Por João Casarri

 

Esta semana em conversa com o diretor de uma empresa que tem 63 anos, que está empregado, porém está buscando um reposicionamento na carreira, ouvi dele a seguinte frase: “não estou preparado para viver com os R$ 6.000,00 do INSS.” Interessante esse posicionamento, pois 6k, não é nem de longe a realidade da grande maioria dos brasileiros, principalmente os aposentados da iniciativa privada. 

Isto posto, vamos pensar o seguinte: se eu sou um profissional 50/60+ e ainda sinto que tenho “muita lenha pra queimar”, como é o caso dessa pessoa que citei no início do texto, como devo me preparar para essa continuidade?

Sim, devo estar devidamente preparado para continuar, pois o que me trouxe até aqui não é o que vai me levar para um próximo nível. E com esse tipo de pensamento povoando minha mente, me pergunto quais habilidades, quais skills, eu preciso ter para poder manter acessa essa lenha que eu ainda tenho pra queimar?

Uma pesquisa recente realizada pela Robert Half, empresa de recrutamento, e a Labora, empresa especializada em recrutamento de diversidade, traz no seu relatório final um dado curioso, já que 52% das empresas respondentes relataram ter programas que apoiam a contratação de profissionais 50+ porém, 70% dessas mesmas empresas contrataram somente cerca de 5% desses profissionais nos últimos dois anos. Muito pouco considerando que os avanços da medicina têm elevado a expectativa de vida para muito acima dos 80 anos, o que levará em algum tempo a população de prateados ser maior que a população de jovens.

O resultado dessa pesquisa mostra claramente que embora muito se fala sobre o combate ao etarismo, pouco se faz. É bem verdade que existem várias empresas especializadas na orientação de profissionais 50/60+, e embora elas apresentem ótimos resultados com seus clientes, o mercado ainda absorve muito pouco dos profissionais dessa faixa etária disponíveis no mercado.

A pesquisa também aponta outros dois dados interessantes: o investimento em treinamentos em diversidade geracional das suas equipes de recrutamento e seleção, está presente em 13% quando se trata de empresas de grande porte, mas apenas 6,25% das pequenas e médias empresas investem neste quesito. Isso mostra que os seniores terão mais chances de recolocação se investirem nos contatos com grandes empresas, já que nos maiores empregadores que são as pequenas e médias empresas, o etarismo é mais latente.

E como superar as barreiras geracionais do mercado de trabalho?

É importante que as empresas invistam em treinamentos para suas equipes de R&S, visando diminuir o viés do etarismo durante os processos seletivos, onde os profissionais sejam contratados com base nas suas qualificações, e não de acordo com sua idade. Que revisem seus anúncios de vagas para se certificar que a descrição esteja condizente com profissionais de qualquer idade, e que no final, requisitos e qualificações, pesem mais que a idade do candidato.

Imprescindível também a empresa fazer uma autocrítica sobre sua cultura organizacional para saber como anda a política intergeracional e de diversidade e inclusão pelos corredores. Optar por diversas fontes de busca de profissionais também pode abrir o leque de opções e ajudar a abrir portas para que a empresa seja vista como inclusiva, de fato, e não apenas em cartazes de missão, visão e valores colados em suas paredes. 

Ser antifrágeis e muito autoconhecimento

Do lado dos profissionais, sejam eles +50 ou -50, é importante se manterem atualizados, e jamais negligenciar o aprendizado, pois como já disse no início deste artigo, o que te trouxe até aqui não é o que vai te levar adiante, então nada de entrar na famosa zona de acomodação com pensamentos do tipo: “já vi de tudo e a vida não tem mais nada para me ensinar”. Ledo engano. 

O mundo passa por um período de transformação gigantesca, onde o que servia ontem, hoje não serve mais, e as coisas que fazíamos ontem, hoje podem ser feitas por uma IA, então nada de comodismo, pois se é fato que a IA não vai tirar nossos empregos, uma pessoa que saiba lidar com ela certamente vai. 

Se manter em aprendizado, ajuda nossas habilidades cognitivas, motoras, sociais e profissionais. Adquirir novas habilidades técnicas (hard skill) e comportamentais (soft skill), também ajuda nos relacionamentos e em nosso desempenho profissional. 

Muito mais que flexibilidade, hoje precisamos de adaptabilidade, e mais que sermos resilientes, precisamos ser antifrágeis. Não basta apenas suportar as adversidades, é preciso aprender com elas e sair delas ainda melhor. 

Desenvolver uma boa comunicação, inteligência emocional e liderança também fazem parte das skills necessárias para você manter a sua empregabilidade em alta independentemente da sua idade, lembrando que para se ter um melhor desempenho em qualquer área de atuação, e aproveitar muito mais todos os seus aprendizados, também é necessário muito autoconhecimento. 

 

 

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João Casarri Neto é economista, consultor de RH/TI, analista comportamental DISC, coach, mentor, treinador de líderes, e Practitioner PNL. Autor do livro “Os 5 Princípios da Resiliência”, é também criador do programa “Sou Líder, e Agora?” para ajudar líderes em início de carreira. É Embaixador de Inovação e Tecnologia da Associação Brasileira dos Profissionais de RH (HUBRH+ABPRH). Colunista EA “Geração 50+”.

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