Por João Casarri Neto
A maturidade pode ser o solo fértil onde a criatividade floresce. E para os profissionais 50+, essa combinação pode fazer toda a diferença na liderança e na empregabilidade.
A maturidade como fonte de inovação
A criatividade costuma ser associada à juventude. Imaginamos mentes jovens e inquietas encontrando soluções fora da caixa. Mas há um outro tipo de criatividade, menos comentada, que se revela com o tempo: aquela que nasce da escuta atenta, da vivência acumulada. É nesse ponto que muitos profissionais longevos — e especialmente os líderes — descobrem novas formas de pensar, agir e contribuir.
A partir dos 50 anos, a mente humana começa a operar com uma riqueza de conexões que não está necessariamente presente em outras fases da vida. Isso não significa pensar mais rápido, mas sim pensar com mais profundidade e repertório. É a criatividade do “e se…?”, alimentada por histórias vividas, erros cometidos, aprendizados compartilhados e uma visão mais ampla do todo.
Elkhonon Goldberg e o cérebro maduro
Neurocientistas como Elkhonon Goldberg, pesquisador russo-americano e autor de “The Wisdom Paradox”, têm contribuído para uma nova compreensão do cérebro maduro. Professor de neurologia clínica e especialista em neurociência cognitiva, Goldberg propõe que o cérebro continua a se desenvolver ao longo da vida, especialmente nas áreas ligadas à sabedoria e ao pensamento abstrato.
Sua teoria aponta que, com o passar dos anos, usamos de forma mais integrada os dois hemisférios cerebrais, em especial o direito — ligado à criatividade, à intuição e ao pensamento sistêmico. Isso amplia a capacidade de resolver problemas complexos e encontrar soluções inovadoras baseadas na experiência. Segundo ele, é essa reorganização que permite que pessoas maduras tomem decisões mais eficazes e criativas, mesmo com algum declínio em tarefas automatizadas.
Criatividade como ferramenta de empregabilidade
Em um mundo profissional que valoriza a inovação e a adaptabilidade, a criatividade é uma competência essencial. Para os profissionais seniores, ela se torna um diferencial importante para manter a relevância e a empregabilidade.
Veja como essa criatividade se manifesta na prática:
- Resolução criativa de problemas
A experiência acumulada amplia a capacidade de enxergar soluções estratégicas e realistas para desafios complexos. Ao longo dos anos, os profissionais seniores desenvolvem um repertório de situações vividas que permite enxergar soluções de forma mais estratégica e adaptada ao contexto. Quando essa experiência se alia à escuta ativa e à curiosidade, surgem propostas inovadoras e realistas.
- Criatividade de adaptação com propósito
A criatividade também está em saber adaptar-se com inteligência, incorporando novas tecnologias e formas de trabalho. Afinal, criatividade não é apenas inventar, mas também adaptar com inteligência. Profissionais longevos que exercitam a flexibilidade e o desejo de aprender tornam-se capazes de incorporar novas tecnologias, se reposicionar no mercado e atuar em formatos de trabalho mais dinâmicos.
- Proatividade para inovar dentro da própria função
Mesmo em funções operacionais ou tradicionais, há espaço para propor melhorias e transformar rotinas com ideias simples e eficazes. Ser criativo não exige ocupar um cargo criativo. Em qualquer área ou nível de liderança, há espaço para rever processos, propor melhorias, incentivar a colaboração e gerar valor de forma contínua.
- Comunicação empática e intergeracional
Líderes seniores, assim como profissionais criativos conseguem criar pontes entre gerações, traduzindo ideias em mensagens claras e conectadas com diferentes públicos, estabelecendo conexões significativas com diferentes gerações. Isso é especialmente relevante em ambientes de trabalho cada vez mais diversos e multigeracionais.
Reinvenção com sentido
Criatividade, para os 50+, não é um privilégio de poucos. É uma possibilidade real, que pode ser cultivada por meio de leitura, trocas com diferentes gerações, abertura ao novo e disposição para experimentar.
Ao abraçar a criatividade como uma aliada da longevidade profissional, os profissionais seniores não apenas permanecem relevantes — eles ampliam sua contribuição, fortalecem sua liderança e transformam sua presença no mercado em um ativo estratégico.
Envelhecer, nesse contexto, é seguir ocupando espaço com intenção, com repertório e com criatividade.
João Casarri Neto é economista, consultor de RH/TI, analista comportamental DISC, coach, mentor, treinador de líderes, e Practitioner PNL. Autor do livro “Os 5 Princípios da Resiliência”, é também criador do programa “Sou Líder, e Agora?” para ajudar líderes em início de carreira. É Embaixador de Inovação e Tecnologia da Associação Brasileira dos Profissionais de RH (HUBRH+ABPRH). Colunista EA “Geração 50+”.
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