Por João Casarri Neto

 

De acordo com projeções do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população brasileira deve chegar a 233,2 milhões em 2030. E em relação às gerações, é possível que haja uma mudança na estrutura etária da população, com um envelhecimento gradual da população. Também de acordo com o IBGE, a população idosa (com 60 anos ou mais) deve chegar a 28,6% em 2030, enquanto a população jovem (com menos de 15 anos) deve representar 18,3% da população.

Além disso, é importante mencionar que o Brasil passou por mudanças significativas na taxa de fecundidade nas últimas décadas, o que pode afetar a estrutura etária da população. Em geral, a taxa de fecundidade tem diminuído gradualmente, o que pode resultar em uma proporção menor de jovens na população. A projeção do IBGE para 2030 mostra isso muito bem.

Vale lembrar que essas são projeções baseadas em tendências atuais e podem se alterar no futuro, dependendo de alguns fatores, como mudanças nas políticas públicas, avanços tecnológicos e mudanças econômicas.

Diante disso, já é uma realidade que as empresas tenham profissionais de diferentes gerações em suas equipes. A esse mix etário dentro das empresas vamos chamar de diversidade etária.

Maior diversidade etária nas próximas décadas
Quando falamos em diversidade etária nos referimos à variedade de idades representadas em um grupo, organização ou comunidade. Isso quer dizer que pessoas de diferentes faixas etárias, como jovens, adultos e idosos, estão presentes e contribuem para o ambiente em questão.

É mais do que provável que haja uma maior diversidade etária nas empresas nas próximas décadas. À medida que a população mundial envelhece, teremos muito mais pessoas mais velhas permanecendo na força de trabalho, enquanto os mais jovens estão ingressando no mercado de trabalho.

Isso pode levar a um ambiente de trabalho mais diverso em termos de idade, com trabalhadores de diferentes faixas etárias trabalhando juntos em equipes e colaborando em projetos.

A diversidade etária é benéfica, e proporciona uma ampla gama de perspectivas, habilidades e experiências de vida que podem enriquecer a cultura e as práticas de uma empresa. Também ajuda a evitar a discriminação por idade, além de promover a igualdade de oportunidades para pessoas de todas as idades.

No entanto, a convivência diária de pessoas de diversas faixas etárias pode trazer desafios, pois as diferentes gerações podem ter perspectivas, valores e necessidades diferentes em relação ao trabalho e à vida em geral, e daí surgirem conflitos. É muito importante as empresas estarem conscientes desses desafios, e busquem desenvolver políticas e práticas que permitam aos funcionários de diferentes idades trabalharem juntos de maneira eficaz e harmoniosa aproveitando ao máximo seus conhecimentos e experiências no ambiente de trabalho.

Veja alguns benefícios de se ter em um mesmo ambiente laboral, jovens de até 30 anos trabalhando lado a lado com profissionais 50+:

  1. Variedade de perspectivas: uma equipe diversa em termos de idade pode trazer diferentes perspectivas e pontos de vista para a empresa. Funcionários mais jovens podem trazer uma visão mais inovadora e tecnológica, enquanto os mais velhos podem ter uma perspectiva mais experiente e uma compreensão mais profunda do negócio.
  2. Melhoria na criatividade e inovação: dessa diversidade etária pode surgir um ambiente de trabalho mais criativo e inovador, já que diferentes gerações podem pensar em soluções diferentes para os mesmos problemas.
  3. Transferência de conhecimento: a presença de funcionários com mais experiências vividas, pode ajudar a transferir conhecimentos e habilidades para os mais jovens, contribuindo para o desenvolvimento da equipe como um todo.        

E cabe aqui salientar alguns desafios que essa mesma diversidade etária pode apresentar:

  1. Conflitos intergeracionais: a diferença de idade pode levar a conflitos e mal-entendidos entre os funcionários. As gerações mais antigas podem ter dificuldade em se adaptar a algumas mudanças tecnológicas, ou a novas formas de trabalhar, enquanto as gerações mais jovens podem se sentir frustradas com a lentidão ou a resistência a mudanças.
  2. Diferenças de comunicação: tanto as gerações mais antigas como as mais jovens se comunicam de formas diferentes, o que pode levar a mal-entendidos e problemas de comunicação.
  3. Falta de identificação com a empresa: funcionários mais jovens podem sentir-se desmotivados ou desinteressados em trabalhar em uma empresa onde a maioria dos funcionários são mais velhos, ou vice-versa.

Para minimizar esses conflitos, empresas podem adotar programas de treinamento para funcionários mais velhos se manterem capacitados em relação às tecnologias e práticas de negócios, opções de trabalho flexíveis que os permitam terem mais tempo para cuidar de familiares ou desfrutar de hobbies, além de programas de mentoria para apoiar trabalhadores mais jovens a se beneficiarem da experiência e conhecimento dos mais velhos.

