Por Sonia Crisóstomo
Li recentemente uma frase de Luis Gallardo, autor de Happytalism, que me fez pensar profundamente sobre o papel da liderança nas organizações:
“People don’t quit companies, people quit managers.”
Essa afirmação, embora pareça simples, carrega uma verdade cada vez mais evidente: a principal razão pela qual as pessoas deixam seus empregos não é a empresa em si, mas a forma como são lideradas.
Em gerações passadas, liderar era quase sinônimo de dar ordens e garantir que fossem cumpridas. O líder era o “chefe”, e a sua autoridade vinha do cargo. Hoje, essa lógica ruiu. Liderar não é apenas dominar tecnicamente a sua área, mas conhecer a si mesmo, gerir as próprias emoções, criar empatia com a equipa e cultivar um ambiente saudável, mesmo quando o restante da empresa ainda não acompanha essa mentalidade.
Dados que confirmam essa mudança
Eles mostram o quanto o comportamento do gestor é determinante para o bem-estar — e a permanência — dos colaboradores.
Gallup (2024): cerca de 70% da variação no engajamento de uma equipa é explicada pela qualidade da liderança direta. O gestor é, portanto, o principal fator que determina o quanto uma pessoa se sente envolvida, motivada e produtiva.
LinkedIn (2024): quase 70% dos profissionais afirmam que deixariam o emprego por causa de um mau gestor, mesmo quando gostam da empresa.
Businessolver – State of Workplace Empathy (2025): empresas que carecem de empatia perdem até 180 milhões de dólares por ano em rotatividade e baixa produtividade. Colaboradores em ambientes pouco empáticos têm 1,5 vezes mais probabilidade de pedir demissão.
Ernst & Young (2023): 86% dos colaboradores acreditam que a empatia melhora o moral da equipa e 87% consideram-na essencial para um ambiente inclusivo.
Esses dados deixam claro: liderança e empatia não são temas “soft” — são temas estratégicos.
O que mudou nas novas gerações
As novas gerações de profissionais – especialmente Millennials e Gen Z — buscam propósito, autonomia, bem-estar emocional e equilíbrio. Elas não querem apenas um salário: querem um sentido para acordar todos os dias e contribuir.
Lideranças autoritárias, centradas no medo ou no controle, já não funcionam.
O novo líder precisa ser:
- Autêntico e emocionalmente inteligente
- Inspirador e agregador
- Capaz de ouvir antes de ágil
- E acima de tudo, humano
Não se trata de paternalismo, mas de humanidade consciente. A liderança moderna é aquela que sabe equilibrar resultados com relações, métricas com emoções, performance com propósito.
Liderança positiva: quando a ciência da felicidade entra em cena
A Psicologia Positiva
Ela foi fundada por Martin Seligman, mostra que o florescimento humano depende de cinco dimensões – modelo PERMA:
P Emoções positivas
E Engajamento
R Relações positivas
M Significado
A Realizações
Um líder que promove essas dimensões em sua equipe não apenas reduz a rotatividade, como aumenta a criatividade, o comprometimento e o bem-estar coletivo. Pesquisas recentes publicadas no Journal of Positive Psychology e em estudos da Harvard Business Review apontam que líderes empáticos e emocionalmente conscientes geram equipas até 3 vezes mais inovadoras e resilientes.
Quando as pessoas se sentem ouvidas, seguras e reconhecidas, o cérebro entra em estado de abertura e aprendizagem — um terreno fértil para a inovação.
O impacto direto da liderança no bem-estar
Um estudo da Universidade de Lisboa (2024) sobre Bem-estar e Liderança Consciente, reforça que a percepção de apoio emocional do líder é o principal preditor do bem-estar subjetivo dos colaboradores em Portugal.
Em outras palavras: quanto mais humana é a liderança, mais feliz e produtiva é a equipe.
Na prática, isso significa que a forma como o líder dá feedback, reconhece o esforço, gere conflitos e comunica objetivos tem impacto direto na saúde emocional da equipe.
Há um ponto que a psicologia positiva que reforço: o bem-estar é contagioso. Um líder que cultiva felicidade, equilíbrio e propósito irradia esses estados emocionais e influencia positivamente o clima organizacional.
Seis ações que líderes podem colocar em prática já
- Conversas reais e regulares: substitua o “check-in de tarefas” por conversas de desenvolvimento, escuta e propósito.
- Aprendizagem contínua: invista em formação de liderança empática e gestão emocional – o autoconhecimento é o novo superpoder.
- Promova segurança psicológica: permita que a equipa erre, inove e aprenda sem medo de punições.
- Reconheça genuinamente: pratique feedback positivo frequente; o reconhecimento é combustível de motivação.
- Dê autonomia com suporte: liberdade sem abandono — orientação com confiança.
- Meça o bem-estar: inclua métricas de empatia, propósito e satisfação nas avaliações de desempenho.
Liderar é fazer florescer
Se antes liderar era controlar, hoje liderar é cuidar para que cada talento floresça. É compreender que produtividade nasce de propósito, e que a felicidade é um indicador de performance. Quando dizemos que “as pessoas não largam empresas, largam gestores”, estamos a falar de relações humanas, de emoções não geridas, de líderes que ainda não aprenderam a olhar para o outro com empatia e presença.
Empresas que compreenderem isso cedo terão vantagem competitiva, porque terão algo que não se compra: equipes felizes, comprometidas e resilientes.
As empresas do futuro serão aquelas que entendem que felicidade, liderança e resultados estão no mesmo lugar. Ser líder, hoje, é ser jardineiro de pessoas — alguém que cria o solo fértil onde o talento cresce, floresce e escolhe ficar.

Sonia Crisóstomo é casada, mãe de duas filhas, empreendedora e escritora. Formada e pós-graduada em Ciências da Computação, MBA em Executive Marketing. Fundadora da empresa PONTE360. Mais de 30 anos em empresas de Telecomunicações e de Tecnologia da Informação. Formada em Psicologia Positiva, Inteligência Emocional, Programação Neurolinguística, Hipnoterapeuta com especialização em Hipnose Clínica. Diplomata Civil Humanitária, G100 Global Advisor Council Member, Embaixadora Master do Clube Mulheres de Negócios de Portugal e Membro do Conselho Administrativo do Instituto Raiz Nova. Colunista da Revista Mulher Africana. Prêmio Gênios da Atualidade de 2023 na categoria Escritora do Ano em Portugal. Grand´Ambassadeur da Divine Académie des Arts Lettres et Culture da França. É Colunista EA “Felicidade”.
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