Por João Casarri Neto

 

O etarismo, ou ageísmo, é uma forma de discriminação baseada na idade que afeta especialmente pessoas com 50 anos ou mais, em diversos contextos sociais e profissionais. Apesar de ser uma realidade velada em muitas organizações, seu impacto é profundo, pois afeta diretamente a autoestima, limita oportunidades e retira da sociedade um dos seus recursos mais valiosos — a experiência.

Em tempos de longevidade ativa, com expectativa de vida crescente e mudanças na relação com o trabalho, combater o etarismo deixou de ser uma questão apenas de justiça social e tornou-se um imperativo estratégico e humano.

O que é etarismo e por que é tão prejudicial?

O etarismo é qualquer tipo de preconceito, estereótipo ou atitude discriminatória baseada na idade de uma pessoa. Pode se manifestar de forma explícita — como negar oportunidades de emprego ou promoção a alguém mais velho — ou sutil, como piadas recorrentes sobre idade, exclusão de treinamentos, ou suposições de que pessoas mais velhas são “resistentes a mudanças” ou “pouco tecnológicas”.

Essa forma de discriminação limita o acesso a direitos, reduz o potencial de contribuição de milhares de profissionais experientes e agrava desigualdades no mercado de trabalho. Além disso, o etarismo não afeta apenas os mais velhos: na verdade é uma armadilha que, se não combatida, acabará atingindo também os mais jovens — afinal, todos, inevitavelmente, envelhecerão.

Práticas para combater o etarismo nas empresas e na sociedade

  1. Sensibilização e educação corporativa

A base de toda transformação começa pela educação. As empresas precisam realizar treinamentos frequentes sobre diversidade etária, com a real intenção de promover a consciência de que não é a idade que define a competência. Ações como palestras, rodas de conversa e campanhas internas ajudam a desconstruir estereótipos e promover colaboração entre gerações.

  1. Promoção da diversidade etária em recrutamento e seleção

Departamentos de Recursos Humanos devem rever seus processos seletivos para garantir que não haja viés etário, consciente ou inconsciente. Isso inclui a revisão de anúncios de vagas, que muitas vezes incluem termos como “jovem dinâmico” ou “perfil júnior”, excluindo indiretamente profissionais mais velhos. O foco deve ser em competências, não em faixa etária.

  1. Políticas de inclusão e permanência

Criar programas de retenção e valorização dos profissionais 50+ é fundamental. Os programas devem incluir planos de carreira personalizados, mentorias reversas (em que os mais velhos possam aprender com os mais jovens), treinamentos continuados e incentivos para que os colaboradores seniores se mantenham atualizados e integrados à cultura organizacional.

  1. Estímulo à convivência intergeracional

Ambientes diversos favorecem a inovação, ninguém duvida disso. Quando se promove projetos que envolvam diferentes gerações trabalhando juntas, cria-se uma cultura de colaboração e respeito mútuo. A convivência intergeracional quebra mitos e estimula a troca de saberes, competências e repertórios.

  1. Combate à linguagem discriminatória

São pequenas atitudes cotidianas que reforçam ou combatem preconceitos. É necessário eliminar expressões pejorativas associadas à idade e substituir o humor discriminatório por uma comunicação respeitosa e inclusiva.

  1. Valorizar a experiência

A maturidade traz consigo uma bagagem única: visão estratégica, capacidade de lidar com adversidades, empatia e responsabilidade. Dessa forma, empresas que valorizam esse capital humano colhem os frutos de um ambiente mais equilibrado, resiliente e eficiente.

Como os jovens podem (e devem) se preparar hoje para não sofrer etarismo no futuro?

Combater o etarismo também é um movimento de autorresponsabilidade e visão de longo prazo. Jovens profissionais precisam compreender que a longevidade ativa os afetará diretamente. Por isso, algumas atitudes, hoje, podem garantir mais respeito e oportunidades amanhã:

  1. Cultivar uma mentalidade de aprendizagem contínua

A atualização constante é um antídoto contra o preconceito. Quando se mantém conectado com novas tecnologias, metodologias e competências comportamentais, o profissional reduz as chances de ser visto como “ultrapassado” no futuro.

  1. Construir redes de relacionamento diversas

Relacionamentos profissionais intergeracionais ajudam a manter uma visão amplificada sobre o mundo do trabalho e fortalecem laços que são fundamentais ao longo da vida. Quanto mais plural e diversa for a rede de contatos, maior a resiliência diante de mudanças.

  1. Desenvolver uma identidade profissional sólida

Construir uma marca pessoal, com valores claros, competências reconhecidas e propósito bem definido, ajuda o você a ser lembrado por aquilo que entrega — e não apenas por sua idade.

  1. Desconstruir o preconceito desde já

É notório que muitos jovens reproduzem o etarismo sem perceber, tratando colegas mais velhos com desdém ou desprezando sua visão. Reconhecer o valor da experiência de um profissional sênior, contribui para um ambiente mais saudável e prepara o terreno para seu próprio envelhecimento com dignidade.

O papel das empresas e autoridades públicas no combate ao etarismo

Empresas e governos têm papel essencial na construção de uma sociedade mais justa. Algumas medidas importantes incluem:

  1. Políticas públicas de valorização dos profissionais maduros

Políticas governamentais podem criar incentivos fiscais para empresas que promovem a inclusão de trabalhadores com mais de 50 anos, além de fomentar programas de capacitação técnica e digital voltados a esse público.

  1. Legislação antietarismo e fiscalização ativa

Assim como existem leis contra racismo, sexismo e outras formas de discriminação, o etarismo precisa ser combatido com rigor. Leis específicas que proíbam a exclusão por idade em processos seletivos, promoções e demissões são um passo fundamental.

  1. Criação de selos de diversidade etária

Assim como já existem selos de diversidade de gênero e racial, é possível criar selos que reconheçam empresas que adotam práticas inclusivas para diferentes faixas etárias. Isso incentiva a competitividade ética e fortalece a imagem institucional.

  1. Apoio à requalificação profissional

Governo e empresas devem oferecer cursos e trilhas de requalificação contínua, para que profissionais seniores se adaptem às transformações do mercado e permaneçam produtivos e realizados por mais tempo.

E para finalizar: um compromisso com o futuro de todos

Combater o etarismo é investir em uma cultura mais humana, inclusiva e sustentável. Reconhecer o valor da longevidade e da experiência é mais do que um gesto de justiça — é uma forma de garantir a continuidade da inovação, da produtividade e da diversidade. O envelhecimento populacional é uma realidade que já está transformando o mundo do trabalho. A pergunta que devemos nos fazer não é “como evitar os mais velhos?”, mas sim “como aproveitar ao máximo o que cada idade pode oferecer?”

Hoje, quem luta contra o etarismo está construindo um futuro mais digno — para os outros e para si mesmo.

 

joao casarri neto 150x150 1 - Combate ao etarismo: Práticas, conscientização e preparação para um futuro mais justo e inclusivo

João Casarri Neto é economista, consultor de RH/TI, analista comportamental DISC, coach, mentor, treinador de líderes, e Practitioner PNL. Autor do livro “Os 5 Princípios da Resiliência”, é também criador do programa “Sou Líder, e Agora?” para ajudar líderes em início de carreira. É Embaixador de Inovação e Tecnologia da Associação Brasileira dos Profissionais de RH (HUBRH+ABPRH). Colunista EA “Geração 50+”.

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