Donna de tudo

ED#1 | Por Rafael Augustto Arena.

Cantora, compositora, bailarina, produtora, atriz, diretora de cinema, escritora, militante, empresária e mãe. Esses são alguns dos rótulos que Madonna construiu ao longo de 37 anos de carreira e a tornou uma das artistas mais poderosa de todos os tempos. Uma trabalhadora incansável, que possui uma invejável visão de mercado e tem o que é o principal para qualquer empreendedor: não tem medo de arriscar.

Desde que começou, em 1983 com o seu álbum de estreia, percebeu que precisava tomar o controle de sua carreira e não deixar que gravadora e empresários a moldassem como um produto pré-fabricado. Como co-escritora de todas as suas canções, passou a ter o controle de suas músicas e permanece assim até hoje.

Uma de suas grandes sacadas foi perceber que para aguçar ainda mais o público e criar expectativa no trabalho seguinte você precisa sempre se reinventar. Madonna sempre apareceu com um visual, cabelo, estilo, roupas e persona diferentes. Como um produto, evoluir é essencial: muda-se a embalagem mas nunca a essência.

O seu discurso libertador, fez com que o empoderamento feminino fosse algo essencial em sua obra, muito antes de estar em moda como nos dias atuais. “Madonna ensina mulheres jovens a serem inteiramente sexuais e femininas e, ainda assim, ter total controle de suas vidas. Ela mostra às garotas como ser atraente, sensual, enérgica, ambiciosa, agressiva e engraçada – tudo ao mesmo tempo”, escreveu a escritora feminista Camille Paglia em 1990.

Madonna sempre falou também para minorias, dando voz também ao marginalizado público LGBT. Foi ela uma das principais artistas a falar sobre a AIDS, doença que no início dos Anos 90 era tida como uma peste e isolava os infectados.

Sua visão aguçada, visionária, fez com que inovasse no formato showbusiness: não bastava apenas uma cantora no palco cantando no microfone, precisava unir a arte cênica e a dança, sua formação. Foi quando em 1990 revolucionou o cenário musical com a turnê Blond Ambition, em que unia música com teatralidade e dança, num formato de shows dividido por atos que virou referência nos shows pop e é replicado até hoje.

Foi também com essa turnê que a visão da Madonna fez algo novo: porque não filmar os bastidores e o cotidiano de sua vida? Levar ao público o que jamais se viu por trás das câmeras de uma pessoa famosa? Tratava-se do filme Na Cama com Madonna, que era os primórdios do que décadas depois o mundo estaria viciado: reality show, exibindo as pessoas como elas são.

Paralelamente, Madonna foi explorando outros mercados: trabalhou como atriz em dezenas de filmes e, inclusive, ganhou Globo de Ouro pelo musical Evita, lançou livros de arte (o livro Sex de 1992 vendeu em apenas três dias 1,5 milhão de cópias, tornando-se até hoje o livro mais bem sucedido da história editorial), fez livros infantis, foi sócia numa rede mundial de academias, lançou linha de roupas, óculos, maquiagem e cosméticos.

A paixão por cinema a fez enveredar para o outro lado da câmera: tornou-se diretora de cinema com já três filmes lançados (e está preparando um novo).

Workaholic assumida, como hoje, vemos as mulheres tomarem pra si suas carreiras profissionais, competindo de igual para igual como os homens, Madona soube conciliar uma vida artística com a maternidade: teve dois filhos biológicos e outros quatro adotivos do Malaui, na África. Um dos países mais pobres do mundo que ela fez tornar-se conhecido, ajudando a população construindo quatorze escolas para mulheres (lá elas não podiam estudar) e um hospital pediátrico.

Hoje, aos 62 anos, Madonna continua trabalhando muito e conciliando com sua vida pessoal. Inovou novamente no formato de seu show Madame X, sendo realizado em teatros históricos. E é lá que ela diz: “Eu não quero ser popular. Eu estou aqui para ser livre e fazer o que eu quiser!”. E a gente sabe!

E as mulheres sabem! Seja no trabalho, na vida pessoal, na maternidade, o quanto Madonna influenciou, influencia e influenciará sempre o empoderamento feminino.