Esses treinamentos servirão para alinhar comportamentos que os profissionais podem adotar para evitar conflitos. Dos mais velhos espera-se que:

  1. Demonstrem humildade e disposição para aprender com os colegas mais jovens.
  2. Compartilhem suas experiências e conhecimentos com os mais jovens, oferecendo orientação quando necessário.
  3. Mostrem flexibilidade e adaptabilidade às mudanças, tecnologias e às novas formas de trabalho.
  4. Sejam positivos e entusiasmados com o trabalho, demonstrando energia e motivação para contribuir com a equipe.
  5. Sejam bons ouvintes e estejam abertos a diferentes perspectivas e ideias.

Deles também se espera que evitem comportamentos do tipo:

  1. Não se fechar em sua própria maneira de trabalhar ou na experiência do passado.
  2. Não menosprezar as opiniões e ideias dos colegas mais jovens, em vez disso, valorizar e incentivar o pensamento inovador.
  3. Não ser excessivamente crítico ou negativo em relação a mudanças ou novas formas de trabalhar.
  4. Não assumir uma posição autoritária ou dominante em relação à equipe, em vez disso, trabalhar em colaboração e parceria com todos.
  5. Não mostrar resistência ou falta de entusiasmo em relação a projetos ou iniciativas da equipe.

É óbvio que os mais jovens também precisam ter comportamentos e atitudes proativas em relação aos mais velhos. Por exemplo:

  1. Respeito. Demonstrar respeito pelos colegas de equipe mais velhos e por suas experiências. Isso inclui ouvir atentamente suas ideias e opiniões e valorizá-las.
  2. Aprendizado. Mostrar disposição para aprender com os profissionais mais experientes da equipe. Pedir feedback e conselhos pode ajudar a estabelecer um relacionamento de confiança.
  3. Trabalho em equipe. Trabalhar em equipe e colaborar com os colegas de todas as idades é importante. O profissional jovem deve estar disposto a compartilhar seus conhecimentos e habilidades e a aprender com os outros.
  4. Comunicação clara. Comunicar-se de forma clara e concisa para evitar mal-entendidos e estabelecer uma comunicação clara e eficaz.

Da mesma forma, espera-se que os mais jovens evitem comportamentos como:

  1. Arrogância. Ser arrogante e acreditar que sabe mais pode afastar os colegas, sejam eles mais velhos ou não.
  2. Impaciência. Ser impaciente e exigir resultados imediatos pode ser interpretado como falta de respeito pelos colegas mais velhos.
  3. Falta de respeito. Desrespeitar as ideias e opiniões dos colegas de equipe, sejam eles mais velhos ou não, pode afetar negativamente a dinâmica da equipe.
  4. Falta de compromisso. Não se comprometer com as tarefas e não cumprir prazos pode ser visto como falta de profissionalismo e compromisso.

E a criação e aplicação de políticas que favorecem a convivência pacífica no ambiente de trabalho onde estão profissionais de diversas gerações, passa pela atuação estratégica do RH.

O papel do RH (Recursos Humanos) na aplicação de políticas favoráveis para à diversidade etária é crucial. Já mostramos acima que diversidade etária pode trazer muitos benefícios para as empresas, como maior criatividade e inovação, maior alcance de mercado e cultura organizacional mais inclusiva. Mas para que isso aconteça é preciso que o RH primeiro entenda a importância da diversidade etária e seus benefícios. Em seguida, estabeleça objetivos claros para a inclusão de pessoas de diferentes idades na empresa, como recrutar e contratar pessoas de diferentes faixas etárias, além de oferecer oportunidades de treinamento e desenvolvimento para todas as faixas etárias,além de criar um ambiente de trabalho inclusivo para todos os funcionários.

Sensibilização e conscientização do RH para D&I
Também é preciso que o RH realize atividades de sensibilização e conscientização para promover a diversidade etária na empresa. Isso pode ser feito com palestras, treinamentos e workshops que mostram a importância da diversidade etária e as formas de promovê-la no ambiente de trabalho, que certamente farão com a equipe tenha mais foco nos comportamentos positivos citados acima, assim como evitem as atitudes desagregadoras, também já citadas.

Outra ação importante que o RH precisa adotar é garantir que as políticas e práticas da empresa sejam inclusivas e equitativas para todas as faixas etárias. Isso deve incluir a revisão das políticas de benefícios para garantir que eles atendam às necessidades de todos os funcionários, independentemente da idade, e implemente políticas de flexibilidade no trabalho para acomodar as expectativas de trabalhadores de diferentes idades.

Através de ações concretas e conscientização, o RH pode promover a inclusão de pessoas de todas as idades para que a empresa possa colher, em um futuro próximo, todos benefícios que a diversidade etária pode trazer.

 

 

joao casarri neto

João Casarri Neto é economista, consultor de RH/TI, analista comportamental DISC, coach, mentor, treinador de líderes, e Practitioner PNL. Autor do livro “Os 5 Princípios da Resiliência”, é também criador do programa “Sou Líder, e Agora?” para ajudar líderes em início de carreira. É Embaixador de Inovação e Tecnologia da Associação Brasileira dos Profissionais de RH (HUBRH+ABPRH). Colunista EA “Geração 50+”.

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