Por Sonia Crisóstomo

 

Uns chamam de “la renuncia silenciosa”, ou em inglês “the quiet quitting”. Cansado de viver o momento de transição? Aguenta aí porque existe uma luz ao final do túnel, e não é o trem.

Em junho de 2021 escrevi um artigo que chamei de THE GREAT RESIGNATION, que era o momento em que as pessoas por desespero, medo, efeitos da pandemia etc, simplesmente deixavam seus trabalhos e iam empreender sem preparo, sem saber o que realmente queriam. Era como se fosse a única coisa a se fazer antes de executar um movimento final e trágico.

Mas em tempo de mudanças queiramos nós ou não, um ano e pouco, após aquele artigo, já estamos vivendo um outro momento, e haja historiador pra contar tudo isso, que está sendo chamado de renúncia silenciosa.

Mas o que é isso? Que mal ou bem faz aos funcionários? Que mal ou bem faz às empresas?

Como estamos vivendo o momento, e aqui o gerundismo é necessário pois é o que estamos fazENDO, estamos vivENDO esse momento, vamos analisar com compaixão o que está acontecENDO. Vejamos o que levou a isso:

No ano de 2021, médicos de hospitais portugueses pediram demissão em blocos por falta de condições de trabalho e falta de condições para atender os pacientes.

No Reino Unido, em 2021, se observou forte aumento de pedidos de despedimento e, segundo a BBC, um quinto da população pensava em renunciar. Mas é nesse momento que a realidade bate à porta. É um sentimento de: Me demiti, e agora?

Surge então a chamada renúncia silenciosa que vem a ser um freio ao estilo de vida americanizado onde somos forçados a acreditar que sempre podemos entregar mais. E realmente podemos, a questão é: a que custo.

Above and beyond

Através de treinamentos, mentorias, coaches, e “cases de sucesso” internalizamos que temos sempre que ir “above and beyond”. Mas não. Não somos super heróis por mais que em alguns momentos nos coloquemos em frente ao espelho, estufemos o peito, cerremos os pulsos e colocamos as mãos na cintura.

Sua mente imagina uma capa, um poder inimaginável “Para o Alto e Avante”. Isso é perfeito quando o que você está tentando atingir seja para seu bem-estar e felicidade e não aquilo que A ou B esperam que você seja. 

Se tua empresa exige de você 24/7, nem sendo super herói você vai conseguir.

Renunciar silenciosamente significa basicamente fazer somente o que se espera de nós enquanto funcionários: ou seja, se estamos contratados para trabalhar 40h semanais, é isso que temos a fazer. Terminou o expediente, terminou a obrigação com a empresa, sem o peso na consciência de que podia ter feito mais.

Mas, ter feito mais e mais e mais, não garante aos jovens a tão sonhada escalada financeira, o reconhecimento por parte da gerência e muito menos um bônus financeiro que o leve a condições mínimas de assumir o financiamento da casa própria, por exemplo.

E quando pensamos no custo que pagamos por tentar ir mais e mais, dar mais, competir mais, pagamos alguns preços: Começamos pelo custo do dinheiro:

Quanto custa o funcionário não engajado?

Segundo o relatório State of The Global Workplace, da Gallup, funcionários desengajados custam US$ 7,8 trilhões em perda de produtividade global. 

O custo emocional

Em janeiro de 2022 o site da CNN Portugal traz um dado alarmante, 1/5 dos jovens com idade até 34 anos já pensou, ou pior, tentou tirar a própria vida. E continua: 26% dos jovens portugueses tomam ou já tomaram antidepressivos. É mais que ¼ de uma população jovem e produtiva que está pagando um preço altíssimo pela cobrança de ser mais.

Junta-se a este elemento, uma vida de excessos, relações disfuncionais e amizades tóxicas e temos uma bomba prestes a explodir.

O custo do tempo

Vamos tomar como exemplo o jovem de 34 anos. Existe grande possibilidade de que este já tenha uma família formada, alguns até já tenham filhos. Nas empresas que levantam a bandeira de que fazendo mais você vai se destacar, ele rouba o tempo de qualidade com sua família, com seu amor, para se dedicar ao trabalho, trocando o ser por (tentar) ter.

O custo da saúde física

Já sabemos que a saúde emocional é balizadora da saúde física. Um indivíduo em constante processo de ansiedade, burnout, insônia, má alimentação, terá minimamente uma baixa em seu sistema imune. Há relatos de “úlceras emocionais”, alopecia, fibromialgia e doenças mais graves que se iniciam com processos de estresse prolongado.

Eu deixo um convite aos líderes de organizações, aos Recursos Humanos das empresas, e aos CHO para abrirem os olhos para esse movimento silencioso, mas que diz muito sobre as relações empregado-empresa. Chegamos ao bottleneck que nossa falta de empatia, a disseminação da competitividade não saudável e programas que não levam a nada gerou.

Ainda há tempo de recuperar a pessoa, e que fique muito claro, recuperar não significa fazer que o funcionário volte a ser 24/7. Falo sobre a relação com a empresa, falo sobre o funcionário que, estando em estado não litigioso com a empresa, possa produzir mais em um tempo que o permita, ao fazer o logoff em seu computador e, ainda ter forças para ser pai, mãe, amante, atleta, artista e um ser humano feliz.

Algumas empresas renunciaram silenciosamente suas relações com seu time durante décadas. Agora é chegado o momento de pagar o preço e tomar do mesmo remédio amargo.

E, dando a César o que é de Cesar, vamos aos dados relacionados a empresas que já iniciaram programas sérios de melhoria da qualidade do ambiente organizacional:

  • 37% aumento das vendas (Martin Seligman)
  • 44% maior retenção (Gallup)
  • 300% maior inovação (HBR)
  • 31% aumento de produtividade (Greenberg & Arawaka)

É bom lembrar que movimentos silentes e pacíficos mudam realidades. Já assistimos a esse filme em preto e branco quando, no século passado, a resistência não-violenta preconizada por Mahatma Ghandi logrou êxitos.

Apuremos nossos ouvidos para o que não é ouvido.

Fontes: https://portugues.medscape.com; Wholebeing Institute

 

 

sonia - La Renuncia Silenciosa

Sônia Crisóstomo é casada, mãe de duas filhas, apaixonada pela vida e pelo mar. Formada e pós-graduada em Ciências da Computação, MBA em Executive Marketing. Sócia do WholebeingInstitute e ETI Europe. Mais de 30 anos em empresas de Telecomunicações e Tecnologia da Informação. Diplomata Civil Humanitária, G100 Global AdvisorCouncilMember, Embaixadora Master do Clube Mulheres de Negócios de Portugal e Membro do Conselho Administrativo do Instituto Raiz Nova. Formada em Inteligência Emocional, Programação Neurolinguistica, Hipnoterapeuta com especialização em Hipnose Clínica. Formação Internacional em PSicologia Positiva. Colunista da Revista Mulher Africana e feliz escritora com 3 livros publicados. Colunista EA “Felicidade”.

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