Por João Casarri Neto
Não adianta negar. O etarismo existe e está presente em nosso dia a dia. E não é só no Brasil que ele acontece, mas em qualquer lugar do mundo. E por incrível que possa parecer, estamos perdendo a validade cada vez mais cedo.
A expectativa é de que em 2050 tenhamos no Brasil, uma população acima dos 60 anos de cerca de 30% dos brasileiros, e como a população abaixo dos 20 anos também vai beirar esse patamar, a população economicamente ativa estará restrita a apenas 40% da população total.
A nossa lei trabalhista obriga os profissionais a se aposentarem mais tarde, porém isso é outro problema que os profissionais 50+ enfrentam, pois como se aposentar se são preteridos pelo mercado antes de atingirem a idade necessária à aposentadoria?
Claro, sempre falamos que as pessoas precisam se reinventar, adquirir novas habilidades, novos conhecimentos, o que é uma verdade, mas como aplicar essas novas habilidades e os novos conhecimentos se o mercado não nos emprega?
Também é verdade que dizemos que podemos fazer transição de carreira, empreender, mas a economia não funciona apenas com empreendedores. Esses mesmos empreendedores precisam que empresas contratem seus serviços, pois de que outra forma eles poderão sobreviver?
Etarismo é praticado veladamente pelas empresas
Esse é outro problema que aflige os 50+. Os anúncios das vagas não fazem restrição às candidaturas de profissionais seniores, mas as exigências sim, e nas respostas – quando elas existem, pois na maioria das vezes os candidatos ficam no vácuo – a resposta vem de forma genérica: “não daremos seguimento ao seu processo em virtude das suas habilidades técnicas”, o que fundo quer dizer “consideramos você ultrapassado para esta vaga”.
Quando se esperava que o trabalho remoto poderia abrir mais oportunidades de trabalho a todos, pois nessa modalidade o colaborador pode estar em lugar totalmente diverso da empresa, o que se vê na verdade é um movimento da alta gestão das empresas exigindo a volta do trabalho presencial, movimento este que limita muito a contratação de novas pessoas, pois fica restrito aos profissionais de determinada região, excluindo-se aqueles que estão em regiões distantes.
Enquanto o trabalho remoto amplia os horizontes, o presencial o restringe. E neste caso não estamos falando apenas dos profissionais seniores. Com o presencial todas as gerações são afetadas.
Voltando a questão do etarismo contra os profissionais seniores, é um contrassenso as empresas buscarem profissionais com experiências e habilidades múltiplas, mas não incluírem nos processos seletivos, exatamente aqueles profissionais que as possuem, nesse caso os profissionais mais velhos, preferindo o dinamismo dos mais jovens, esquecendo-se que a experiência só é conseguida através das vivências.
É lógico que a tecnicidade é importante, ainda mais hoje onde estamos conectados 24 horas por dia, mas nem por isso a experiência dos seniores deve ser abandonada.
São inúmeras as pesquisas que mostram que estamos vivendo mais, e tanto é verdade que até as regras para se aposentar mudaram, e estamos nos aposentando “mais tarde” do que a alguns anos atrás.
Mas se por um lado estamos vivendo mais, é preciso que continuemos a ter oportunidades de se manter na ativa. É preciso que tenhamos a oportunidade de mostrarmos nossas habilidades, e isso só pode acontecer se as empresas nos aceitarem em suas equipes.
Fala-se muito que precisamos nos reciclar, aprender novas habilidades, ter inteligência emocional, autoconhecimento, desaprender para aprender novamente, empreender, e estamos fazendo tudo isso. É só observar a quantidade de cursos online que estão disponíveis, e muitos deles de forma gratuita. Mas de que adianta se especializar em novas tecnologias, e adquirir um sem-número de novas habilidades, se não podemos colocá-las à disposição das empresas?
Espírito resiliente dos seniores
Tenho grande admiração e respeito pelos jovens, afinal eles serão (muitos, inclusive, já o são) os principais protagonistas de um futuro que já chegou. Mas também admiro o espírito resiliente dos seniores, que apesar de todo esse movimento contra o aproveitamento das suas habilidades, continuam buscando aprimoramento, novos aprendizados e conhecimentos para deixarem um legado positivo para as gerações futuras.
O fato é que muito ainda precisa ser feito para que se resolva essa questão, e esse “muito a ser feito” passa, principalmente, pela mudança de mentalidade de quem está à frente dos processos decisórios de contratação das empresas.
A natureza nos ensina a reciclar, para que possamos aproveitar de maneira diferente aquilo que foi descartado. Os seniores estão no processo de reciclagem já faz tempo, é preciso agora que as empresas passem a aproveitar dessa nova energia que vem dos profissionais seniores.
João Casarri Neto é economista, consultor de RH/TI, analista comportamental DISC, coach, mentor, treinador de líderes, e Practitioner PNL. Autor do livro “Os 5 Princípios da Resiliência”, é também criador do programa “Sou Líder, e Agora?” para ajudar líderes em início de carreira. É Embaixador de Inovação e Tecnologia da Associação Brasileira dos Profissionais de RH (HUBRH+ABPRH). Colunista EA “Geração 50+”.
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