A minha Los Angeles | Ana Maria Bahiana
Entrevista feita pela publisher da EA Magazine, Stefarss Stefanelli, transcrita dos áudios de Ana Maria Bahiana, jornalista, escritora e correspondente em Los Angeles, onde vive a 35 anos. Aqui, a narrativa percorre sua prestigiada carreira de mais de 50 anos dedicados ao jornalismo cultural, entre redações brasileiras e internacionais. Originalmente publicada na revista EA Magazine, ED#7. Acesse edição completa.
EA – Ana, o jornalismo cultural define a sua carreira?
Ana Maria Sim, jornalismo cultural define eu diria mais que a minha carreira, define a minha vida. Eu tenho muita curiosidade sobre outras áreas, procuro me manter atualizada, pesquiso muito, tenho muito interesse por ecologia, sobre a questão do equilíbrio mundial, esportes, saúde, ciência, mas tudo isso entra como elementos, que de certa forma, estão sempre ligados à cultura.
EA – Você começou a trabalhar com qual idade? Tinha um ideal jornalístico ali, não?
Ana Maria Comecei a escrever antes do tempo que eu sabia escrever. Pedia a meu pai pra ligar o gravador e eu fazia relatórios, escrevia histórias na minha cabeça e gravava tudo. Procurei ler e escrever o mais rápido possível. E fiz isso com a maior facilidade. Em meu primeiro trabalho profissional, tinha 21 anos e imaginei que seria o começo de uma jornada que não sabia onde iria dar, mas em muito pouco tempo vi que era o que eu sabia fazer, o que gostava de fazer e o que queria fazer.
EA – Quantos anos de Estados Unidos? E de profissão?
Ana Maria Eu mesma me assustei quando vi esses números, 50 anos de profissão, eu não havia me tocado que a viagem havia sido tão longa até agora. Nos Estados Unidos, estou aqui desde junho de 1987, já se passaram 35 anos!
“O Brasil tá aqui na minha casa, tá nos meus amigos, na comida que eu faço, na música que eu ouço.”
A jornalista na lida da notícia, Los Angeles
EA – Quais os aspectos mais belos desta sua Los Angeles?
Ana Maria Los Angeles é uma coisa muito complicada que adoro. Eu brigo com ela todo o tempo. Chamo Los Angeles de “minha monstra linda”. Porque ela é uma monstra e ela é linda, de uma maneira muito especial. É uma beleza da natureza. É uma cidade que está incrustada na natureza, o que me lembra sempre o Rio de Janeiro, há muitos elementos parecidos com o Rio, onde você esbarra na natureza e vice-versa.
Mas em Los Angeles, vai ainda além, porque você está vivendo dentro da natureza. A não ser que esteja no centro ou nos bairros circulando o centro, no mundo do asfalto, dos prédios. Você dirige cerca de cinco quarteirões, pois aqui é a terra dos carros, e já está em meio a uma realidade bela e natural, com seus bichos e seus pássaros. Posso pegar a free way e, coisa de 10 minutos, estar absolutamente perdida no oeste selvagem.
A segunda coisa que acho linda em Los Angeles, é o fato de ela ser as “Nações Unidas”. Se você pensa num país, em um idioma, aqui moram pessoas desta cultura. Na minha rua, que é sem saída, tenho aqui, chutando, pessoas da Ásia, da África, Índia, Turquia, China, Itália, Europa, de vários países árabes. Eles estão todos aqui na minha rua, e nós somos todos de Los Angeles.
A terceira coisa linda de Los Angeles, é que é uma cidade que não tem estátuas de políticos nem de generais, só tem estátuas de pessoas criativas. Pessoas das artes, da cultura, da música, da literatura, do cinema, essas são as pessoas nas estátuas e nos murais veneradas por essa cidade. É uma cidade criativa por natureza, ecoa o fato de ter uma população de todas as partes do mundo.
“Não é uma cidade para ser entendida imediatamente, ela é quase impossível de ser entendida, por isso chamo ela de monstra. Mas depois de você entender o que ela é, Los Angeles se torna uma grande amiga.”
EA – Por que você se foi e não mais voltou a morar no Brasil?
Ana Maria Voltei ao Brasil várias vezes, e por períodos bastante longos, por trabalho ou por questões de família. Ironia é que eu tinha planejado em 2020 e o Covid chegou primeiro, e pronto, acabou-se meu plano de fazer essa viagem. O Brasil tá aqui comigo porque Los Angeles é uma cidade que é o mundo. Então, qualquer pessoa que traz seu país pra cá, pra essa monstra aqui, o seu país fica morando aqui também.
CENA 1: Minhas redações. Continue lendo!
Acesse EA Magazine, edição completa #7
Ana Maria Bahiana é jornalista e escritora brasileira. Profissional 50+, completou 72 anos de idade com 50 de carreira, sendo 34 deles, como correspondente internacional em Los Angeles, meca do cinema hollywoodiano e mundial. Ana trabalhou nos principais jornais brasileiros e na TV foi correspondente internacional na Rede Globo, no Telecine e na Globosat. Colabora com a edição digital da revista Exame, assina uma coluna mensal no blog da Companhia das Letras e trabalha na pesquisa e roteiro do documentário LA+Rio, que será dirigido por Pedro Kos.
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