Minhas profissões | Hugo Bessa

 

EA – Mais um livro no mercado, do que trata o seu novo título, Hugo?
Hugo “Por um momento, um dia, uma vida ou sei lá o quê…” fala de como transformamos uns aos outros, de maneira consciente ou não, por meio de nossas atitudes, gestos e escolhas. Podem ser transformações passageiras, como deixar o dia de alguém melhor com um gesto de acolhimento, ou definitivas, como uma escolha ou decisão que muda para sempre a vida de alguém.

Com esse conceito em mente, eu conto a história de duas pessoas que se esbarram (na verdade, é um grande esbarrão, porque é uma batida de carro) e mudam para a sempre a vida uma da outra. E não é que eles se apaixonam, eu não quis falar sobre esse amor romântico, mas eles se transformam de outro jeito e por outros motivos. Cada capítulo traz a história sob a perspectiva de um deles (um advogado bem-sucedido, mas frustrado, e uma dona de casa que acabou de passar por uma grande perda e está de saco cheio de tudo). E temos também a perspectiva de outros personagens que cruzam com eles pelo caminho, como a atendente que serve um café ou o cara que vende salada de fruta na praia, e que têm seus dias e pequenos momentos transformados ao escutarem a conversa dos protagonistas ou serem inspirados por algo que observam neles.

EA – Por que você escreve? Qual retorno te motiva a conceber um novo livro?
Hugo Escrevo porque eu não sei viver sem fazer isso. É o que deixa a minha vida mais fácil. Não escrevo por retorno financeiro, porque ainda não o tenho com a escrita. O que me motiva é meu amor pelas histórias, eu preciso contá-las, é quase como um chamado biológico, não sei explicar bem. Às vezes, entre um livro e outro, fico um período sem escrever, e aquilo começa a me incomodar. Uma história vai se formando na minha cabeça e eu preciso escrevê-la. Por exemplo, eu estou com a ideia de um quarto livro há algum tempo, e todo dia penso nele um pouco, mas não havia começado. As ideias vinham, eu até cheguei a organizá-las, mas não escrevi a história em si. Esses dias, eu estava indo dormir, literalmente fechando a porta do quarto, quando tive um estalo, peguei o celular o escrevi no bloco de notas o primeiro capítulo inteiro. E a satisfação que isso provoca em mim vai além de qualquer questão financeira, de ego ou reconhecimento. É quase um chamado mesmo.

EA – Quem te incentivou a começar a escrever?
Hugo Na verdade, a começar, ninguém. É algo que sempre foi meu. Com 10 anos, escrevi um livro chamado ‘O Natal de Carlos’, que montei com folha de sulfite, tirei cópias e dei de Natal para os meus familiares. Claro que meus pais, vendo que eu gostava de escrever, me incentivaram a continuar. Mas acho que meu amor pela escrita de ficção vem do meu amor pela ficção como um todo, por contar histórias. Eu assistia muita novela quando eu era criança, que na verdade é a minha grande referência, e não poderia haver nada mais brasileiro do que isso. Costumo dizer que sou formado em melodrama brasileiro. Então, o que me incentivou a começar foi a minha vontade de compartilhar sonhos que comecei sonhando sozinho.

EA – O que te impulsionou a escrever Todas as Cores da Vida?
Hugo Todas as Cores da Vida é um pouco sobre a minha história e sobre a história de todas as pessoas LGBTQIA+. É um livro sobre autodescoberta, homofobia, é uma jornada de um garoto se conhecendo e enfrentando o mundo. Eu não sabia que precisava tanto escrever esse livro até lançá-lo. Foi quase como uma terapia para mim. Antes, eu não falava muito sobre a minha sexualidade, e a partir do livro, foi como se eu colocasse para fora meus traumas, minhas dores, e passei a ter mais segurança para ser uma voz a lutar por igualdade, diversidade e respeito.

EA – Quantos livros tem publicados, todos tem versão impressa?
Hugo São três livros publicados, agora todos com versões física e digital.O primeiro, “Em um Lugar Melhor”, lancei em versão física em 2016, e este ano finalmente disponibilizei o eBook, com texto repaginado, pois algumas coisas estruturais me incomodavam nele. O segundo e o terceiro eu lancei primeiro em versão digital e, depois, o físico.

EA – É possível viver de literatura?
Hugo Acho que sim, mas por dois caminhos: virando um best-seller, o que abre também a possibilidade para a venda de direitos para o audiovisual, para fora, ou fazendo sucesso com um nicho online, como os romances hot, por exemplo. Hoje os e-books de ficção mais vendidos na Amazon são majoritariamente hot, e há pessoas que lançam um atrás do outro e vivem disso. Mas sabemos que a grande maioria dos escritores não vivem apenas de seus livros e têm outra atividade em paralelo. No começo do ano, eu fiz um curso que se chama “A Vida do Livro”, muito bom e completo por sinal e indico a todos os aspirantes a escritores. O Daniel Lameira, que ministra o curso, iniciou fazendo uma conta do valor que um escritor receberia se o seu livro vendesse muito bem para os padrões brasileiros. Resultado: é mais amor do que ambição.

EA – Você é um profissional do mercado que é escritor, ou é um escritor que é profissional do mercado?
Hugo Se eu for pensar com o coração, eu sou um escritor que é profissional do mercado. Eu nasci para escrever ficção, mas empresto a minha escrita para o mundo corporativo. E acho que ajuda muito porque, na verdade, qualquer escrita, por mais realista que seja, até mesmo um comunicado, tem um dedo de ficção. Você sempre precisa aumentar um ponto para deixar aquele conto mais bonito. Pensando agora no tempo dedicado, sou um profissional do mercado que é escritor.

