Por João Casarri
Recentemente li uma reportagem cujo título “O futuro do trabalho tem cabelos brancos (e isso é uma boa notícia)” me chamou muito a atenção. No fundo isso quer dizer que muito mais do que as empresas estarem “se abrindo” para os profissionais 50+, a volta desses profissionais ao mercado está se tornando imperativo, até por uma falta de profissionais jovens qualificados em determinadas áreas.
Por conta disso, algumas empresas já optaram por colocar fim no etarismo, que é a discriminação por conta da idade. E como diz no título da reportagem, “isso é uma boa notícia”.
O censo de 2022, mostra uma retração da ordem de 50% na taxa de crescimento populacional brasileira nos últimos 10 anos, o que significa que em breve, irão faltar “jovens” para as empresas contratarem. Uma outra pesquisa, desta vez da PNAD, realizada em 2021, aponta que no Brasil, 56,1% da população tem mais de 30 anos. Projeções anteriores às pesquisas davam conta de que o Brasil teria até 2040, 57% da sua força de trabalho, acima dos 45 anos. Essas novas pesquisas mostram que a transformação foi acelerada.
Também é sabido que no final dos anos 90 do século passado, a média da expectativa do brasileiro era de 69,7 anos, e hoje esse número saltou para 77 anos. Portanto, se estamos vivendo mais, seguramente precisamos nos manter ativos por mais tempo.
Mercado 50+
Segundo Morris Litvak, CEO e fundador da Maturi, empresa brasileira focada em recolocação e desenvolvimento profissional dos 50+, a ideia de uma pessoa de cabelos brancos “parada no tempo” não condiz com a realidade. “O etarismo é embasado em um estereótipo de realidade que não é mais a nossa. Em 30 anos, a sociedade brasileira mudou muito, mas a cultura ainda valoriza os jovens”.
Dentro das empresas, o etarismo ainda é algo muito presente, pois existem mais programas que forçam a aposentadoria compulsória quando um profissional chega aos 50 anos, do que programas que incentivam a volta deles para o mercado de trabalho.
Em parceria com a EY a Maturi desenvolveu uma pesquisa que revela que 80% das empresas brasileiras não têm políticas especificas e intencionais de combate à discriminação etária em seus processos seletivos. Seres humanos não possuem data de validade, e não entender isso, faz com que o mercado desperdice talentos que podem aumentar a produtividade do time, segundo a fala de Martin Henkel, fundador da SeniorLab.
É preciso que as empresas façam uma reflexão profunda sobre como as tendências e transformações no mundo profissional podem ser influenciadas pela experiência e sabedoria daqueles que já acumularam anos de trabalho e vivência.
Mix geracional
À medida que a população envelhece, mais pessoas com carreiras longevas e uma rica bagagem de experiências profissionais participarão do mercado de trabalho. Isso traz uma valorização crescente da sabedoria e do conhecimento que vêm com a idade. Empregadores, ainda que timidamente, já estão percebendo que trabalhadores mais velhos podem contribuir com insights valiosos, resolução de problemas baseada em experiência e uma visão mais ampla e equilibrada das situações.
Por outro lado, a geração mais jovem, também timidamente, está percebendo o valor de ter mentores e guias que passaram por diversos cenários profissionais, e a busca por orientação não está restrita apenas aos líderes mais jovens, mas também àqueles que desejam aprender com a trajetória de sucesso (e até mesmo com os erros) dos profissionais mais velhos.
É notável o esforço dos profissionais mais experientes em se adaptarem às novas tecnologias e tendências digitais. A capacidade que demonstram em aprender e incorporar ferramentas digitais mostra que a idade não é uma barreira para a aquisição de novas habilidades, e isso contribui para uma equipe de trabalho diversificada em termos de faixa etária.
A ideia de aposentadoria também está evoluindo. Se antes era vista como dificuldade, hoje ela se apresenta como oportunidade. Muitos profissionais mais velhos optam por iniciar seus próprios negócios ou projetos após décadas de trabalho em tempo integral nas empresas, e esse conhecimento, rede de contatos e estabilidade financeira, os tornam candidatos ideais para empreendimentos bem-sucedidos.
É preciso aumentar a conscientização sobre a discriminação etária no local de trabalho. A inclusão de profissionais mais velhos contribui para um ambiente mais diversificado e igualitário, permitindo que suas vozes sejam ouvidas e reconhecidas. E a diversidade geracional, além de promover uma maior colaboração entre diferentes faixas etárias, também traz uma maior riqueza de perspectivas. Os mais jovens contribuem com inovação e conhecimento de tecnologias emergentes, enquanto os mais velhos fornecem discernimento histórico e insights que ajudam a tomar decisões baseadas em mais informações.
Profissionais 50+ são valorizados por sua capacidade de manter a estabilidade e a consistência em momentos de mudanças rápidas. Essa forma de abordagem equilibrada ajuda a mitigar riscos e manter o foco em metas de longo prazo.
A experiência, a sabedoria e a contribuição dos profissionais mais velhos serão essenciais para moldar um cenário profissional em constante evolução, e a diversidade de idades no local de trabalho é uma força que agrega valor, promove a aprendizagem mútua e enriquece a tomada de decisões.
Por isso eu acredito fortemente que, sim, o futuro do trabalho tem cabelos brancos, assim como os meus!
João Casarri Neto é economista, consultor de RH/TI, analista comportamental DISC, coach, mentor, treinador de líderes, e Practitioner PNL. Autor do livro “Os 5 Princípios da Resiliência”, é também criador do programa “Sou Líder, e Agora?” para ajudar líderes em início de carreira. É Embaixador de Inovação e Tecnologia da Associação Brasileira dos Profissionais de RH (HUBRH+ABPRH). Colunista EA “Geração 50+”.
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