Autenticidade em nosso tempo | Daniel de Barros

 

EA – Da sala de consulta para as redes sociais. É fenômeno do nosso tempo, profissionais midiáticos?
Daniel Eu vinha falando publicamente antes do fenômeno das redes sociais – comecei com um blog na plataforma da USP, passei para o Portal do Estadão e do lá para TV e Rádio, bem antes de ter meu primeiro perfil no Instagram. A minha atuação sempre foi com divulgação de ciência, então as redes sociais vieram somar, não são a motivação inicial.

EA – Ser autêntico, tem escola de etiqueta pra isso?
Daniel Se não tem, deveria. Para mim, a única forma de fazer é com verdade e com vontade. Ou você tem muita vontade de se comunicar, e o faz de forma verdadeira, transparente, ou das duas uma: ou o público percebe e não te dá credibilidade ou você mesmo não segue em frente, porque dá trabalho.

EA – Aliás, o que é ser uma pessoa autêntica?
Daniel É saber quem você é, ter ciência dos seus valores e buscar tomar suas decisões de acordo com eles – do que gosta, no que acredita, o que é importante pra si.

EA – Esse jeito de postar nas redes, a vida como ela é, isso expressa autenticidade?
Daniel No meu caso, sim. Se a pessoa fizer isso para dar um falso ar de autenticidade, não sei se cola.

EA – Vale a pena se expressar de forma autêntica para um recrutador?
Daniel Ser autêntico não é o mesmo que ser super sincero, então sim. Você deve dizer no que acredita, o que espera do trabalho, etc. Mas não precisa dizer se ainda faz xixi na cama.

EA – Empresas tendem a sufocar a autenticidade das pessoas?
Daniel Em parte, sim. As empresas não lidam muito bem com mudanças de protocolo – chegar, sorrir, trabalhar, sair.

EA – Vivemos hoje em dois mundos, o real e o virtual?
Daniel Essa divisão em dois mundos é coisa de adulto já indo para maturidade. Os jovens entendem que existe apenas um mundo, que às vezes é na escola, às vezes na praia, em casa, no Instagram, no Tik Tok… é tudo uma coisa só. E todos temos facetas diferentes que apresentamos em lugares diferentes.

“O mais representativo em pessoa autêntica? Talvez, seja a credibilidade. Ela passa a sensação de que está dizendo e fazendo o que realmente acredita.”

EA – Autenticidade remete de forma simplista a ser “o diferente” em um ambiente qualquer. O bullying, por exemplo, entra nesse contexto?
Daniel Autenticidade nem sempre é diferente. O problema é que eventualmente acontece de o seu contexto pedir comportamentos que não batam com seus valores. Nesse caso, ser autêntico te torna diferente, por não se alinhar com o que se espera naquele contexto. A saída é mudar de lugar, mudar de atitude ou encarar a aversão. O bullying pode até ter isso como gatilho, mas é um fenômeno muito mais complexo.

barros - Autenticidade em nosso tempo

Daniel Martins de Barros é psiquiatra, professor colaborador do Depto. de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP. Doutor em Ciências e bacharel em Filosofia pela USP. Colunista do jornal O Estado de S. Paulo e da Rádio Band News FM. Seu canal YouTube fala sobre cérebro e comportamentos em geral, temas que também aborda como palestrante. É autor de inúmeras obras, entre elas, “Viagem por dentro do cérebro”, indicado ao prêmio Jabuti de 2014, “O caso da menina sonhadora” (Panda Books), “Machado de Assis: a loucura e as leis” (Brasiliense), “Além do consultório” (Artmed), “Exercícios de Argumentação, Percepção x Realidade” (Matrix), “O Lado Bom do Lado Ruim” (Sextante).

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