EA – Quais autores que te inspiram?
Hugo A primeira escritora que me vem na cabeça é a Lya Luft, pela sensibilidade que ela teve para falar dos sentimentos mais íntimos. Eu gosto muito também do Miguel Falabella, com seu humor cínico e seus diálogos afiados, tanto nas séries e novelas como nos palcos.Philip Rothé outro autor que me inspira, sou apaixonado por Patrimônio, é um dos livros da vida. E eu amo também autores e autores que escrevem obras mais leves, como a Virginie Grimaldi, uma francesa que descobri recentemente, ou a Marian Keyes, que ficou famosa pelo livro Melancia. Sou bem eclético, como vocês podem ver.

EA – A jornada de concepção de livro, como é no seu caso, que tem um tempo limitado?
Hugo Eu gosto muito de escrever de madrugada, quando sei que não vou receber nenhum e-mail com algum pedido urgente. Porém, neste último livro, várias vezes escrevi na parte da manhã, quando eu estava com a cabeça descansada. Tem dias em que não escrevo porque já estou esgotado do trabalho corporativo, e isso me angustia durante o processo de concepção de uma obra. Então, vou escrevendo quando dá, quando tenho inspiração, sem nenhum processodefinido. Sempre que me perguntam como é o meu processo criativo, eu travo. Porque meu processo é não ter processo algum.

EA – Quem é seu leitor, consegue ter essa persona definida?
Hugo Não consigo, infelizmente (ou não), porque meus livros são muito ecléticos. O primeiro fala sobre a morte, a dor da perda, e é mais voltado ao drama. O segundo, um romance LGBTQIA+. O terceiro, uma dramédia. Às vezes, eu me cobro por não seguir um nicho, mas também não quero me colocar em um caixinha. Sei que isso dificulta a criação de um público cativo, mas é o preço. Por outro lado, tenho um compromisso comigo mesmo, que é sempre ter personagens LGBTQIA+ na obra, independentemente da história.

EA – Há um passo a passo para alguém que deseja publicar um livro?
Hugo Hoje em dia, ficou muito fácil porque temos a autopublicação, pela Amazon, pelo Clube de Autores e outros. Ou seja, basta ter uma ideia, escrever, estar seguro dela, fazer uma boa revisão e publicar. Tem muita gente boa fazendo isso e sabendo divulgar nas redes sociais. Ou seja, o autor é a sua própria editora. Para quem quer publicar o livro físico, temos várias editoras que realmente leem os originais e abrem espaço para obras diversas, como a Penalux, onde publiquei o meu. Tem também a Patuá, a Metanoia, etc.

EA – Um autor independente tem espaço em grandes feiras de livro?
Hugo Em feiras maiores, como a Feira do Livro de São Paulo, Bienal etc., apenas através de editoras. A não ser que o autor tenha dinheiro suficiente para investir em um stand. Mas temos feiras regionais e de outras cidades que abrem, sim, espaço para autores independentes. Eu já participei de algumas feiras, principalmente no interior de São Paulo e do Rio de Janeiro, e sempre foi uma experiência muita legal, uma vitrine para as pessoas conhecerem sua obra. Ser escritor no Brasil é um trabalho de formiguinha e todo espaço é válido e importante.

 

Indicação de leitura

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Resenha do autor
De que maneira e com que intensidade podemos afetar uns aos outros sem nos darmos conta disso (ou sabendo muito bem o que estamos fazendo)? Em “Por um momento, um dia, uma vida ou sei lá o quê…”, a resposta vem quando duas pessoas completamente diferentes se envolvem em um acidente de carro. À primeira vista, parece mais um momento banal do trânsito de uma grande cidade, mas o que os envolvidos não imaginam é que aquele pequeno instante é definitivo e, à sua maneira, fatal.

De um lado, temos Roberto, um advogado bem-sucedido e com a autoestima em dia, mas frustrado com os caminhos da sua vida profissional. Do outro, Joana, uma dona de casa infeliz, que acabou de passar por uma grande perda pessoal.

Induzidos a manterem contato por situações nem sempre alheias às suas vontades, os dois se aproximam, e Roberto consegue enxergar em Joana possibilidades que ela já não via mais. Interpretando de forma literal o desejo que a nova conhecida tem de se tornar outra pessoa, ele acaba arrumando problema no lugar de solução, em situações que transformam não apenas os dois, mas também as pessoas ao redor.

Contado a partir de múltiplas perspectivas, com pitadas dramáticas e doses de bom-humor, o livro mostra como esse encontro de duas personalidades tão diferentes desperta sonhos antigos, novas ambições, além de dores e segredos que deveriam ficar para trás.

Titulo: Por um momento, um dia, uma vida ou sei lá o quê…

 

 

hugo bessa bio

Hugo Bessa nasceu em Volta Redonda (RJ), mas foi em Cruzeiro (SP), onde cresceu e vive hoje, que descobriu sua paixão pelas histórias. É jornalista, especialista em Língua Portuguesa, e atua na produção de conteúdo para a comunicação interna de várias companhias por meio da sua empresa, a Contexo (www.comunicacaocontexto.com). Como escritor, publicou os livros ‘Em Um Lugar Melhor’ (Chiado, 2016) e ‘Todas as Cores da Vida’ (Metanoia, 2020) e acaba de lançar, pela editora Penalux, a versão física de seu mais novo romance, ‘Por um momento, um dia, uma vida ou sei lá o quê…’. É editor-chefe da revista EA Magazine.

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