ED#2 Sociedade digital | Cezar Taurion
“A rápida evolução da IA traz impactos tão significativos que ainda não percebemos sua amplitude. Não temos ideia de como será o mundo e o mercado de trabalho em 2050, mas sabemos que a IA e a robótica vão mudar a sociedade (como a energia elétrica mudou a nossa sociedade no início do século 20) e quase todas as modalidades de trabalho atuais, transformando as carreiras e profissões como as conhecemos hoje. Dado a forma como os modelos de trabalho tradicionais, definições de carreira e o setor RH estão arraigados, a reengenharia do trabalho em torno da IA será um grande desafio. Vai demandar novas formas de pensar sobre empregos, cultura empresarial, tecnologia e, mais importante, pessoas.”
EA – Qual a próxima revolução?
Cezar Existe a corrente otimista que acredita que, como a sociedade humana já passou por revoluções antes, como a industrial, e no longo prazo gerou-se mais trabalho que antes, o fenômeno se repetirá naturalmente. Na revolução industrial, empregos foram destruídos no curto prazo, mas no tempo, outros em maior número surgiram. Os cocheiros perderam seus empregos, mas hoje existem milhões de motoristas. Existe uma corrente mais pessimista, que aponta que já existe evidência de uma crise social, que será inevitável, a menos que a sociedade atue com seriedade e urgência para mitigar seus efeitos. E eis a pandemia do Coronavirus a flagelar nossos dias!
EA – Robôs substituirão pessoas no trabalho?
Cezar As pessoas que executam tarefas repetitivas verão estas tarefas serem substituídas por robôs. Mas, o mais provável é que a IA venha a aumentar o desempenho humano, automatizando certas partes de uma tarefa, permitindo que os indivíduos se concentrem em aspectos mais “humanos” que exigem habilidades empáticas, sociais e inteligência emocional. No futuro próximo, trabalhadores e máquinas trabalharão em conjunto, cada um complementando os esforços do outro.
“Está claro que uma nova sociedade mundial está se delineando, fortemente baseada na tecnologia digital e na IA e, neste contexto, no trabalho, as áreas de RH precisam evoluir muito em processos e práticas ainda baseados nos princípios das empresas da sociedade industrial”.
EA – Como será o novo RH nas empresas?
Cezar As organizações de RH terão que desenvolver estratégias e ferramentas para recrutar, gerenciar e formar uma força de trabalho híbrida humano-máquina. É uma mudança significativa nas formas de como RH seleciona, contrata e avalia profissionais. Demanda uma redefinição das funções atuais e a acomodação de novas funções, que nem existem hoje no vocabulário de RH. No contexto geral, embora no curto prazo, tenhamos algumas dificuldades, a médio e longo prazo os resultados serão positivos. Acredito que a revolução da tecnologia não é destino, mas um meio para chegarmos a um novo modelo social e econômico. Se será positivo ou negativo, vai depender de nós. Mas, indiscutivelmente, que a inação não é a melhor alternativa.
EA – A amplitude e velocidade dessas mudanças são únicas na história humana.
Cezar Sim. E seus impactos sociais e econômicos, serão duramente sentidos pela obsolescência rápida de muitas profissões. A evolução exponencial da tecnologia vai substituir diversas tarefas humanas. Tudo o que puder ser automatizado, o será. O desafio é que esta mudança, por ser rápida e profunda, tem muitas chances de destruir empregos mais rapidamente que criar outros. Nas revoluções anteriores, funções que se tornaram obsoletas foram substituídas por outras, também executadas por pessoas, como a substituição de cocheiros por motoristas.
A velocidade da revolução que se avizinha vai pegar outra camada da sociedade, até então imune à automação, como os “white collars”, como advogados, contadores, auditores ou médicos, e, o que é mais preocupante, o sistema educacional não está preparado para capacitar as pessoas para as novas funções que substituirão as que desaparecerem ou se transformarem.
EA – A automação mudará o modelo do trabalho?
Cezar As relações entre empresas e empregados continuará como hoje? A carga horária será ainda de 40 horas em turnos fixos, como definido, por necessidade, na sociedade industrial? Perguntas que não tem respostas definitivas! Mas, em fábricas automatizadas um robô pode trabalhar 24×7. E quando o trabalho é cada vez mais baseado em conhecimento e criatividade? Esta não tem hora para chegar. Um insight pode acontecer a qualquer momento e não apenas das 9h às 17h.
Com a automação, a necessidade de pessoas trabalhando em tempo integral para atender as demandas da sociedade diminuem substancialmente. Isso implica em novas normas e práticas trabalhistas, e novas relações entre empresa e pessoas, afetando significativamente questões delicadas como aposentadorias e férias. Vamos caminhar na redefinição do atual conceito de trabalho e emprego.
EA – O RH, hoje o epicentro de transformação na empresa, está em que radar?
Cezar Peguei algumas destas provocações e conversei com amigos, executivos de RH de algumas empresas de grande porte. Questionei se as empresas e as áreas de RH estão realmente preparadas para enfrentar essas ameaças disruptivas. Como e onde buscar e reter talentos para ajudar a empresa no processo de transformação digital e mudanças nos cenários de negócios que pululam por toda a parte? Na verdade, o próprio RH irá se transformar. As tarefas rotineiras serão substituídas por algoritmos, como em outros setores, e apenas poucos especialistas farão parte do time de RH de uma empresa. A própria sigla RH vai se transformar em Robôs e Humanos.
EA – Ruptura dos modelos organizacionais.
Cezar Sim. Diante deste cenário transformador, para questionar como será o novo RH, precisamos antes questionar como as empresas se adaptarão para sobreviver em um mundo novo e desconhecido? O atual modelo organizacional, hierárquico, não mais atende à demanda de velocidade e transformações quase que cotidianas que o novo cenário exige. Teremos um novo modelo organizacional, novas relações entre empresas e pessoas, e naturalmente, um novo RH. Veremos muito provavelmente robôs e humanos em sinergia.
EA – Empresas precisarão de líderes no futuro?
Cezar Sim, precisaremos de líderes que entendam o mundo digital e compreendam o papel e importância da IA e robótica nas nossas vidas. Mas como criar e formar estes líderes? A resposta a este desafio tem que vir da educação. É absolutamente imperioso que os trabalhadores sejam preparados para esta nova era digital, onde máquinas e humanos trabalharão em conjunto. O nosso nível educacional precisa urgentemente ser melhorado, condição essencial para que uma economia seja produtiva e se insira de forma adequada na revolução da IA e robótica.
Cezar Taurion é palestrante, autor, professor em escolas de negócio, executivo em empresas players, influencer e empreendedor digital. É VP de Inovação da Cia. Técnica Consulting, partner e head of Digital Transformation da Kick Corporate Ventures e presidente do i2a2 (Instituto de Inteligência Artificial Aplicada). Foi sócio-fundador e CEO da Litteris Consulting, consultoria em Data Science. Profissional de TI desde fins da década de 70 com passagens por empresas players, como a IBM, onde foi diretor de Novas Tecnologias Aplicadas e Chief Evangelist Brasil. São seus campos de pesquisa permanente, inteligência artificial, software livre, grid computing, software embarcado, cloud computing, big data e smart cities.
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