CENA 1. Minhas redações | Ana Maria Bahiana

 

EA – No Brasil, qual foi a sua redação inesquecível?
Ana Maria
Foi, óbvio, a da Rolling Stones, minha primeira redação, onde aprendi tudo que eu poderia ser, uma jornalista. Era uma família. Ezequiel Neves e Luiz Carlos Maciel, que eu achava de ‘senhores’, senhores com trinta e poucos anos… rs. Essa redação é absolutamente inesquecível, nela aprendi a ética, aprendi o contato com o público, o melhor nível profissional. Trago essa redação comigo a vida toda.

EA – A Rolling Stones foi um marco de resistência na ditadura, não?
Ana Maria Exatamente, comecei lá como secretária de redação, e sendo uma redação tão pequena e completamente a margem da política, da direita ou esquerda. Éramos os hippies, éramos a turma do “estamos fora de tudo isso e estamos por dentro de tudo”.

“Além de secretária de redação, eu era a repórter, a arquivista, a pesquisadora, cobria eventos, aprendi a editar, aprendi o processo de impressão. Basicamente aprendi a ser jornalista ali.” 

EA – Como chegou à redação da Rolling Stones?
Ana Maria
Fui procurar trabalho lá porque era fã da revista. Estava no meio do curso de jornalismo na PUC-RJ e meu currículo estava praticamente morto, porque metade dos professores não estavam lá, ou porque estavam presos ou exilados ou desaparecidos. Eu não aprendia nada e estava extremamente frustrada porque não tinha aulas, só invasões pela PM e outros seres nefastos.

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A jornalista no início de carreira e autografando livros, Rio de Janeiro

Então, fui lá com meus recortes, na cara de pau, na Rolling Stones, procurar emprego. Assim aprendi a ser uma jornalista. E sim, nós ficávamos sempre sem saber se seríamos invadidos por forças nefastas ou se a revista sairia das bancas, isso acontecia regularmente, mas sempre tínhamos exemplares escondidos no depósito e a gente distribuía eles para as pessoas, de graça.

EA – Sente falta desse jornalismo ativista e poético?
Ana Maria Sinto e não sinto falta. A falta que faz é sobre aspectos práticos, eu gostaria muito de depois do Covid, de estar em uma verdadeira redação, onde o processo, tudo seria muito mais rápido. A vida da pessoa que trabalha fora do seu país de origem é sempre meio solitária, então me adaptei rapidamente a ser eu mesma a minha redação.

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foto bio - CENA 1. Minhas redações

Ana Maria Bahiana é jornalista e escritora brasileira. Profissional 50+, completou 72 anos de idade com 50 de carreira, sendo 34 deles, como correspondente internacional em Los Angeles, meca do cinema hollywoodiano e mundial. Ana trabalhou nos principais jornais brasileiros e na TV foi correspondente internacional na Rede Globo, no Telecine e na Globosat. Colabora com a edição digital da revista Exame, assina uma coluna mensal no blog da Companhia das Letras e trabalha na pesquisa e roteiro do documentário LA+Rio, que será dirigido por Pedro Kos.

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