pelo livro “Teoria das necessidades em Marx” da autora Ágnes Heller. Apesar da fonte consultada ser uma literatura marxista, os desdobramentos e explicações focam no posicionamento neutro, imparcial e objetividade científica.
  • O trabalho é, muitas vezes, encarado como só um meio para ganhar a vida. É um meio e não um fim, um propósito. Como que a economia pode estar submetida às necessidades autenticamente humanas? Afinal, as necessidades de consumo são “impostas” pelo mercado: são necessidades de aspecto quantitativo. A posse tomou o lugar do ser. Qual é o tipo de riqueza que permite o desenvolvimento da personalidade humana, o intelecto humano, as habilidades humanas e acrescenta qualidade de vida? Como conciliar essa riqueza espiritual com a riqueza material? Precisamos conciliar o ter e o desenvolvimento do ser!
  • Eis uma velha questão: ser rico em coisas ou rico em experiências?
  • A sociedade cria instituições que fornecem respostas às necessidades das pessoas. Healtech, startups focadas em saúde, fornecem a cura para as doenças, por exemplo.
  • O foco principal da economia precisa ser a satisfação das necessidades qualitativas e o objetivo secundário precisa ser a produção material (riqueza). Eis alguns exemplos:
  1. O trabalho intelectual que desenvolve a personalidade e possibilita a autorrealização (riqueza imaterial) deve ter predomínio sobre o trabalho repetitivo, estafante e padronizado. Como as HR Tech podem contribuir com isso?
  2. O aumento da produtividade gerado pela automatização garantem que a autorrealização do trabalhador tenha predomínio sobre a riqueza material. Dessa forma, a redução do tempo de trabalho possibilita que o ser humano seja mais livre
  3. Edtechs podem estar alinhadas com HR Techs para facilitar a reciclagem das skills dos colaboradores e times (gestão do talento humano)
  4. O trabalho que pode ser automatizado é repetível e padronizado: é responsável pela geração de riqueza material (tarefas mais brutas). Agora, o trabalho que permite o livre desenvolvimento das habilidades e do talento tem um caráter qualitativo. Um bom exemplo é o uso da imaginação humana na formulação de uma estratégia de negócios
  • O próprio trabalhador poderá ser recolocado em novas funções ou empreendimentos para se desenvolver continuamente, já que a riqueza material está submetida à riqueza imaterial. Algoritmos que combinam talento, demanda e skill podem simplificar esse processo de recolocação
  • O desenvolvimento do indivíduo trabalhador deve ser sinônimo de progresso espiritual e material de todos
  • Logo, o próprio corpo de trabalhadores vai migrar de um sistema econômico cujo único propósito é o lucro para um sistema de necessidades radicalmente diferentes. Pois conciliar as necessidades espirituais e materiais é o último estágio da utopia
  • O livro de Heller fala bastante sobre valor de uso, a função de objeto. O travesseiro, por exemplo, é usado para dormir. Logo, deve ser muito útil contar com um algoritmo que:
  1. Mensura a produtividade e o lucro (riqueza material)
  2. Apresenta indicadores para saber se os produtos gerados pela economia estão agregando qualidade de vida para as pessoas (valor de uso e utilidade)
  3. Gera empregos alinhados com as skills dos trabalhadores (gestão do talento). Assim, esses três itens podem ser correlacionados para identificar se a economia gera bem-estar social, riqueza material e desenvolve o espírito humano simultaneamente
  • A economia que só foca no aumento da riqueza material é um obstáculo para a expansão das ricas possibilidades de desenvolvimento qualitativo humano

O livro “Teoria das necessidades em Marx” da autora Ágnes Heller apresenta bons caminhos para repensar as necessidades humanas, a satisfação delas, o nosso uso das tecnologias e modelos de trabalho. A vida humana é complexa demais e não cabe nas frias métricas e na mensuração da produtividade.

Objeções:

A discussão não se esgota aqui! Talvez, mudar a economia a partir da tecnologia não seja uma boa ideia porque ela está num mercado capitalista que só valoriza o lucro em detrimento da riqueza imaterial. Talvez, com essa estratégia, jamais conseguiremos “fugir” do sistema de necessidades quantitativas! Até parece que se trata de uma contradição… O que fazer então? Como a humanidade pode se tornar senhora do próprio trabalho e do próprio destino?  Mesmo que esse texto apresente erros conceituais, a discussão é extremamente válida! 

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Conto 9: O sonho diabólico. Acesse aqui.

 

felipe Easy Resize.com - O calabouço do ciborgue

Felipe Emilio Gruetzmacher é formado em gestão ambiental, educação ambiental e se especializou em copywriter através de muitos cursos online, muita prática e dedicação. Autor na Comunidade EA é um dos mais lidos na plataforma. Tenta decifrar os enigmas do trabalho humano, até porque essas questões podem mudar os rumos da sociedade humana e acelerar a marcha da história rumo à Utopia.

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