A segunda vida de Felipe | Felipe Gruetzmacher
Seus planos na juventude deram certo? Eu, por exemplo, segui um caminho diferente do que o planejado. Apesar de ser formado em gestão ambiental e ter pós-graduação em educação ambiental, virei copywriter, especialista em comunicação e escritor de sci-fi.
Existem outros universos: cada um deles com um Planeta Terra próprio. Cada mundo desses apresenta histórias próprias. São como espelhos que apresentam imagens distorcidas desse nosso planeta. Numa realidade paralela, num universo alternativo, uma versão de mim foi contratado como gestor ambiental por uma grande empresa logo no final da pós-graduação. É um Felipe que nunca chegou a se interessar por escrita sci-fi ou copywriter.
Não demorou muito para ascender na carreira de gestor ambiental e se casar com uma ex-colega de escola. Qual é a diferença entre o Felipe escritor de sci-fi e o Felipe gestor ambiental? Se ambos partiram do mesmo ponto, por que nós seguimos por caminhos tão opostos?
No nosso Planeta Terra, eu não consegui ingressar na carreira de gestor ambiental porque não sabia lidar com a área de RH, tinha dificuldades em entender meu propósito e o mercado da minha cidade, Blumenau/SC, não estava pronto para contratar gestores ambientais, apesar dos muitos debates sobre a questão ambiental no ambiente empresarial.
Por isso, esse texto relata meus tempos de juventude, minhas percepções sobre a área de RH, as coisas que poderiam ser diferentes, erros e acertos. É a minha experiência prática enquanto candidato a emprego. O debate perpassa conceitos como formação do capital humano, educação, economia, inovação, empregabilidade e estratégias focadas em atrair e desenvolver melhores profissionais.
Insights:
- Às vezes, mandava currículo para as empresas, noutras vezes, eu prospectava vagas de outras maneiras. Como fazia trabalho voluntário relacionado à questão ambiental, eu enviava textos e conteúdo sobre minhas ações com o propósito de sensibilizar a área do RH e conseguir ingressar numa vaga. Ambas as estratégias não funcionaram no meu contexto.
- A diversidade humana é abrangente demais para ser encaixada num currículo ou num breve conteúdo: somos todos portadores de muitas habilidades que, às vezes, não são notadas pelos especialistas em RH. Com a crescente digitalização das operações que sustentam a gestão do talento, atração e desenvolvimento do capital humano, como os profissionais do RH vão identificar as habilidades mais valiosas para a organização?
- Alguns candidatos precisam ouvir um bom feedback para corrigir a rota profissional. Os algoritmos e a tecnologia aplicada ao RH podem simplificar o contato entre entrevistador e candidato, gerando maior agilidade e praticidade para um bom feedback?
- Com um aumento no número de profissionais no mercado, o diploma universitário perde valor. A lógica é bem simples: maior oferta de mão de obra especializada e formada no ensino superior reduz o valor do diploma, porque pode ser que o número de profissionais formados exceda a capacidade do mercado em assimilar tanta força de trabalho disponível.
As consequências são terríveis: desemprego entre formados, rebaixamento de salários, falta de sintonia entre mercado e ensino. Como resolver a “inflação” de diplomas? Educação é, também, responsabilidade dos gestores de talentos!
Uma conexão entre HR Techs e Edtechs podem remediar a situação e alinhar talento com demanda?
- Como as Universidades vão conhecer as demandas da economia regional e oferecer cursos sintonizados com as vagas do mercado? Pouco adianta abrir cursos de boa qualidade, se as organizações empresariais não souberem aproveitar as tendências da economia e não aderem à inovação!
- Em geral, cursos universitários são abertos para satisfazer uma “demanda social”. Acontece que o conceito de demanda social pode ser bastante impreciso, flexível, enganoso e genérico, porque é bastante teórico.
Por exemplo: uma Universidade de uma grande cidade pode oferecer um curso de Gestão Ambiental supondo que a economia local vai exigir gestores ambientais em função da presença de empresas de grande potencial poluidor. Logicamente, essa justificativa para abrir um curso de gestão ambiental pode estar equivocada, pois pode ser que não haja oferta de empregos para gestores. Uma coisa é a teoria pensada nas Universidades. Outra coisa é a demanda real da economia (prática).
- Em tempos de valorização do empreendedor que busca o sonho, fica claro o descompasso com a Universidade, dado o fato de que o trabalho dos sonhos não se aprende lá.
Mas, então, de que forma esse gratificante trabalho dos sonhos será submetido aos canais de regulamentação, código de ética e direitos do consumidor?
Como construir instituições responsáveis por fornecer bagagem acadêmica e conhecimentos científicos para a construção do tal trabalho?
- O conceito de profissão ainda tem um papel importante de delimitar um mercado, estabelecer os canais de regulamentação, os padrões mínimos de qualidade e oferecer um norte para o funcionamento de estabelecimentos de ensino. Como a inovação em gestão do talento vai lidar com o surgimento de novas profissões?
Qual é a forma mais efetiva de usar a tecnologia para aproximar esses novos especialistas das empresas?
- A tecnologia vai evoluir a tal ponto que vai poder alinhar habilidades, profissões, perfil psicológico, temperamento e propósito profissional?
Um dos maiores clichês repetidos no mundo corporativo é “contrate caráter e treine habilidades”. As empresas estão dispostas a contratar pessoas para investir no desenvolvimento delas? Ora, investir em alguma coisa sempre é um risco e lidar com pessoas sempre é um desafio! A tecnologia HR Tech pode minimizar esses riscos?
Felipe Emilio Gruetzmacher é formado em gestão ambiental, educação ambiental e se especializou em copywriter através de muitos cursos online, muita prática e dedicação. Autor na Comunidade EA é um dos mais lidos na plataforma. Tenta decifrar os enigmas do trabalho humano, até porque essas questões podem mudar os rumos da sociedade humana e acelerar a marcha da história rumo à Utopia.
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