Stop Idadismo | Sônia Crisóstomo

 

Por definição, idadismo  trata-se de atitude preconceituosa e discriminatória, baseada na idade das pessoas, em especial as idosas. 

O tema nem á assim tão novo. O Francês Honoré de Balzac nos anos de 1831-32 escreveu sua famosa obra A Mulher de Trinta. No caso do autor, ele versava sobre a maturidade da mulher com mais de trinta anos para viver a plenitude de seu amor, em detrimento das mocinhas românticas de vinte anos.  

Balzaquianas

Por anos, as mulheres passaram a sofrer de angústia por serem chamadas de balzaquianas, o que lhes conferiam o atributo de maturidade ou como diziam alguns, nos anos 70, já estavam “passadas”. 

No idadismo a questão torna-se um pouco mais densa, com contornos desagradáveis e nuances de exclusão, quando se fala sobre envelhecer. 

O Brasil até muito pouco tempo era considerado o país jovem, o país de jovens. Mas o tempo passa célere para todos e nesse particular é importante que possamos falar sobre o idadismo ou ageism, uma atitude discriminatória que mina as famílias, os ambientes empresariais e marca a vida das pessoas em idades mais avançadas de modo que essas passam a se sentir seres descartados, obsoletos, desnecessários, causando-lhes sentimentos de menor valia. 

Naturalmente com a expectativa de vida maior, e a diminuição do numero de filhos por família podemos ver de forma clara a mudança de contorno da pirâmide etária do Brasil. 

Segundo dados do IPEA, que sugere um novo formato de visualização de faixa etária que não mais se assemelha a uma pirâmide, e vemos assim que a população de pessoas mais velhas cresce de forma exponencial. 

Ainda assim, a forma discriminatória continua a rotular os mais vividos, como se a verdade da vida estivesse somente na mão dos mais jovens. Nota-se então que a percepção negativa da idade é um fato muito mais cultural do que propriamente biológico. 

Simone de Beauvoir que morreu em 1976 aos 78 anos, ficou abalada ao ouvir pela primeira vez de uma aluna a palavra “velha” dirigida a sua pessoa. Dizia ela que é “impossível encerrar esta pluralidade de experiências num conceito ou numa noção” (1976, p. 5). Também chamou de “conspiração do silêncio” a forma que a sociedade se calava para o fato de perceber-se um descaso em relação aos mais velhos. 

Efeitos na família

Envelhecer causa uma série de “sintomas” a todos nós, sem exceção. Isso significa que, se você tiver sorte de viver o suficiente, passará por essa experiência no seio da família. Será então a pessoa que contará a mesma história repetidas vezes, será a pessoa que sempre lembrará de uma história da vida de outro familiar que lhe impactou, será a pessoa que perceberá mais lentamente as nuances de humor. 

Mas o que tem de errado nisso? Nada! 

Com o passar da idade e o envelhecer, vem a infantilização da persona, tratando o velho, e aqui me refiro a idades bem mais avançadas acompanhadas de patologias cognitivas, como crianças débeis. 

Efeito nas organizações

Entendemos que vivemos num galope cultural e de tecnologias e para algumas pessoas, acompanhar tais movimentos torna-se penoso. A questão é que infelizmente, algumas organizações julgam o seu talento humano simplesmente pela idade e não mais pelo seu deployment. 

Empresas de recrutamento são contratadas para encontrar pessoas “com idade até 45 anos”, por exemplo. É de se pensar pois, que se a pirâmide etária está assumindo novos contornos, significa que em muito pouco tempo a maioria da população mundial estará inapta ao trabalho. Isso sob o ponto de vista do idadismo, que espero que seja uma moda passageira. 

Late Bloomers

Na contramão dessa onda, os late bloomers, que podemos traduzir livremente como aqueles que florescem tardiamente, vêm para dar um contraponto a essa questão. Ainda temos o ranço social de querer que o adolescente escolha e defina sua carreira aos 16 ou 17 anos, que a mulher engravide antes dos 30, e agora essa onda impressionante de perguntarem a toda hora com que idade você fez seu primeiro milhão. E se você não fez? Deixa de existir socialmente? 

Sejam bem-vindos late bloomers! Sim, a vida começa quando você nasce, e se torna melhor quando você decide que assim seja e não com que idade está. 

Para falarmos de figuras dos dois países que me acolhem como morada, quero citar duas figuras que conseguiram em idade mais avançada atingir seus objetivos. 

No Brasil, o empresário Roberto Marinho fundou a Rede Globo quando já tinha mais de 60 anos. Em Portugal, o escritor José Saramago escreveu seu primeiro livro aos 25 anos e depois somente aos 44 volta a publicar. Mas somente após as 60 anos sua carreira se desenvolve, recebendo o Premio Nobel de Literatura aos 76.  

Lendo um pouco sobre o que  Malcolm Gladwell  fala sobre os late bloomers, sinto uma ponta de esperança. É como uma vacina não testada sobre o vírus do idadismo. E como tudo nesse momento é transitório, passa rápido, eu deixo aqui uma pequena reflexão. Olhe com mais carinho e aceite a experiência dos mais vividos. Nunca, nunca faça com que, através de seus atos o outro ser humano sinta-se obsoleto. Porque se assim for, um dia, até você se sentirá um CP-500. Ah, você nem sabe o que é isso? …………….. pois é! 

 

 

image0 2 - Stop Idadismo

Sônia Crisóstomo é casada, mãe de duas filhas, apaixonada pela vida e pelo mar. Formada e pós-graduada em Ciências da Computação, MBA em Executive Marketing. Sócia do WholebeingInstitute e ETI Europe. Mais de 30 anos em empresas de Telecomunicações e Tecnologia da Informação. Diplomata Civil Humanitária, G100 Global AdvisorCouncilMember, Embaixadora Master do Clube Mulheres de Negócios de Portugal e Membro do Conselho Administrativo do Instituto Raiz Nova. Formada em Inteligência Emocional, Programação Neurolinguistica, Hipnoterapeuta com especialização em Hipnose Clínica. Formação Internacional em PSicologia Positiva. Colunista da Revista Mulher Africana e feliz escritora com 3 livros publicados. Colunista EA “Felicidade”.

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